A luz

- Essa noite não conseguimos dormir lá em casa. Fez muito barulho no telhado. A noite toda.

............

- E as luzes? Vocês viram as luzes na noite passada ?

.........

- Sim, nós vimos sim, está cada vez pior, acho que vamos nos mudar....

- Bem, nós vamos ficar. Até já nos acostumamos.

Esse era o Diálogo que sempre ouvia qundo era criança, entre meus pais e alguns vizinhos.

Mas como crianças, tínhamos o sono pesado e nunca ouvíamos nada.

O tempo passou, alguns vizinhos se mudaram e minha família ficou lá.

Até então eu nunca ouvira nada e muito menos vira alguma luz.

Pelo menos até aquela noite.

Eu já estava com 16 anos e morávamos na mesma casa, era uma espécie de chácara, onde haviam várias casas, mas a maioria estava vazia, pois as pessoas tinham medo de morar lá. Diziam que era um lugar assombrado.

Às vezes ficávamos até tarde da noite sentados na varanda conversando e contando causos.

Certa noite, meu pai que já era um senhor bem idoso, pediu para que entrássemos, que não era bom ficarmos fora até tarde. Disse que poderíamos ver coisas que não eram boas.

Isso é claro que aumentou mais nossa curiosidade e ficamos até mais tarde.

No fundo da chácara havia um grande tronco cortado de um ipê que fora um dia uma árvore enorme.

Já passava da meia noite e estávcamos ali fora quando de repente tívemos nossa atenção voltada para o tal tronco. Uma grande luz se formava sobre ele e foi subindo como uma nuvem de fogo e se movendo lentamente até chegar e parar sobre o telhado de uma das casas da chácara.

Uma das poucas casas que estava sendo habitada.

Eu e meus amigos nos olhamos, mas estávamos apavorados demais para comentar alguma coisa.

A luz foi se esparramando sobre a casa até tomar conta dela e se infiltrar pelo telhado.

Após isso, alguns sons estranhos e assustadores passaram a ser ouvidos por todos nós.

Os sons eram abafados, mas pareciam rezas, conjurações e encantamentos.

Risos e algumas vezes umas vozes guturais. Pancadas nas paredes.

Todo esse barulho durou aproximadamente uns 20 minutos.

Após isso a luz novamente se formou sobre a casa, como se fosse saindo pelas frestas das telhas.

E foi se dirigindo lentamente em direção ao velho tronco. Às vezes a luz parava e ficava alguns segundos, como se soubesse que estava sendo observada por nós.

Quando estava pousada bem sobre o tronco foi sumindo lentamente como se fosse uma névoa.

Sentimos um vento gelado passando por cada um de nós e nos lembramos do que meu pai havia dito e fomos todos apavorados para dentro de nossas casas.

Na manhã seguinte comentei com meu pai sobre o ocorrido.

Ele não se mostrou surpreso, como se já estivesse acostumado com esses eventos noturnos.

Só disse para não abusarmos e que o a pessoa que vivia naquela casa, sobre a qual a luz se derramou era praticamente surda.

Mas que ele já estava acostunado com os sons e com a tal luz.

Mas que não tinha uma explicação para me dar.

Sabia somente que a luz habitava aquele lugar e junto com a luz, alguns seres que com certeza não eram do bem.

E eu e meus amigos nunca mais ficamos até tarde da noite na varanda das casas.

Mas a lembrança da cena e o som que ouvimos ficou gravado em nossas mentes.

Até hoje.

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 08/11/2012
Reeditado em 09/08/2013
Código do texto: T3975938
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.