O MISTÉRIO DAS TREZE ALMAS

Ela estava cordada, embora não conseguisse se mexer, era com se algo a prendesse, pernas e braços, algum tipo de peso que a impedia de se mexer, tinha vontade de gritar, falar, mas, tudo era inútil, por mais que lutasse estava imóvel, seu corpo não obedecia a seus comandos, e tudo piorou quando começou a perder o folego, como se alguém estivesse lhe tirando o ar com as mãos. Katarina se debatia, mas, seu corpo em nada respondia, talvez fosse o apelo de sua alma, estava com medo, suando frio, medo do que poderia vir a seguir "Meu Deus, será que vou morrer?", a falta de ar estava ficando ainda mais forte, e por mais que lutasse era em vão. Em poucos segundos mas com a sensação de horas ela consegue se sentar na cama com a respiração ofegante. Estava molhada de suor, seus músculos doíam como se tivesse feito horas de algum exercício físico. Essa experiência não é a primeira vez que Katarina tinha, porém, começaram a ficar mais frequentes de alguns meses pra cá.

Ela pega o terço que estava no criado mudo e começa a rezar em seus pensamentos, tentando afastar o mal, o medo, os espíritos, os demônios, as entidades, qualquer que fosse aquilo que a impedia de ter uma boa noite de sono. Mas a sensação de que estava sendo observada a atormentava. Queria lavar o rosto, para assim poder descansar e tentar dormir novamente, mas, era ainda mais assustador em pensar de sair da cama e ir até o banheiro. Após minutos rezando, pensando e se torturando ela decidiu ir até o banheiro.

Ao sair do seu quarto e ver aquele pequeno corredor escuro, seu medo crescia ainda mais, quando estava na metade do corredor, pensou em voltar pra trás, porém, tomou coragem e seguiu em frente.

Ao lavar o rosto pode contempla lo diante ao espelho, estava pálida e aparência de ter mais que sua idade de vinte e nove anos. Alguns tempo atrás, era bonita e atraente, mas, tudo mudou depois de que seu pai veio a falecer. As coisas ficaram difíceis. Manter a casa com todas as suas despesas não estava sendo tarefa fácil, por muitas vezes, Katarina pensou em tirar a sua vida com as suas próprias mãos, mas, era covarde demais para executar esse desejo.

Após alguns minutos de reflexão diante do espelho percebeu que estava mais calma e o medo já havia diminuído, mas, essa sensação permaneceu por pouco tempo. Ela pode ver vultos passando pelo corredor, indo em direção ao seu quarto, Katarina se põe a chorar, já não aguentava mais aquela situação, aquela tortura. "Pai por que você não me levou junto com o senhor? Eu não aguento mais isso tudo. Estou com medo, eu que deveria ter morrido em seu lugar." Os pensamentos de Katarina se voltaram para o dia em que ela e seu pai sofreram um acidente, ela conseguiu sair do carro, e infelizmente seu pai não teve a mesma sorte. Ela presenciou o carro pegar fogo e ouvir a voz desesperadora de seu pai pedindo por socorro, mas, o que a deixou mais traumatizada foi quando ela o ouviu gritando:

-Eles estão vindo. Estão querendo a minha alma. Deixem-me em paz seus malditos.

Seu pai sempre mexeu com magia negra, ela nunca tinha acreditado em coisas sobrenaturais, até começar a vivenciar essa experiências durante algumas noites. Ela se lembrou de que seu pai tinha um diário guardado, e que continha algumas anotações sobre coisas espirituais. Mesmo com medo, ela decidiu ir até o quarto de seu pai e ler o diário. Com o passar das paginas ela pode ler;

" Sim, eu vendi a minha alma, e neguei o sacrifício de Jesus na cruz. A minha alma e vida esta nas mãos do senhor das trevas, e para demonstrar tamanha devoção e fidelidade, ofereci e entreguei a alma da minha amada filha Katarina. Sei que posso não ter feito a melhor escolha, mas, pela situação que estava vivendo, não podia perder os meus negócios. Sei que em breve eles virão buscar a minha alma, e terei que ficar alerta aos sinais que eles me mandarem, para que assim eu prepare a minha partida. Só espero que minha filha possa me perdoar por envolve-la no meu fracasso. "

