O Lobisomem de Feira de Santana

Havia na minha infância uma menina que fazia todas as minhas vontades.Não sei se ela gostava de mim, eu so a explorava, de forma impiedosa. Eu sabia que não gostava dela, queria apenas explorá-la. Larguei-a em Feira de Santana, pois, estava indo morar em Salvador para estudar, e futuramente trabalhar. Ainda adolescente, ja desenhava e ja ganhava dinheiro. Publicava histórias de terror em algumas revistas de outros estados, principalmente, São paulo, Rio e Curitiba.

Lembro-me de algumas explorações minhas, com relação àquele amor de menina - ela era bonita, não sei o por quê de desprezá-la, sinceramente, eu não sei. Presumo, que sempre fui de gostar de coisas difíceis, no meu primário, era a menina que mais me odiava, desprezava, que se tornava objeto de minha cobiça e conquista. E, assim, eram os meus amigos - o mais metido, o que mais me odiava, era o que eu escolhia para ser o melhor amigo. As meninas eu conquistava com os meus desenhos, elas adoravam desenhos de meninas-bonecas, corações e de bichinhos. Jogando bola, eu ficava popular, pois, era bom de bola - o inimigo, logo virava parceiro de baba, de tabela. Tive alguns amigos assim, o nosso baba era o melhor, quando estávamos de mesmo lado, imbatíveis.

Quando fiquei sabendo de algumas mortes estranhas em Feira de Santana, pensei em viajar de volta para la, em busca de subsídios para os meus contos de terror. Talvez, possa incorporar fatos ao meu conto O Psicopata, pensei. Peguei um ônibus e voltei á cidade, onde fui criança. Ali, tive várias namoradas, mas, por incrível que pareça, a que havia ficado na memória foi aquela doce menina, a que fazia todas as minhas vontades. Ela era doce,angelical,branda.

Momento na lembrança, de mais uma exploração:

- Eu gosto de doce de batata, vocês sabe onde tem?

- A minha avó faz, Leo.Uma delícia,vai gostar.

Ela, coitada, respondeu com a sua peculiar inocência, era tão linda por isso, pela sua ingenuídade. Eu, o malicioso, o canalha. Ah, mas eu era tão lindo(KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK), podia explorar ás meninas. Perto de minha casa tinha um bequinho, que dava para outra rua, caso entrasse belo beco, sairia no quintal de minha casa, encurtaria muito caminho, eu pulava o muro do quintal de minha casa, e pronto, encurtava o caminho. Ali, havia sempre uma armadilha para mim. Era uma morena alta, bonita, de seios bonitos e duros. os cabelos negro, olhos amendoados e lábios carnudos, grandes. Acho que ela, ou ouvia a minha voz, ou me via pela janela. Quando eu estava no meio do beco, era agarrado, beijado, mordido - ah, era um terror para mim - ficava envergonhado com uma mulher grande me agarrando todo. Quando ela, enfim, me soltava, para não ser surpreendida pelos parentes, ou vizinhos, eu saia correndo e pulava o muro de minha casa. O coração em disparada, e uma sensação estranha ficava no meu ser. Muitas vezes, quando a via saia correndo para casa(KKKKKKKKKKKK).A morena era um mau exemplo de mulher-e como era bonita-de bundão,seios fartos,duros.Lábios carnudos.

- Você poderia ir, agora na casa de sua avó buscar o doce para mim?

- É longe Leo, na praça da Matriz. Preguiça...

- Eu queria...vontade daquelas-babando.

- Mas, é longe, so vou la ao sábado com minha mãe.

- Ah, eu queria. Babando de vontade..

- Ta bom, ta bom, olha so, eu tenho uma idéia. Vou pegar a bicicleta escondida do meu irmão e ter trago um frasco de doce.

- Liga pra ela pra ver se ela fez, não quero que me deixe de água na boca e volte sem nada.(Que canalha que eu era).

Como eu fui safado, e por tão pouco, um doce de batata, o meu predileto. Ela foi, coitada, imagina a suadeira, e poderia ser atropelada. Eu a vi passar correndo de bicicleta,por entre os carros.

A avó iria reclamar, ligar para a mãe, dizer que ela estava la, sem ter tido a sua autorização. Iria até apanhar, coitada. O que mais importava para mim, era ter o maldito doce de batata, e so.

