Segredos do Pântano A Porta Fechada - parte II

A busca por uma área de terra firme continuava. Temia estar perdido, e a fuga ter sido em vão. Perecer em meio àquela região inóspita, de má fama. Para o seu espanto, e aumento da tensão, encotra um esqueleto humano. Uma morte recente, algumas feras ainda o degustavam. Os jacarés e as aves carniceiras disputavam cada parte da carne em putrefação. "Seria aquele o seud estino?" - Indagava-se. O ferimento de raspão, apenas queimou o uniforme da prisão, uma ferida sem maiores problemas. Não sangrava muito.

O coração não era mais o de batidas compassadas, estava agitado no seu tórax, a proximidade com a morte parecia evidente, uma fatalidade que se desenhava. " O que fazer? Retronar, retornar, como, para onde? " Ja se sentia completamente perdido. Para onde olhasse desenhava-se à sua frente um mundaréu de água escura. Árvores de aspecto sinistro, desprovida de quaisquer beleza. A umidade por entre as folhagens lhe causava total desconforto. Porém, seguia, seguia sem destino.

- Peste, daria a minha alma ao Capeta, caso pudesse encontrar um caminho à seguir.

Proferiu, de coração, com fúria. E, parece, que acontecem duas coisas na vida de um homem: quando ora, fala com Deus, e este responde. Quando clama pelo Capeta, o mesmo se sucede. Percebeu que o volume das águas estava a cada passada sua se tornando menos volumosa. Menor , até que eram meras poças, onde a vegetação rasteira se sobressaia. A vegetação que se apresentava á sua frente mudara de aspecto. Estava, parecia, numa pequena floresta que interligava-se com o pãntano. As árvores tinham caules frondosos, de copas verdes e robustas. Ouviam-se pássaros cantando. O céu estava azul, brancas nuvesn passavam.

- Obrigado, Senhor das Trevas, parece que me indica o caminho.

Disse, assim. Rindo. O corpo exausto, estava faminto. As roupas em fragalhos, molhadas e sujas.

Seguiu por dentro da pequena floresta, até que avistou um caminho, por entre a folhagem, curto, em meio à vegetação. Dava para passar apenas uma pessoa.

O seu coração sentiu o maior dos alívios quando avistou a pequena casa de madeira, a chaminé soltava uma fumaça escura. Havia um ancouradouro, com um pequeno barco à remo. Aproximou-se com cuidado. Então, avistou uma velha de cabelos brancos, vestida de preto. Parecia ter mais de sessenta anos de idade, porém, se deslocava com desenvoltura. A velha pegou algumas toras de lenha, logo retornou para o interior da casa.

Ele, de forma sorrateira se aproximou da lateral da casa, e por uma janela observou o seu interior. Pensou em roubar o barco e seguir pelo rio - contudo, não precisava ter pressa." Talvez, pudesse fazer uma farta refeição, em seguida matar a velha e roubar o barco." Pensou. Não gostava de deixar testemunhas nas suas ações criminosas. " A guarda do presídio poderá continuar à caçada, chegar até aqui, a velha poderá me denunciar."

Entrou na casa, empurrando a porta com força.

- Quem é você? O que quer? Espere, esse não é o uniforme da prisão?

Indagou a velha, sem demonstrar espanto. Estava acostumada com tais invasores.

- Vovó fique na sua. Sou um fugitivo, sim. Estou faminto,ferido e cansado. Não tente ser espertinha, comigo. Poderei matá-la. O barco, quero o barco. Seguindo com ele rio á cima, onde chegarei?

A velha deu uma risada debochada.

- De volta para o pântano.

- Não brinque comigo, há de se ter uma maneira de se voltar á civilização. Tem o barco por que ele deve ter alguma utilidade para você.

- Eu o uso no tempo da cheia. No inverno se torna inviável andar pela mata, até por aqui fica alagado. Raramente saio do pântano. Encontrei esta ilha de floresta, aqui me abrigo. Não posso viver na cidade, eles não me aceitam como eu sou. Aqui tenho tudo o que preciso para viver. caso adoeça,faço unguetos ou chás com o mato que cura. Para comer, caço de arapuca, pesco e planto. À noite me recolho cedo. Raramente recebo alguma visita, quando as recebo são indesejáveis, como você.

- Velha apronte algo, estou faminto.

- Não percebe que a panela está no fogo, não lhe negarei um prato de comida.

Caveirão se apossou de uma das facas de cozinha, a maior que ali tinha. Correu as vistas pelos quatro cantos da casa. Viu uma porta fechada, além do quarto da velha que estava de porta aberta - uma cama simples, um tronco de árvore, de criado- mudo.

