A Navalha
Passeando a lâmina cortante,
Entre as artérias de seu coração,
Um passo para seu delirante,
Suicido pela falta de oxigenação!
Na mão a navalha perfurante,
Desce ao longo do torso,
O repouso para a dor dilacerante
Cortar com ela o pescoço!
Os dedos tremulam em agonia,
Ter toda a circulação cortada,
Aliviar toda a nefasta melancolia,
Com a sua garganta mutilada!
Fluindo para fora esta cor escarlate
Da pressão do sangue arterial,
Vívido como o tom de um esmalte
Jorrando todo esse fluido vital!
Vem senão esse pensamento,
De escrever a linha alínea
E despedir-se deste momento,
Na vital perda sanguínea!
Tão fria em sua espessura,
Brilha como a flâmula da lucidez,
Esse artefato que a sepultura
Enterrar-me-ia por uma só vez!
Devo morrer pela dor dilatante
Da idéia que agora me calha,
Pelo aço trabalhado e oxidante,
Do fio mortal desta navalha!