Os Rostos dos Escravos do Além - parte final

Com a sua teimosia peculiar, Marcos aguardou a sua esposa acordar. As malas já estavam prontas, inclusive as delas.

- Mas, o que é isso? Para onde vamos? Temos um encontro com o parapsicólogo...

- Vamos passar alguns dias em Salvador, ou na casa dos meus pais em Feira de Santana.

-Não, senhor, estamos realizando uma importante pesquisa no campo do sobrenatural, e de forma absurda, desmerece o evento? Não percebe que poderemos estar expondo para o mundo um fenômeno que poderá ganhar à imprensa internacional.

- Hum, será que poderemos ganhar dinheiro? Tenho filmado e fotografado tudo.

Adélia havia gostado do que revelara, pelo menos os registro seriam provas e subsídios para importantes pesquisas. Munida de sua câmara sempre tirava fotos, incansáveis, até.

Aproveitando-se da ausência da esposa, tomara uma decisão ousada, audaciosa, talvez, até isso a aborrecesse por demais. Tirou as medidas,e onde havia os desenhos dos rostos abriu um janelão que dava para uma das varandas. Os rostos foram juntos com o entulho. Quando a sua esposa retorna, este lhe tapa os olhos e a leva para dentro de casa para uma grande surpresa.

- Mas, o que fez aqui? Mas, como pôde ter feito isso?

- Você me conhece, sabe como eu sou. Eu resolvo as minhas coisas.

O encontro com o pesquisador foi adiado. Irritada, resolve ficar a semana junto do marido, com os filhos em Feira de Santana. Marcos a foi procurar.

- Não sabe que não estou disposta a ver a sua cara tão cedo. Não sabe da importância...

- Ora, não deixe uma coisa como essa atrapalhar o nosso casamento, está tudo embolado, uma casa comprada recente, então vem uma coisa dessa natureza. Buscamos a nossa felicidade e fomos nos meter com uma casa mal-assombrada. Posso mostrar a eles que a casa é nossa, e acabou.

- Espanta-me que não tenha tirado proveito do acontecimento para repensar a sua vida.

Marcos dar ás costas, entra no carro, cantando os pneus volta pra chácara.

Horas depois, Adélia recebe uma ligação.

Marcos estava estático, não haveria um sentimento para especificar o que sentia naquele momento.

- Os rostos voltaram, estão na mesma parede. Parecem vivos, como, como se olhassem para mim, com ódio. Mas, que coisa é essa? Isso é um pesadelo, é real?

- Marcos, você está brincando com coisa séria. Precisamos desvendar tal mistério, não pode ir de encontro. Podem estar tentando se comunicar, sei lá...

Adélia mais uma vez busca manter contato com o famoso pesquisador. Klóviz Nunez, conhecido pesquisador na área dos fenômenos de comunicação com os mortos, inclusive, através de aparelhos eletrônicos.

Aguardaram por algumas horas, o pesquisador tentava juntar os componentes de sua equipe. Enquanto, Marcos e esposa filmavam tudo, sempre, até mesmo os escombros das reformas, que estavam no interior do matagal, alguns metros distantes da casa.

Klóviz chegou quase às oito horas da noite. Ocorreram as apresentações. Indira, uma senhora de quase quarenta anos, era medianeira e espírita, além de fazer estudos e pesquisas na área por todo o mundo. Conhecia fenômenos similares em quase toda á europa,principalmente em Luxemburgo, com o casal Jules e Maggy Harsch-Fischbach; Alemanha e Brasil, com diversos grupos.. Magno era fotógrafo – existem inúmeros registro seus, onde fotografara e filmara fantasmas, autor do livro Os Mortos Podem ser Fotografados e Filmados. Bastos era um sexagenário, engenheiro eletrônico e especialista em TCI, tornara-se ao longo dos anos num cientista das comunicações espíritas por TCI. Criara uma linha de microfones hipersensíveis que podem captar sons que a audição humana não captam – tais criações foram possíveis a partir do estudo da audição dos felinos, que são super sensíveis.

Explicações foram feitas a respeito do casal para os estudiosos. Então, reunidos tomaram uma decisão, era preciso ter desta vez, na equipe um especialista em línguas africâner. Enquanto, tentavam conseguir o tal especialsta pela net e via telefonemas para os demais componentes da equipe, os de apoio à distância, microfones eram espalhados pelo quarto de Julinho, filho do casal, onde aconteciam os fenômenos. Foi pedido o silêncio absoluto na casa, principalmente naquele recinto.

