O Psicopata V - Terror Pelos Corredores

Não seria uma noite como outra qualquer,não - a rotina do prédio seria quebrada - era questão de tempo. Assim, como a abelha não pode viver sem a flor, não podia viver sem satisfazer àquela necessidade, que era inerente ao seu ser. No âmago de sua alma, uma chama incessante se mantinha acesa.

Não foi uma tarde fácil. Sentia a sua pressão baixa, suava frio. A dresta levada, com frequência ao cenho, suava. Fazia rabiscos em folhas virgens, depois as amassava, ou rasgava com fúria. Nas folhas seguiam os desenhos que eram marcas de sua personalidade - desenhava setas, com pontas grandes, personagens com carrancas furiosas - ficava nítida a posição das sobrancelhas e as bocas retratando fúria. Apesar de tudo, a voz era macia e as palavras bem colocadas diante das pessoas e da clientela. Eles são assim, sabem como se esconder - o interior, jamais fica exposto.

O prédio se colocava num bairro comercial, outrora, ali fervilhavam escritórios de advocacia, administradores de imóveis, e comércio varejista, de vendas dos mais diversos produtos, e de prestadores de serviços ligados ao porto de Salvador. Lojas diversas, de vários ramos. Os preços de uma sala, loja, era pela hora da morte.

O prédio ficava à beira da conhecida Ladeira da Montanha, outrora zona de meritrício da cidade, num passado bem remoto, frequentada pelos ricos comerciantes, até artistas e intelectuais-ali podia se encontrar as putas mais lindas da Bahia -, eram recrutadas nas muitas cidades do interior. Com a decadência do local, a Ladeira da Montanha, tornou-se em baixo-meretrício,de putas velhas,feias,sem charme e sem fina educação. Local de péssima reputação, tendo como frequentadores ladrões, pequenos traficantes, viciados e estivadores. Um local perigoso, com onda de assaltos e assassinatos. Uma atmosfera social de escória.

O prédio comercial tinha aspecto em contraste infindável com os demais, que ali ficavam - em franca decadência, foram roubados pelo tempo que os corroeu, transformando-os em exemplos de miséria plena. Era comum a polícia baixar ali, espancar gente, levar algemado.

Á noite, o local é sinistro, bem sinistro. As ruas são escuras e tomadas de assalto pelos viciados em crack, e pelos pequenos traficantes. Vivem em grupo usando drogas e roubando os desavisados, no geral, as mulheres que ali trabalham. Portam facas ou caco de vidro.

Anita faria o plantão até às 23:0o h. O marido iria buscá-la. Os arquivos precisavam de organização. Estava no técimo quinto andar,tranquila.

Pelos corredores semi-iluminados podia se ouvir passos lentos. Algumas portas eram testadas, pagava-se na maçaneta e tentava girar - portas fechadas. A vítima estava no prédio, sabia disso, mas não sabia em qual andar. Seria uma busca paciente, porém sabia que não teria a noite inteira, precisava ser rápido, preciso. Não sabiam que tinha ficado no prédio. A frequencia da clientela era intensa. Bastou ter saído e ter voltado com o disfarce. Ficou no último andar, com paciência, ouvindo músicas com os fones de ouvido, fumando e bebericando algumas garrafas de cervejas pilsen, que foram trazidas num isopor portátil. Sim, pensara em tudo, não queria ter uma espera angustiante. Dois livros acompanharam as cervejas para uma leitura displicente, Os Piores Criminoso Que Conheci, era um dos livros, o outro era Contos Medonhos, ambos da editora Multifoco. Leu rápido, algumas páginas.

Anita havia terminado o serviço, arrumava os cabelos, e sentada, calçava os sapatos - os havia tirado para relaxar os tornozelos - Olhou-se num pequeno espelho e tentou ligar para o marido. O celular estava desligado. " Maldita operadora de celular, sempre sem o sinal, quando mais precisamos." Pensou. Apressada, pegou da sua bolsa, procurou pelas chaves das portas do escritório. As mesas estavam bagunçadas, muitos papéis, pastas, relatórios. " Minha nossa, malditas chaves...."

