Assassinos

O grito de pavor explodiu na noite chuvosa. A faca afiada desceu velozmente se enterrando no peito magro da anciã. Os olhos cansados, que testemunharam a morte do companheiro minutos antes, se encheram de lágrimas antes de exalar o último e assombrado suspiro. Os dois adolescentes abriram cautelosamente a porta, e foram direto para o quarto que compartilhavam. Trocaram a roupa molhada por velhos moletons e se enfiaram debaixo dos cobertores. Nenhuma palavra foi dita, apenas uma breve troca de olhar e um discreto sorriso. A mulher despertou no momento em que a televisão foi desligada. Imaginando se tratar do marido, que sempre implicava com ela por causa desse seu costume, sorriu e falou de forma sonolenta que não estava dormindo, apenas pensando. Esperou que o esposo a contradissesse como sempre fazia, mas como isso não aconteceu decidiu subir e dormir. A lâmpada da cabeceira estava acesa e ela notou que a cabeça do marido estava virada num ângulo estranho. Ao se aproximar da cama não conteve um grito de pavor. O homem tivera a garganta cortada e o sangue que jorrava do ferimento formara uma poça na cerâmica clara. O primeiro pensamento que lhe ocorreu foi buscar ajuda na casa dos vizinhos mais próximos, mas ao começar a descer as escadas deparou com duas pessoas conhecidas. Com a voz entrecortada ela começou a contar o ocorrido, mas se calou no momento em que percebeu o machado e a faca afiada ainda pingando sangue, nas mãos daquelas pessoas que ela conhecia tão bem. Por instinto a mulher tentou alcançar o último degrau e correr de volta ao quarto. O machado a atingiu fortemente na nuca, e seu corpo despencou escada abaixo já sem vida. O assoalho rangeu na hora em que os garotos retornaram ao quarto. Trocaram de roupa em silencio e se prepararam para dormir. Não seria nada bom se fossem encontrados acordados. O velho pastor alemão primeiro latiu de forma feroz e em seguida ganiu dolorosamente. Despertado pelo barulho do cachorro, o dono apanhou uma velha espingarda e foi até o quintal para ver oque estava acontecendo. Uma paulada o derrubou de barriga para baixo e em seguida mãos o viraram bruscamente para que ele visualizasse seus algozes. Um lamento de reconhecimento foi tudo oque conseguiu fazer ,antes que a faca transpassasse seu corpo. A garota e o irmão já estavam deitados e fingiam dormir quando os pais entraram . A mãe se aproximou e beijou com carinho a testa dos filhos, em seguida o casal foi ao banheiro tirar as roupas sujas de sangue e se lavar. No quarto os jovens nada falaram, mas sentiram mais uma vez o peso do segredo que compartilhavam. Se seus pais descobrissem que eram testemunhas de tantos crimes cometidos, não hesitariam em fechar-lhes a boca para sempre.