A noite passou. Adélia foi à cidade fazer uma pequena compra para às refeições da equipe.

- Eu sou ateu.

Disse Marcos, deixando á equipe surpresa.Indira lhe falou, a medianeira:

- Não importa, acreditar em Deus, ou não, somos instrumentos da espiritualidade, independe de se ter fé ou não.

- Instrumento, quem?

- Precisamos valorizar o silêncio na casa.

Pediu o especialista em TCI.

A noite seguia, improvisaram o repouso. Um gravador estava acionado para horas infindáveis de gravações. Marcos falou a respeito da tinta que tinha raspado e levado para um laboratório em Salvador.

- O resultado é chocante. Não conseguiram idenficar o material que a compõe. Não é uma tinta comum, conhecida.

Durante à madrugada, o gravador foi testado. Não foi surpresa a captação de algumas frases curtas, em uma língua tribal, talvez.

Na manhã seguinte, cerca de oito horas da manhã, o estudioso em línguas estrangeiras africanas chegou ao local dos fenômenos, a chácara da família Pereira.

Não foi difícil identificar a língua ali pronunciada em frases curtas. Dizia a voz:

“Ons lewe, wil 'n godsdienstige begrafnis. Vermoor .... en lewendig begrawe in die.”

- E, então, é uma voz humana, pode-se ouvir, o que quer dizer?

- “Estamos vivos. Assassinados, enterrados vivos na parede.” Falam em africâner. Querem ter um enterro religioso. Nada além disso.

- Revelou o especialista em línguas da África. E, ao ligar o aparelho mais uma vez, foram ouvidos gritos de pavor, gritos de terror e gemidos.

- os espíritos estão presos aqui, os laços fluídicos que se ligam aos seus restos mortais podem ja se terem rompidos, mas continuam presos magneticamente ao local. Precisamos ter uma comunicação mais longa, saber o que querem, ou que se poderá fazer por eles, para que sigam de encontro á luz.

recomendou Indira, ja sentindo a presença de um espírito e de vários outros trabalhando a atmosfera fluídica do quarto. Uma barreira magnética se estendia por toda à casa, impedindo a ação dos espíritos inferiores. Então, o som de atabaques invisíveis foram captados pelos microfones e pela medianeira. Cânticos africanos do tempo do Brasil colonial se fizeram ouvir- apenas a medianeira os ouvia e os microfones hipersensíveis. Ele chegou, o espírito de grandiosidade, generosidade e de sabedoria popular. Entrou dançando, girando e rindo, por entre duas filheiras de espíritos vestidos de branco que batiam palmas e cantavam os antigos cânticos milenares da antiga África.

A sessão mediúnica foi montada no local. Após orações, a medianeira fechou os olhos, entrou em transe. Caso fosse permitido, e tivesse um objetivo nobre, os espíritos poderiam ser manifestar e fazer mais revelações, pois, foi frustrante ter montado todo aquela parafernália eletrônica para colher apenas três frases curtas.

A medianeira falou: ” Noite zifios, Preto Véi pedi licença, vosmicê me chamô, chamado pra mode falá pelo zirmãos que tão inda no ódio e num querem a si comunicá. A vida é assim, mermo zifio, uns odiano os zozontros, mas ódio so gera ódio. Preto odiá os irmão branco e branco irmãos odiá os preto, assim como nada aciresorvi....”

Dizia o velho espírito, finalizando com a sua particular risada de preto velho. Levantava-se da cedeira e rodava, dançava como se ouvisse a música centenária.

A medianeira tinha suas feições transmutadas, os de maiores olhos, veriam a figura do Preto Velho sobrepujar à sua imagem de mulher. A sua voz mudara para a masculina, de idade, rouca e gutural. Tinha uma das mãos fechada, como se ali tivesse um cachimbo, enquanto falava, levava a dresta aos lábios, como se tirasse tragadas .