Ela trouxe o doce. Mas, era esperta. Inventou que a mãe que pediu, por enquanto o castigo estaria um pouco adiado,até a mãe descobrir o seu feito. Ela apanhou foi do irmão. Este a pegou pelos cabelos, a esmurrou pelas costas. A pobrezinha chorava e gritava. Eu, de cima do muro comia o doce delicioso e via a briga dos dois, no quintal da casa deles, que dava para o meu . Hum, delícia,o doce de batata.

- Ele me bateu, Leo, por causa da bicicleta. Tava gostoso o doce?

- Huummm, uma delícia.Queria mais. Eu vi ele te espancando,uma pena.Caso pudesse te socorreria e o esmurraria.

- Nem invente, eu não vou mais la... Depois minha mãe descobriu tudo, apanhei de novo e fiquei de castigo. Trancou a minha Barbie no quarto dela, estou sem ver a minha boneca predileta.

- Ah, esquece, um dia eu me caso com você. Esquecerá a boneca.

Quando disse assim, ela ficou corada e correu para dentro da casa dela. Ri. Coitadinha, era tão tímida. Ficou me olhando pela janela, quando eu a observava, escondia metade do rosto. O olhar dela parecia dizer: " ele ta mentindo, era tudo o que eu queria."

Uma vez fiz ela trocar a minha farda da escola com a do irmão dela, estudávamos na mesma escola - a minha farda estava suja, tinha jogado bola com a farda. O irmão apanhou, a mãe achou que ele a tinha emporcalhado.

- Foi a nossa vingança, por ele ter te batido nela na semana passada.

Ela gostou, mas não acreditou muito, sabia que o maior objetivo foi conseguir a farda dele. Desta vez falei a verdade-foi uma vingança,sim-com certo proveito,é claro.

Ela era assim,muito dada, submissa ás minhas vontades. Morta de amores por mim. Eu sempre namorava ás suas amiguinhas - ela dizia me odiar, passava a odiar a amiga, acabava a amizade. Eu ria, so. Era divertido. Como pode uma pessoa gostar tanto de outra assim?

Voltei à cidade de pois de longos anos. Tudo estava tão mudado. Ruas ficaram diferentes, antigos sobrados desapareceram, para minha tristeza, adoro os sobrados antigos - eles são os charme da cidade, com os seus janelões na frente e nas laterais, um sótão no teto, ou no subsolo. O telhado suspenso mo estilo oriental.Meio Barroco,meio Rococó...

Fiquei emocionado ao andar pelas ruas, onde fui criança - o beco onde era agarrado estava lá, incólume. Entrei por ele, e ali senti um arrepio. Avistei à mulher que me agarrava. Estava uma senhora, de cabelos brancos, porém, conservava a beleza física. Sai correndo quando ela olhou para mim .KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK. Incrível, como algumas coisas não mudam em nossa cabeça. Acho que ela não me reconheceu, achou até que tinha sido um estranho que errou de caminho. A bunda continuava grande,coxas grosas,seios fartos e pareciam duros.Os lábios grossos,sedentos.

Muitos dos que conheci quando crianças, que eram adultos, tinham morrido - até o pai da que me agarrava. O meu tio de consideração sr. Silva, morreu. Uma senhora que era muito linda, morena, tinha morrido, assim que tinha viajado, tinha quase trinta, AVC. Os pais de alguns amigos de infância, mortos, todos mortos. O pai de Wolney, morto. Alguns amigos, de baba,fizeram carreira no crime, quando adolescentes, morreram, outros presos. Vivem fora e dentro do presídio regional - uma pena. Como o tempo escreve a nossa vida.A infância, a adolescência.Os retratos da vida.Muitas saudades e o sentimento de que era feliz e se quer,sabia.Os idosos mortos.Alguns amigos se perderam na vida.Muitos mortos-nossa,o filme da minha vida parece que ja passou da metade de exibição da película.

Tratei de aproveitar, e muito aquela minha visita á cidade onde fui criança. Joguei bola, nadei no rio, cacei no mato, estudei na escola Erasmo Braga, um ensino nota dez, professores maravilhosos - eram todos da igreja Presbiteriana do Brasil - ensinar e formar o homem de bem.Saudades, muitas saudades. As professoras-algumas ja falecidas.