Aquilo tudo era loucura, as lagrimas corriam pelo rosto de Katarina. Como seu amado e carinhoso pai poderia ter feito tudo isso? Por ganancia talvez? Ela não conseguia acreditar no que estava lendo, mas, era a letra do seu amado pai, a letra do homem em que ela admirou durante toda sua vida, a letra daquele que a deixou sozinho e sem chão depois que partiu.

Ela fecha o diário e se deita no chão do quarto em lagrimas, e adormeceu. Quando acordou estava com uma dor de cabeça insuportável, com os olhos inchados e a luz do sol já iluminava todo o canto daquele cômodo. Era como se tudo que passou na madrugada não passasse de um sonho ruim, mas, percebeu que era tudo realidade quando viu o diário ali jogado no chão. Ela pega o diário e guarda em sua bolsa, estudaria melhor tudo aquilo no seu trabalho.

Quando chegou ao prédio de seu escritório ela parou diante dele e leu a placa que dizia edifício Joelma, Katarina sente um arrepio quando leu o nome e do que leu na madrugada, sobre o que seu pai havia escrito, sobre os sinais de que as entidades malignas viriam buscar a sua alma, dariam sinais de que breve isso aconteceria, e temeu não ver mais a luz do dia.

Ao entrar no escritório olhou em seu computador e viu a data 1 de fevereiro de 1974, uma sexta feira, após aquele dia, iria a alguma igreja, para entender melhor sobre tudo aquilo e talvez se livra daquele mal, que poderia esta perseguindo a. Mas foi por volta das 08:54 da manhã que ouve um curto-circuito em um aparelho de ar condicionado no 12° andar deu início a um incêndio que rapidamente se espalhou pelos demais pavimentos .As salas e escritórios no Joelma eram configurados por divisórias, com móveis de madeira, pisos acarpetados, cortinas de tecido e forros internos de fibra sintética, condição que muito contribuiu para o alastramento incontrolável das chamas.

Quinze minutos após o curto-circuito era impossível descer as escadas que, localizadas no centro dos pavimentos, não tardaram a serem bloqueadas pelo fogo e fumaça. Katarina desesperada, pega a sua bolsa e entrar no elevador na tentava de conseguir sair, já que através das escadas estava impossível. Dentro do elevador tinham mais doze pessoas, todas com a mesma cara de aflição e desespero. Quando o elevador estava descendo o calor aumentavam dentro daquele espaço de metal, já estava ficando insuportável ficar ali dentro. Eles tentaram parar o elevador mas foi inútil, ele continuava a descer aumentando ainda mais o calor, estava difícil de respirar, Kataria começou a perceber que era a mesma sensação de que passou na madrugada, porem, agora seu corpo estava bem vivo, e o suor já não era apenas de medo, mas, também pelo calor que aumentava a medida que o elevador descia.

Era como se estivesse sendo cozida, seu órgãos estavam começando a parar, ela sabia que iria morrer, todos ali gritavam, pedindo socorro, implorando pelas suas vidas, Katarina não, era como se estivesse esperando esse dia, quando estava prestes a fechar os olhos ela viu umas criaturas se aproximando, e teve a certeza de que era a mesma de que seu pai tinha visto, eles a puxavam para fora do seu corpo e então, Katarina fecha os olhos e se entrega a escuridão que a esperava.

Mesmo em meio a escuridão e tortura, ela ainda pode ouvir as vozes das outras doze pessoas que partiram também, e o único momento que eles conseguem ter paz, é quando alguém lhes dão agua para beber. É o único conforto que Katarina e seus doze amigos encontram.

Wagner Barboza Sanchez
Enviado por Wagner Barboza Sanchez em 11/11/2012
Reeditado em 12/11/2012
Código do texto: T3980119
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.