Segredos do Pântano III - A Porta Fechada

La fora a chuva torrencial retornava. O som das águas banhando a folhagem era uma sinfonia molhada, até assustadora.

-É sempre assim?

Perguntou à velha.

-É,sempre é assim. Não vai poder ir embora enquanto chouver. O Pântano se torna uma armadilha mortal, quando chove. Os jacarés ficam agitados. A lama mais espessa e perigosa. Existem armadilhas naturais - areia movediça.

Pensou na possibilidade de repousas na cabana da velha. Viu num dos cantos da casa uma vassoura de cabo de madeira tosca e base de palha." Uma vassoura de bruxa?" Indagou para si, mesmo, rindo, um riso silencioso, de deboche.

Olhou para a porta fechada. Observou mais uma vez as trancas, todo o cuidado que havia ali.

- Tire os olhos daquela porta - ali está o meu maior tesouro - não lhe pertence, por favor.

- O que tem ali, velha. Dinheiro? Ouro?

A velha so riu.

- Dinheiro? Muitos ladrões fogem para ca. Trazem o dinheiro, aqui ficam. O dinheiro não retorna, e eles são devorados pelas aves de rapina e pelos jacarés.

Estava de barriga feita, pesado. A preguiça e o sono dominavam o seu corpo. Havia passado uma noite inteira de vigília. Repousaria.

- Velha, não tente aprontar uma comigo. Deitarei aqui no banco de madeira, na sala. Arrume-me um cobertor. Faz muito frio.

A velha o obedeceu, sem proferir uma única palavra. trouxe um cobertor de lã. deu-lhe um par de meias e lhe ofereceu um pijama.

- Você tem roupas masculinas, em casa, velha? Poderei ser surpreendido com a chegada de alguém? De quem são?

A velha nada lhe respondeu. Voltou para o seu quarto, entrou, trancou a porta do seu quarto.

Caveirão, então, aproveitou-se daquele momento oportuno, e foi até à porta do cômodo que ficava o tempo todo fechado. Colou os ouvidos na madeira, em busca de poder ouvir algo - nada ouviu de estranho. pegou nos cadeados e nas trancas.

- Reforçadas, droga.

A curiosidade lhe torturava. " O que havia dentro daquele cômodo para ter tanta proteção?" - Perguntava-se. Estava fugindo e não tinha um vintém, sequer. No mínimo, estava pensando de forma correta. A velha conhecia bem o pântano. Seria fácil para ela encontrar os cadáveres dos infelizes e se apropriar do fruto dos roubos.

Estava demasiado cansado para tentar algo. Precisava repousar. O seu corpo estava pesado, cansado, sonolento. Quando acordasse estaria decretado o fim da velha, e revelado o segredo daquele quarto fechado.

A chuva persistia, de forma torrencial. Era ensurdecedor a pancada da chuva na folhagem do pântano. O frio avassalador. A velha retornou á sala. Acendeu ás laparinas. A casa ficou tomada por uma luminosidade tênue, alaranjada. Ele a observava, batendo as pálpebras, estava caindo no sono, deitado no banco de madeira tosca. Era um ambiente de aparência de nuances da mais beleza artística. O corpo deitado no banco, iluminado pela luz das lamparinas. As paredes de madeira, o teto de palha, o chão coberto com um pobre tapete encardido. O silêncio absorveu o ambiente, a chuva cessou de repente. Ele adormeceu. As horas passaram. Quando abriu os olhos percebeu que ja era madrugada.

Ergueu o corpo dolorido da espreguiçadeira de madeira. Percebeu que o quarto da velha estava com a porta aberta.

- A velha não estava ali. Era o momento oportuno para o golpe. Abrir a porta e solucionar aquele mistério - saber o que havia por trás daquela porta. A ansiedade lhe tomava o ser. estava nervoso. "Como faria para abrir áquela porta pesada e resistentew' - Perguntava-se. Procurando pela casa, enfim, achou uma penca de chaves." So pode ser as chaves dos cadeados e da fechadura."