Levado pela intuíção foi que cheguei á rua onde morei, pois, a cidade mudou muito, apesar de alguns lugares terem ficado parado no tempo. Saí andando, quando dei por mim, estava a poucos metros de minha antiga casa - que não existe mais na fachada original. Vi algumas pessoas do passado - alguns estão tão velhos, que para mim foi impactante ter visto pessoas que vi robustas nos seus trintas anos estarem com tantas rugas e de porte físico decadente, o tempo é cruel. Onde eu jogava bola, e ali, onde Júnior Baiano, também jogou, o campo da Estação Nova não existe mais, um conjunto de prédios o tomou, de assalto. É muito emocionante visitar os locais por onde passamos, vivemos, quando criança - e, sentí-los sendo devorados pelo tempo, voraz. Sentimos na pele que a vida é passageira, e tudo pode mudar.

A praça da Matriz, ostenta ali uma igreja. Adorava ir á praça. Ali as pessoas iam com os pais para comerem pipoca e tomarem sorvete. Crianças e casais de enamorados. Muitas vezes, fugindo do tédio, ficava horas sentado num dos bancos vendo as pessoas. Namorei ali, também. Marcava com uma loira linda, quinze anos mais velha do que eu. Eu, adolescente, ela mulher feita.

A praça está abandonada, suja. Estive durante o dia e á noite. Uma lástima, escura, deserta e habitada por prostitutas, mendigos, ladrões que atacam as mulheres, estudantes. Os consumidores de crack tomam toda a área. A praça da Matriz fica próximo de um dos mais populares cemitérios da cidade. O que antes era local de passeio para ás famílias, hoje era so decadência, até assassinatos ja tinham acontecido ali.

Teimoso, antes de ir embora fui à praça, era domingo. Queria relembrar os velhos tempos, onde ia ali para ter o famoso doce de batata da menina de maças de rostos vermelhos, a minha vizinha. Eu sabia que ela estava na casa da avó, junto com á mãe. Iam para á missa do domingo. Eu me sentava num dos bancos, entre às árvores frondosas, ficava de olho na igreja - de aspecto sinistro, estilo meio gótico, cercada por árvores. Então, ela dava uma fugidinha, quando a avó e a mãe iam pegar a hòstia. Entrava na casa da avó correndo e me trazia um pote de doce de batata. Vinha correndo com um sorriso na face de menina, sabendo que estava me agradando,e muito.

- Um dia, vamos nos casar nesta igreja.

Ela me olhava com lágrimas nos olhos, pois sabia que eu estava mentindo - so queria o doce de batata. Que tremendo canalha interesseiro.

Eu admirava a sua obstinação por mim. Todos na sua família e na minha diziam que iríamos nos casar, um dia. Até os nossos professores. Ela levava a sua merenda e a minha, em troca, eu lhe ensinava algumas lições. No dia que a beijei no rosto, ficou vermelha e foi se trancar no banheiro. Eu ri tanto. Ficou dentro do banheiro da escola até á saída,de todos. Não apostavam que eu a considerava.

Apesar da decadência, as missas continuavam. Fiquei ali, pasmo, observando o dia, as pessoas, como no passado. Então, vi,assustado uma menina, não seria possível, que alguém fosse tão parecido. Não seria difícil identificar como ficaria adolescente. Ela estava ali, parada olhando para mim. Vi quando saiu das proximidades do cemitério e ficou na porta da igreja. Não me contive e fui na sua direção. talvez, fosse filha dela, da menina que fazia todas as minhas vontades.

- Desculpe-me, mas você por acaso, é filha de... Eliane Verica?

- Não.

- Mas, nem esperou eu falar o nome...emendou,assim:

- Ora, apesar do tempo, te reconheci. Eu sou a menina do doce de batata, que você tanto adora. Minha avó tem 99 anos, e ainda faz o doce. MInha mãe mora no Ponto Central, ainda.

Engoli, em seco, a minha garganta travou, o coração disparado. Não poderia ser ela - ora, ela tem a minha idade. Como poderia estar tão conservada? Eu pensava assim, enquanto ela voltava da casa da avó.

- Tome o seu pote de doce.

Nossa, salivei. Peguei as primeiras porções com a colherinha descartável que havia trazido. Sentei-me mais uma vez no banco de cimento, ela ao lado, olhando-me, como antigamente. O olhar lânguido, de desejo.

- Sei que está mentindo para mim, você é a filha dela, deve ter sabido de minha presença, através de alguém de minha família...

- Acredite, sou eu.

-Não pode ser...

- Sou eu...Olhe nos meus olhos.Nos meus lábios,no desenho do meu rosto..

