CARTAS VAMPIRESCAS (1ª Temp.) 3ª Carta
Londres, 7 de Novembro de 1808.
Querida irmã,
Não temas. O caçador não irá lhe representar nenhum perigo. Ele ignora a existência de uma irmã. E também não temas por mim. Arthur não sabe onde estou. Logo se torna impossível ele me caçar.
Deixemos estes assuntos desagradáveis e demos lugar a coisas boas. Acho que estou apaixonado!Como? Tu deves estar se perguntando. Fora amor repentino e arrebatador. Tudo se sucedera da seguinte forma:
Vosso irmão fora convidado a um banquete em homenagem a rainha aqui da Inglaterra. Fui com um par de amigos que aqui fiz. Ainda não os transformei... Pelo menos, não por enquanto... Chegando ao castelo, deparo-me com ela. A grande felizarda que me aprisionara o coração com aqueles olhos violetas. Chama-se Ginevive. Fiquei, a saber, de seu nome assim que dançamos juntos.
Assim que meus olhos viram tão bela criatura, eles não conseguiram enxergar mais nada. Era como se fosse que só houvesse eu e ela naquele enorme salão. As outras pessoas eram-me indiferentes.
Tive que fingir que comia algo durante o jantar. A única coisa que comi fora a carne de pato que estava má passada. Sanguinolenta. Trincava meus dentes no alimento quando, me apercebo de que Genevive estava do outro lado da mesa, perto da rainha. Tiravas os cabelos cacheados cor de abóbora de seu pescoço alvo e delicado. Aquele ser parecia uma verdadeira escultura!Além de que exalava um doce perfume de dama-da-noite sensacional.
Passei o resto da noite a observá-la. Dado momento houve, em que todos os convivas foram convidados a bailar. Dancei um pouco, mas sem tirar os olhos dela. A música que dançávamos era: “As quatro estações” de Vivaldi. Meu corpo parecia um imã. Atraía as mulheres que estavam em meu raio. Dancei com umas e recusei outras, pois só tinha olhos pra ela.
Quando a orquestra estava prestes a encerrar o concerto. Ginevive se aproxima de mim. E eu num movimento sagaz, a enlaço pela cintura.
Se de longe era bela, de perto não tinha palavras para descrevê-la. Era uma verdadeira beldade. Olhos amendoados de veado; nariz fino e reto, delicadíssimo como se houvesse sido cinzelado por Michelangelo; lábios grossos e frescos como um botão de rosa recém aflorado.
Ginevive não tirava os olhos de mim. A hipnotizara, como uma naja a um camundongo. Pergunto por seu nome, pois até então o desconhecia:
-- Qual seu nome?
--Ginevive. —responde-me com aquela voz doce de soprano. Bailava muito bem. Era como se dançássemos no céu. Ia perguntar-lhe mais coisas, contudo, a música encerra-se e como num passe de mágica, acorda de seu transe, deixando-me a ver naus.
Como podes perceber ando sofrendo de apaixonite, mal este que em séculos jamais, em séculos, me afligira. Despeço-me desta missiva com o coração frigido (agora acalentado) e cheio de saudades.
Do seu apaixonadíssimo irmão,
Lorde Julian.