- Aquela pora fechada, é o banheiro?

- Não, o banheiro fica nos fundos.

- É um outro quarto?

- Não.

Alguns segundos de silêncio. A velha preparava à refeição. Ele estava sentado na mesa de madeira rústica. A faca numa das mãos, fazia pequenos furos na madeira da mesa, de forma displicente.

- O que tem dentro daquele cômodo?

- Olha, moço, a curiosidade matou o gato. Podemos fazer um trato. Eu te darei abrigo, comida e o barco - até poderei te levar até onde sei ir, para que depois possa encontrar o caminho de volta a algum lugarejo. Posso te pedir um favor: esqueça este quarto, não lhe diz respeito.

- Ta bom.

respondeu-lhe, é claro que não estava sendo sincero. A velha continuou com o seu discurso, enquanto mexia com uma colher de pau o cozido, que cheirava bem, dando água na boca do malfeitor.

- O pântano tem muitos segredos. O pântano é bom para quem sabe ser bom nele. Muitas vezes, buscamos satisfações em nossas necessidades maléficas, e acabamos encontrando o destino que merecemos. sei quem você é, sinto à sua áurea. Ela é negra como as águas do pãntano. Mata por necessidade orgânica. Quantas vezes podia ter roubado, mas matou sem ter por que. E, quantos parceiros, por ganância na partilha dos roubos, executou-os impiedosamente. Eu sei das coisas.

Ele nada lhe disse. Não compreendeu ás observações da velha, como adivinhação, ou fruto de bruxaria. Ele era um criminoso conhecido, e ficaria muito fácil para qualquer pessoa saber de suas açoes - ou saber, quem ele era.

Mais uma idéia lhe passou pela cabeça criminosa. " Algo de valor, ela deve ter neste quarto fechado."

Sim, ele observou as trancas reforçadas. A madeira era de lei, grossa.

" Mato a velha e roubo o que tem ali dentro."

mais idéias foram, de forma incessante surgindo em seus pensamentos, como uma nuvem negra à pairar na sua consciência.

" Muitos ladrões adentram pelo pântano com o fruto dos seus roubos. teve até um caso recente de um ladrão que roubou um rico comerciante, e adentrou pelo pântano com um alforge, com vultosa quantida em dinheiro. Na certa, era o cadáver que o encontrei pelo caminho sendo devorado pelos carniceiros."

A comida soltava um cheiro agradável, aumentando o seu apetite-chegar salivar. A velha, em silêncio tirava as panelas do fogo. O cozido era feito num grande caldeirão. As carnes em frigideiras gigantes.

- Mas, mentiu para mim quando disse que mora aqui sozinha, e que este local é deserto?

Falou, de forma agressiva e apontando a faca para a garganta da velha. A velha nada lhe disse.

- Fez comida para mais de dez pessoas velhas...

A velha permaneceu em silêncio, parecia aguardar o fatídico.

- Eu cozinho para vários dias, e estou para receber algumas amigas, talvez, amanhã. Tenho um ungueto para poder cicatrizar a sua ferida e disfarçar o cheiro de sangue. Não é coisa boa ter um ferimento correndo sangue por aqui.

- Não tente me enganar, não poderia cozinhar no dia da visita?

- Não. Neste dia fazemos os nossos rituais. Não temos tempo.

- Uma convenção de bruxas, seria? Estar tentando me intimidar, insuando que é uma bruxa, de verdade?

Indagou, soltando sonora gargalhada. Então, passou a comer, com gula. parecia um animal se alimentando. Soltava sonoro ruído ao mastigar, a boca e o peito sujo de óleo. Não tirava os olhos do quarto.

- Eu quero saber o que tem naquele quarto. Vejo que é bem protegida a porta. Abra os cadeados. Sendo o dinheiro e ouro dos roubos dos criminosos que aqui entram e perecem, vai ser meu, velha.

- Esqueça a maldita porta, por favor. Mesmo que fosso um tesouro, seria o meu tesouro não lhe pertence. Estou lhe salvando a vida, lhe dou o que comer, poderá repousar e ir. pronto, o ungueto cobre o ferimento.

Deduzindo que a velha não oferecia perigo, ou resistência alguma. Continuou á comer. Não a mataria, por enquanto, precisaria da mesma para poder sair dali. O plano estava urdido, com calma, paciência.

( Continua)

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 11/11/2012
Reeditado em 15/11/2012
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