DIA DOS MORTOS
O que isso? Aonde estou? Está escuro aqui! Quem apagou a luz? Alguém pode acender a luz, por favor, tenho medo do escuro. Parem de brincadeira! É uma pegadinha? Está úmido aqui, estou sentindo frio. Por que estão jogando cal em mim? E essas flores? Vocês não sabem que sou alérgica? Atchim, atchim, atchim. E agora mais essa, calma pessoal, parem de jogar esta terra em mim.
- Por favor, me tirem daqui! - Gritei, mas ninguém me ouviu.
Quebrei a madeira, cavei, cavei, ai quebrei minhas unhas! Continuei cavando, a água escorria pelo meu corpo, ai que fétido. Estou cansada, perdendo as minhas forças, sinto que vou desmaiar.
Finalmente sinto uma luz adentrando, será a saída? Continuei cavando, ufa! ufa! Cansei vou desmaiar! Um raio de luz, estou salva! E assim senti um vento em minha mão, ai que gelado. E de um salto pulei fora daquela terra.
Levantei e sai caminhando, que lugar horrível, quem me colocou aqui? Que pegadinha mais sem graça, odiei. Estou suja, ai que nojo! Sai dali correndo, passei pelo portão e corri pela rua. Tentei pegar um taxi, mas nenhum parou. O jeito foi ir caminhando, caminhei uma infinidade até me aproximar de casa.
Cheguei em casa, não tinha a chave, bati na porta, ninguém atendeu, onde estavam todos? Bati novamente, e ninguém atendeu, bati com muita força, e ops, minha mão atravessou a porta, meu braço, meu corpo, entrei com a porta fechada. Caramba, como consegui fazer tamanha proeza? Devo estar dormindo, preciso acordar! Quero acordar! E gritando assim andei pela casa,tudo estava calmo, fui até meu quarto, meu marido chorava abraçado ao meu retrato.
- Meu bem, o que você tem? - Perguntei, mas ele me ignorou.
Fui ao quarto das crianças, a babá tentava fazê-las dormir, quis abraçá-las, mas precisava de um banho. Corri ao banheiro, enchi a banheira, coloquei sais de banho, a água estava numa temperatura ótima. Mergulhei da cabeça aos pés, meu corpo precisava. Que delícia! Tirei aquela lama do meu corpo, fiquei de molho até me sentir limpa.
Agora cheirosa, procurei minhas filhas, elas estavam no mais belo dos sonhos, não quis acordá-las, deitei entre elas e as aconcheguei em meus braços. Que saudade!
Cobri as crianças e fui deitar em meu quarto, meu marido ainda chorava, agarrado ao meu retrato. Por que? Não entendi. Tirei o retrato de sua mão, tirei sua roupa e me deitei ao seu lado e fizemos amor, amamos como dois animais, em uma entrega total de corpo e alma. Conversei muito com ele, desta vez ele falou comigo. Ele só sabia me pedir perdão, mas perdão por que? - Perguntei. Ele respondeu:
- Perdão, se eu não tivesse te traído certamente você não teria pulado pela varanda. Fique comigo, não vá embora, como fui tolo.
- Ora querido, não se preocupe, eu te perdoo e não vou mais embora.
E assim adormecemos juntos.