Os Rostos dos Escravos do Além - parte IV

Os rostos estavam com novos retoques, era visível que os ornamentos em seus rostos, orelhas e adereços nas cabeças revelavam serem retratos de figuras elevadas - todos tinham traços fisionômicos que revelavam serem de etnia negra, africana.

- Meu Deus, mas...mas que fenômeno é esse? Não seria posível que o tempo que fiquei distante entre os escombros, alguém tenha dado estes retoques. E, os rostos...

Marcos, pasmo retorna para os escombros, e confirma.

- Sim, são os mesmos, os traços.

Pasmo, ficou ali, diante daquele fenômeno inexplicável - ainda a dúvida a lhe fustigar a alma. Um dos rostos trazia desenhos que lembrava uma liderança religiosa, talvez, os demais rostos fôssem de subordinados, ou demais lideranças, ja que ali tinha a revelação de quatro etnias distintas.

Marcos pegou do seu carro e foi à cidade. Retornou com um pinto de paredes. Não havia na sua programação o abandono daquela casa, havia ali, investido parte de suas economias e o dinheiro da venda da outra casa, em Salvador.

- Sim, a casa tem má fama, doutor.

Dizia o pintor, que fora recomendado pela casa de material de construção. Todas as famílias que moraram ali, não passavam muito tempo. Todas as reformas não mudaram nada. Dizem que os espíritos gostam é de casa velha...

Marcos preferiu não entrar em detelhaes, com relação aos rostos que se desenhavam na parede do quarto do filho, poderia espantar o homem.

- Mas, doutor a pintura é recente, ta trincando de novinha, foi o seu filho que desenhou caras tão feias na parede?

- Acho que sim. Pinte a parede inteira, so este lado mesmo. Vou em Salvador, retorno no fim da tarde.

Adélia, investigativa procurou ajuda. Estava retornando com alguém de Feira de Santana.

- Sou uma autoridade em fenômenos de parapsicologia e em fenômenos espirituais. Não existem milagres, a ciência espírita pode explicar de forma científica, alguns fenômenos.

Estava ali, talvez, a salvação do retorno da paz da família, e da manutenção da morada, de forma harmônica.

O pintor estava alegre, cobrara um valor de uma diária para pintar uma única parede, talvez, a grana mais fácil que ganhara em toda sua vida. Temperou a tinta, molhou o rodo, e pronto. Cobriu os desenhos, e depois estendeu a pintura por toda á parede. Sentou, tirou um saco de fumo e fez uma pacaia. Acendeu-o, enquanto tomava um gole de pinga.

- Droga, vou ter que dar mais uma mão, os rostos continuam visíveis. Fumou, e assim o fez, ligeiro. Pretendia partir cedo daquela casa que tinha fama de ser mal-assombrada antes do cair da tarde.

Suas pinceladas era ligeiras, vagarosas. A tinta grossa; esperva secar, e logo dava nova mão.

mais um cigarro de pacaia, baforadas mornas sentidas nos lábios e na lingua. Algumas doses de pinga. Tomou um banho refrescante, trocou de roupa - pretendia recolher o seu material e aguardar o proprietário para o restante do pagamento e ser levado para á cidade.

Retornou do banheiro para dar uma última olhada na parede.

- Meu Deus...meu Deus...

Os desenhos se sobressaiam sobre á camada grossa de tinta, agora os rostos pareciam terem vida própria, ostentando expressões faciais de ódio, outros de clamores - um clamor silencioso, porém, de expressividade artística excepcional. pairava ali, uma atmosfera sinistra, do mais claro fenômeno do sobrenatural. O pinto deu passos para trás, o olhar vítreo na parede.

- Impossível não ter coberto os desnehos, e me parece que são outros rostos, ou com novas expressões, os olhares mudaram, fitam-me com ódio, parecem vivos.

O pintor deu uma providencial carreira, afastando-se dali o mais depressa possível, deixando o seu material de ofício para trás.

Marcos retorna de Salvador, e encontra a casa abandonada. Era quase seis horas da tarde, estava um breu total. Achou estranho, temoroso, aproximou-se, acendeu as luzes. Foi ao quarto. La estavam os desenhos dos rostos, pertinentes, incólumes, intocáveis. Não foi difícil imaginar o que tinha acontecido com o pinto de paredes.

Intrigado, não restava a não ser ficar olhando`os rostos que teimavam em se desenharem naquela parede.

- Por Deus, o que é isso? Sempre fui ateu convicto, jamais acreditei em acontecimentos do sobrenatural, e, agora?

Em tom de desafio, marcos, como proprietário daquela casa, tomou uma decisão. Estava com a conta bancária nas últimas reservas, mas faria o que acabara de pensar.

Adélia buzina, logo entra na casa.

- MInha nossa, o que aconteceu por aqui? Que cheiro forte de tinta.

- Trouxe um pintor para apagar os desenhos e pintar a parede.

- E, por quê não pintou, ou...

-Isso, mesmo, a parede foi pintada e os rostos se desenharam mais uma vez.

Adélia, no momento não estava assustada. Estava diante de um desconhecido fenômeno, talvez, estivesse ali a oportunidade para que o seu marido mudasse a sua visão diante das coisas do mundo do invisível.

- Amanhã, receberemos uma visita, um parapsicólogo e estudioso de fenômenos espirituais. espero que não tenha nada contra.

- Sabe que eu gosto de resolver os meus problemas.

- Não tem conhecimentos o bastante para tal, a sua visita está agendada comigo.

Foi uma noite tranquila. Enquanto o marido dormia, Adélia nevagava na internet fazendo suas pesquisas ligadas á cultura africana e á sua religiosidade. Decidira pesquisar, também, os fenômenos espirituais, pois, sabia que precisava de muitas respostas - estava feliz, por descobrir que: "existem mais mistérios entre o céu e á terra do que a nossa vã filosofia pode explicar." - Disse assim, o talentoso dramaturgo inglês, Shakespeare.

(Continua)

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 02/11/2012
Reeditado em 07/11/2012
Código do texto: T3965218
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