Nervoso, enfiava as chaves nos cadeados. Abriu alguns deles, tirava os cadeados e as trancas. Quando enfiava a última chave na fechadura da porta, a velha surge pela porta da frente da casa e lhe grita:

- Não, não abra essa porta, maldito. Como pode ser ingrato. Abriguei-te em minha casa, alimentei-te e é assim que retribui-me?

- Sua tola, eu sou um bandido, acha então que sou homem de agradecer a quem me faz o bem?

A velha se jogou na frente da porta, tentando impedir a invasão de sua privacidade, tentando proteger os seus pertences.

Caveirão esboçava uma reação violenta, insensível. Com uma expressão de ódio, pegou a pobre velha pelo pescoço e a jogou violentamente ao chão de madeira. De olho na velha, mais uma vez colocou a chave na fechadura e a girou. Ao abrir a porta nada enxergou, de imediato. O quarto era escuro - um breu absoluto.

- Não faça isso, feche essa porta...

Caveirão entrou no quarto. Precisava de luz. Retornou e pegou de uma lamparina. Retornou para o quarto. Após dar alguns passos, pareceu-lhe ter ouvido algo, um rosnar, como se fosse de cachorro, não deu importância, talvez, o cachorro da velha. Havia um armário. Abriu as portas, a iluminação fraca foi corrida por toda a extensão do seu interior. havia ali algumas sacolas, sacos. Abria-os com sofreguidão. havia ali anéis, colares, pulseiras e pedras preciosas.

- A maldita da velha guarda aqui um pequeno tesouro. Queria me enganar. Tendo habilidade na região, conhecendo-a bem, na certa, quando encontra os ladrões mortos, fica com o produto do roubo. deve ter dinheiro por aqui, muito dinheiro.

Continuava a procurar pelo quarto extenso. O piso era de madeira e corria um rio subterrâneo, podia ver o som das águas passando. Ouviu um vulto se mexer. Um rosnar de fera foi se aproximando. Um mau odor de fera selvagem lhe invadiu as narinas. Ficou nervoso - parecia a coisa estar à sua frente. Sacou da faca. Então, viu o par de olhos vermelhos brilhando logo á sua frente.

Ao erguer à lamparina , não deu tempo de ver mais nada. Um golpe certeiro na sua mão derrubou a lamparina. Então sentiu algo agarrá-lo. Um abraço de jibóia. Sentiu as suas carnes sendo rasgadas por garras. As suas vísceras saltavam para fora da barriga. Os gritos que soltava eram de alguém no pânico da morte. Os golpes era ferinos, rápidos. O sangue jorrava por todos os cantos. A lamparina caída ao chão não tinha apagado. Antes de morrer viu a fera que o atacou. Tinha uma cabeça enorme, com um único olho na testa. Os braços eram compridos, as mãos enormes, de unhas grandes. Os dentes pontiagudos, uma mandíbula proeminente, de fera. Tinha cascos no lugar dos pés.

- Um filho de bruxa...

Disse no seu último suspiro,enquanto era despedaçado vivo.

A porta foi fechada. A velha passava os cadeados e as trancas.

- Mais um que não suporta ver uma porta fechada e bem protegida. O meu tesourinho, por mais que eu tente alimentá-lo como uma pessoa normal, os figitivos insistem em querer saber do meu tesouro, e acabam virando comida dele.

Disse a velha, enquanto passava as trancas.

O Pântano é sombrio, perigoso. O pântano guarda muitos segredos, segredos perigosos. Muitos fugitivos, incautos, ousam invadí-lo. Temem os jacarés, assustam-se com a paisagem sinistra. O pântano é muito mais do que isso. O pântano é o inferno de lama, quem ali entra sem ser convidado, não volta. Muitos segredos, segredo perigosos...

Fim

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 12/11/2012
Reeditado em 15/11/2012
Código do texto: T3982574
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