Comecei a falar da decadência da praça, tão abandonada, repleta de mendigos, drogados, prostitutas, ladrões. Apesar de tudo, a nossa infância teve capítulos ali. Ela me ouvia, e perguntou:

- Gostaria de ver esta praça ser revigorada? Livre dessa gente emporcalhada?

- Adoraria poder ver às famílias retornarem, e a beleza desta praça.

Despedi-me dela, jurando que voltaria no dia seguinte para pôr fim àquela pegadinha. Queria se esconder, talvez, por estar velha e feia, então mandou à filha no seu lugar, uma forma de sublimção, de um encontro que não aconteceu, quando éramos adolescentes. Não voltei para casa de minha irmã, que mora perto da praça da Matriz, no conjunto Feira IV, acho. Foi uma noite longa.

Contaram que naquela noite, uma fera semelhante a um urso, no silêncio da madrugada, surgiu, vindo da direção do cemitério, saltou sobre os mendigos, drogados e prostitutas, com um fúria indomável. Atacou a todos, dilacerando vísceras, cortes profundos nos corpos. Alguns deles tiveram as cabeças arrancadas, devido á violência dos golpes. Braços partidos, com fraturas expostas. Crânios abertos, com massa encefálica ao chão. Um rio de sangue se formou na praça da Matriz. Dezoito mortos. Os que correram foram caçados e mortos nas cercanias. Os depoimentos de algumas pessoas que presenciaram á cena, de suas janelas era chocante e parecia coisa de ficção:

- Parecia um lobo, isso. Atacava com uma fúria demoníaca.

- Era um lobisomem, mesmo nos dias de hoje, existe...

- Era de pelos negros, orelhas grandes, fucinho de lobo, cachorro, meio gente-meio lobo. Tinhas garras enormes.Dentes grandes...

Um mês depois, voltei á cidade, talvez, ela aparecesse na praça da Matriz. La estava eu, sentado no banco. A praça refomada, limpa, iluminada e livre do lixo humano, que ali ficava. O piso de pedra foi renovado, e até á igreja foi pintada. As famílias retornaram com as crianças, ali estava o sorveteiro e o pipoqueiro. O sol estava radiante naquela manhã de domingo. As pessoas seguiam para à missa. Ela deixou a avó de 99 anos na igreja, e correndo, entrou na sua casa, retornando com o doce de batata.

- O doce de batata, como nos velhos tempos.

Fiquei de água na boca. E clamei, com desespero:

- Eu quero falar com a sua mãe.

- Não.

- Poderia, pelo menos me dizer qual o seu nome?

- Eliane Verica.

Naquela noite dormimos juntos na casa de sua avó, esta deu um sorriso largo, os olhos lacrimejaram. Morreu em paz naquela noite, tendo a certeza de que a sua menina que me fazia todas as minhas vontades, enfim, teria o seu homem para todo o sempre, não estaria sozinha.

- Eu sou o lobisomem de Feira de Santana, não envelheço. Por isso tive tanta paciência. Sabia que um dia, voltaria para mim.

Estávamos no cemitério, perto da praça da Matriz. Foi um enterro de poucas pessoas. A velha foi enterrada num caixão simplório. Meio louco, e fascinado pelas lendas urbanas, acabei acreditando que era ela o tal lobisomem - nunca fui muito normal, mesmo. Quando adolescente sonhava em poder virar um vampiro e casa com a Mirza, do Colonnese.

- Você sabe fazer doces de batata?

Perguntei, enquanto assistia o caixão ser coberto pelo tampo de cimento da cova. Joguei uma rosa branca e uma vermelha. ela respondeu, soltando um bonito sorriso:

- Como a minha avó.

Fiquei de água na boca, como de costume, pelo doce, e por ela. A lua cheia estava imponente na abóboda celestial, mas naquela noite ela não seria o lobisomem, seria a minha eterna menininha, agora uma companheira que sabia dá carinho de mulher. Voltei para Salvador para escrever um conto, em série : O Lobisomem de Feira de Santana. Ela havia me dado mais algo na vida, desta vez, sem que eu precisasse pedir, explorá-la. Tempos depois, descbri que ela gostava de escrever, também, contos de terror - engraçada a vida, não é? Eu queria ser um vampiro, e acabo descobrindo que Eliane Verica é uma loba. E a cidade, nem as pessoas da praça sentiram falta de suas vítimas.Agora,eu tenho todas as noites o seu doce e ela tem o meu coração pelo resto da vida.

FIM

-

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 06/11/2012
Reeditado em 18/03/2017
Código do texto: T3971042
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