Tocou de leve no chaveiro, este despecou da mesa, estavam escondidas por alguns ficheiros plásticos. Pegou das chaves, quando se dirigiu para à porta, ouviu os passos lentos no corredor. Estranhou, pois, o seu marido jamais adentrava pelo edifício, sempre a esperava dentro do carro fora do prédio - ficava de papo com o vigia, e tomando do seu café de uma cafeteira portátil que trazia todas às noites.

Sem saber, o por quê, ficou tensa ao ouvir as passadas compassadas, sem pressa se aproximando da porta do escritório. Um frio lhe percorreu á espinha da nuca até o quadril. As colegas brincavam, falando a respeito do prédio ser mal-assombrado, e diziam que pessoas viam fantasmas por ali. Computadores ligavam e se desligavam sozinhos. Arquivos e gavetas se abriam e fechavam sozinhos. Era comum se ouvir passos pelos corredores. Nervosa, quase chorando, pegou do celular e tentava discar o número do seu esposo,os olhos lacrimejantes. O celular dava como desligado. O seu ser fora arrebatado por uma atmsfera envolvente, pertubadora.

Viu a maçaneta girar, para a esquerda, para a direita, e sendo forçada, como se a outra pessoa que estivesse do outro lado, esperasse que estivesse aberta, e estava surpreso por ter encontrá-la fechada. Anita engoliu em seco, a garganta ficou travada, como se ali, estivesse um grito de pânico, prestes a sair. As pernas ficaram bambas, tremia. Permaneceu estática, sentindo um filete de urina lhe molhar a calcinha.

Silêncio.

Indagava-se o que "fazer, agora? Estaria protegida ficando dentro da sala"? Para sua surpresa, ouviu os passos se dirigindo para á varanda que ficava em U no fim do corredor. A janela estava aberta, parecia que o estranho pretendia entrar na sala por ali. E, assim foi. Sentiu o movimento do seu corpo se chocando contra o vidro da janela, empurrando-o para o lado, para facilitar que pulasse á janela. Entrou na sala. Pensou em ir se esconder no banheiro, fecharia a porta, e ficaria ali tentando ligar para o seu marido, ou interfonaria para o vigia do prédio. Um animal acuado, tem apenas uma defesa, o ataque. Anita era um ser humano como outro qualquer - e era uma mulher, caso o seu agressor fosse um homem, nada poderia fazer. Dentro do banheiro o seu celular ficaria sem sinal, talvez - " E, se ele fosse paciente, e tentasse,sem fazer muito ruído arrombar à porta do banheiro"?

A porta do banheiro estava trancada. Ele estava de preto, sobre-tudo lhe cobria o corpo. Um chapéu lhe encobria o rosto. Os seus olhos se encheram de lágrimas, quando viu o estranho invasor ficar jogando, sem pressa, o seu corpo avantajado sobre á porta. O grito contido na garganta, o corpo todo tremendo. As lágrimas escorriam pela sua face, os lábios tremiam, de medo. O coração querendo sair pela boca.

Quando a porta do banheiro cedeu, e ele entrou - era o momento. Saiu debaixo da mesa de escrivania, onde estava e se dirigiu para á porta de saída do escritório. Correu, largando os sapatos altos, bateu a porta e saiu desesperada pelo corredor. O invador viu, de relance, ela descer correndo pela escadaria que daria acesso ao próximo andar, logo abaixo.

Tudo estava planejado pelo invasor. Cada escadaria, em estilo padrão tinha cada uma 35 degraus - uma pessoa andando, sem pressa a desceria em cerca 30 a 37 segundos, talvez. Subindo seria mais lento, é claro. O elevador descendo levava cerca de 12 a 18 segundos descendo. Subindo, um pouco mais lento, caso estivesse apenas com uma pessoa, seria um pouco mais rápido. Ela estava no meio da escada, quando ele ja sentia o elevador estar no andar de baixo, para onde havia se dirigido.

Para sua surpresa, ela não estava la.

Ficou alguns poucos segundos aguardando á beira da escada, e ela não apareceu. Então pensou: " maldita, está desesperada, mas não é burra".

Os seus passos foram rápidos, subindo ás escadas em busca de sua presa.

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 25/10/2012
Reeditado em 26/10/2012
Código do texto: T3952344
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