Os Quadros das Crianças que Choram
Estava chovendo muito quando Bruno Amadio olhava para fora de seu quarto. Estava frustrado, afinal, tantos anos pintando quadros, nunca fora reconhecido por sua arte. As coisas estavam ficando difíceis, e ele já não podia acreditar em alguma saída, alias, não existia nenhuma.
Cansado, resolve se deitar no sofá, e ali derramou todas as suas lagrimas, derramou seu pranto, o vazio no seu interior era grande, a angustia era sua única companhia, e então, após algumas horas amaldiçoando sua vida, ele encontrou então uma saída para seus problemas, a morte.
Foi até o seu quarto e tomou todos os tipos de comprimidos que ele tinha, deitou se na cama, e ficou a espera da morte. Bruno fechou os olhos, e se sentiu longe, não ouvia mais o som da chuva, mesmo sabendo que estava chovendo, sabia que tinha deixado um bule de agua fervente no fogão, embora, não estivesse la, era como se ele soubesse de tudo que estava acontecendo a sua volta, mas, não saberia explicar, é como se estivesse em outra dimensão. Bruno então relaxa ainda mais, e se deixa envolver nesses momentos de paz e tranquilidade, a tanto tempo não sentia se assim, era bom, era confortante, "Finalmente encontrei nos braços da morte meu descanso."
Depois de algum tempo, Bruno se viu andando nas ruas de Veneza, embora não tivesse ideia, de como chegou até ali. Mas desfrutava daquele clima frio, cinza que aquela tarde estava lhe proporcionando, e então, Bruno viu algumas crianças brincando na rua, correndo felizes, sem preocupações. De alguma maneira, Bruno as invejou; "Quem dera eu, viver sem me preocupar". Mas logo se viu preso numa escuridão profunda, ele tentava gritar, mas, som algum saia de sua garganta, era como se estivesse em um quarto escuro, sozinho, sem ninguém, e percebeu, que assim encontrava no seu interior. " É bem assim que me sinto, sozinho, perdido, e nas trevas." Foi então que Bruno começou a ouvir novamente o som da chuva que vinha do seu quarto, e já não estava naquela escuridão, e sabia que ao abrir os olhos estaria no seu quarto; "Maldição, nem pra morrer, eu faço com sucesso." E então Bruno abre os olhos e senta se na cama, talvez adormeceu por minutos, horas, dias, meses, ele não queria saber de nada, sem força e esperança, vai ate o banheiro lavar o rosto de quando lembra de algo, algo que pode enxergar em meio aquela escuridão toda. E em pouco tempo sai nas ruas de Veneza, procurando a rua em que caminhava, no seu estranho sono.
E logo Bruno reconhece aquelas ruas, embora nunca tivesse ido até ali, e de repente, viu a imagem daquela criança que apareceu em seu sonho, com olhos claros, cabelos lisos, e tinha em torno de três a quatro anos, a criança brincava em seu quintal, quando Bruno se aproxima.
Era como um furo em sua mente, Bruno não se lembrava de nada, quando se viu terminando de pintar o quadro daquele menino que viu tempo antes. Porem o rosto alegre daquela criança, fora substituída por um rosto de medo, espanto e lagrimas. Mas ao mesmo tempo, aquele quadro passava uma verdade, alguma coisa que ele desconhecia, e então percebeu que crianças poderia ser sua inspiração, e a partir dai começou a viajar pela Itália, em busca de crianças que inspirasse, e misteriosamente, quando via uma, se perdia no tempo, sem saber de nada, apenas voltava a sua realidade, quando estava terminando de pintar seus quadros.
Após algum tempo Bruno finalmente estava melhor e já tinha feito amizade no bairro de Roma, o Giovanni Bragolin, que lhe apoiava e dizia as maravilhas dos quadros das crianças chorando. Tinha feito 26 quadros, quando resolve ir atrás de uma nova inspiração. Novamente Bruno viu outra criança na mesma idade do primeiro, porém com cabelos claros, realmente seria sua ultima obra. Porém logo ele viu Giovanni Bragolin, correndo em direção à criança pegando a no colo e saindo correndo para o carro, Bruno vai atrás, para ele Giovanni Bragolin sempre pareceu ser tão confiável, como ele poderia fazer mal aquela criança? E para o seu espanto Bruno viu Giovanni Bragolin entrando na sua casa, carregando a criança desacordada. Ele resolveu apenas observar, de alguma forma ele sabia que Giovanni Bragolin era muito nervoso e que era melhor não incomoda lo. Giovanni Bragolin logo o chama, como se já soubesse que ele o espiava nas trevas, bruno se aproxima e vê a criança sentada no banco chorando, e então Giovanni diz:
-Vamos lá meu amigo, sua inspiração, afinal é a sua ultima obra nesse tema.
-Nesse tema, como assim?
-Bruno, ja estamos vendendo como agua os quadros antigos. Não se lembra que é um pintor conhecido?
-Eu conhecido? Que quadros?
-Quadros das crianças que choram, chamados de Gypsy Boys.
-Não me lembro de nada disso.
-Como sempre, eu que apresentei sua obra ao mundo, eu que fiz de você esse pintor fabuloso.
-Mas...
-Agora cala a boca e comece a pintar.
Bruno sem dizer mais nada, pega o pincel e começa pintar o rosto da criança chorando, era como se ele tivesse feito varias vezes, mas, não se lembrava de como. Quando estava prestes a terminar, viu Giovanni pegando a criança e a levando a cozinha, Bruno viu Giovanni sem pena nenhuma degolando a criança, ele fica horrorizado, aquilo era realmente horrível, mas, quando se deu conta era ele que segura a criança e que estava com a faca. Ele solta a faca e olha e joga a criança no chão, seus pensamentos ficaram confusos, mas, com toda calma, pega o resto mortais da criança e a joga no poço nos fundos da sua casa, como fez varias vezes antes. Volta para o quatro e termina de pintar o rosto da criança que chorava compulsivamente aterrorizada. E assim entendeu que Giovanni lhe ensinou tudo, o ajudou a fazer o sucesso, e esconder o segredo e a historia de sua inspiração.
Mas outros de seus amigos o Franchot Sevilha, Bragolin e J. Bragolin levaram boatos de que o sucesso dos quadros foi devido ao um pacto com o Diabo que Bruno teria feito anos antes, e de que as crianças daquele quadro teriam sido mortas logo após a pintura, Bruno ficou horrorizado com tamanha difamação, mas ao mesmo tempo, lembrou que não foi Giovanni que teria matado as crianças e sim ele mesmo, algumas coisas veio na memoria depois do sonho que teve apos tomar os remédios, mas, nada ao certo, mas num quarto estava Giovanni Bragolin, Franchot Sevilha, Bragolin e J. Bragolin, todos tinham seu rosto, Bruno sorri; "Meus amigos são iguais a mim, e o que acontece naquela noite chuvosa no meu quarto em Veneza? Só lembro que bebi um pouco de sangue e logo Giovanni me chamou para ir conhecer uma criança. Nada disso importa, afinal, não estou mais sozinho."
( Inspirado na Lenda Urbana do Famoso Pintor referente a tais quadros "amaldiçoado" )