- Zifios, o tempo di eu, Preto Véi é curtim, curtim, dexa eu a mode falá a vosmicês logo. Quatro reis magos vindos da mama Àfrica, a minha terra de origi, era líde da religião da África. Criaram modos novos de falá uns com os zozotros para mode ser mió a vida entri os irmãos de cor. Aqui se reunia em segredo, para mió fazê a vida de todos, eram de genti diferente,tribo diferenti, lafava lingua diferenti, era apreciso se arreunir pra acuidar. Adiscobertos foram, pois daqui saìa meios para protegê as fias novas e os fios dos desejos da alcova dos seus sinhores de engenho, se acumetia todo artipo de abuso, além da exploração dos seus corpos, zifios. Era aproíbido a religião da gente. Foram chibatados, foram pro tronco e emparedados vivos nesta casa, cuando as suas paredes eram de barro da beira do riacho e de pedras negras feito a gente,aqui acorrentados até que tiveram uma morte feia, lenta, dolorosa. E os povos Iorubás, haussás, bornos, baribas ficô sem liderança perdendo a dignidade. E aqui era locá sagrado pra religião, aqui os orixás vinham ao som dos atabaques guiá os fios, instruir...O locá foi destruído e se fez na época um currá de cavalos. Uma ofensa crué contra os nossos deuses, nossa gente que so fez o bem a este país com a sua curtura e que os braços fortes dos nossos mininos construiu esti Brasil maravavilhoso. Eles querem que suncê aprocuri os restos da vida deles nos escombros da casa primeira, la no mato perto do riacho.

Num lance, ríspido, parecia ter chegado ao fim á comunicação.

A medianeira soltou um grito agudo, caiu ao solo sem energias - o desprendiomento ocorreu. Os espíritos se foram.

Marcos estava pasmo com a tal revelação, e um tanto balanceado, pois, sempre fôra um incrédulo. Adélia estava em êxtase, maravilhada.

E, num mister de linguagem coloquial, fundindo-se com a forma de falar da medianeira, assim foi esclarecido o fenômeno sobrenatural.

O fenômeno ali ocorrido ganhou a imprensa internacional. Adélia criou meios para na chácara se criar o Museu Histórico dos povos Iorubás, haussás, bornos, baribas, com documentos cedidos por diversos museus pelo mundo e do Brasil, e de estudiosos dos povos africanos. As visitas internacionais eram constantes, se tornando para Adélia o seu único meio de vida. Era a diretora do museu e organizadora do seu acervo. Iniciara numa faculdade a sua especialização na área. Desejava fazer muito mais pelos povos antigos que ali, viveram, vindo da África.

Os restos mortais dos líderes religiosos foram enterrados em local sagrado, num ritual religioso. Para surpresa de Marcos os rostos sumiram dos escombros da primeira reforma da casa e dos do janelão, recém-feito. Os ossos foram encontados num terreno indicado pelo espírito comunicante na mata. Estavam entre os primeiros escombros da casa, após a reforma. Pedaços de ossos que foram colhidos com esmero. Marcos estava chocado, pasmo, balanceado - tinha ali a certeza da comunicação - a medianeira e á equipe não sabiam dos primeiros escombros da casa, não era uma farsa. realmente, o espiríto do Preto Velho havia se comunicado.

jamile voltou para casa e trouxe o seu gatinho que a acompanhara para a casa dos avós. Julinho ficou surpreso com a nova casa que ficava ao lado da antiga chácara. Inseguro, indagou:

- Não vai mais ter desenhos na parede,pai?

Perguntou.

- Não,acabou o fenômeno. Agora, vamos ser felizes aqui.

Respondeu o pai.

Numa ligação para Marcos, a medianeira revelara:

- Os espíritos se comunicam, caso encontre um meio de favorecimento. Para os fenômenos físicos, como os de sua casa, seria necessário um medianeiro perfeito, caso contrário não aconteceria. Tirando proveito do meio energético gerado pelo espírito do médium, tirados do ectoplasma. Muitas questões são resolvidas no Plano Espiritual quando um fenômeno desta natureza acontecem, então, muitos espíritos podem ficar em paz, aguardando um breve retorno para uma nova estadia na matéria densa. Foi assim com o pintor de paredes, mas, é impossível reunir um grupo de pessoas sem que haja um médium entre eles,normal, mas havia nesse fenômeno um medianeiro perfeito.

- E, quem era o medianeiro?

- Você sr. Marcos.

Respondeu,seca e desligou o telefone.

fim

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 02/11/2012
Reeditado em 07/11/2012
Código do texto: T3965592
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