O Ex-fumante e o perfume embriagador do tabaco
Realino, um nome qualquer, um cidadão comum. Pode existir e pode até nem existir. Que importancia tem isso. Foi no dia 3 de outubro de 1993, às 3 horas da madruga, quando ele fumou seu Hollywood pela ultima vez.
Tempo sêco, as chuvas ainda não haviam começado, respiração de quem fumava um maço e meio por dia (incluindo os dos filantes) era muito dificil e somando-se a isso, o remedio pra pressão alta, a alergia se fazia presente e chegou o momento em que acordou naquela madrugada de 3 de outobro de 1993, engasgado, sem ar, correndo pela casa, se debatendo e viu a morte chegar.
Ele teria começado a fumar ao redor dos 23 anos apos a derrocada de um casamento que nunca deveria ter acontecido e enfim perdeu o convivio com suas duas filhas e a situação econômica e financeira estava se desestruturando pra não dizer desmoronando. Mergulhou naquele que seria o pior vicio de sua vida.
Sua saúde estava precária, seus batimentos cardiácos sinalizavam uma pressão alta incontrolável pela situação emocional vigente e a pressão no trabalho era muito grande em virtude de uma carreira profissional, onde era acusado constantemente de dar mais importância ao trabalho do que a familia.
Mentira, ele procurava mesclar muito bem as duas coisas e como todos sabemos o quanto isso é dificil, sobreviver e manter harmonia no lar e preservar a admiração de uma esposa "dondoca", cheia de sonhos de consumismo desenfreado, onde o dinheiro que ganhava naquele tempo, era sempre escasso e a comparação com amigos e parentes em melhor situação anunciava o fim daquela maldita relação conjugal.
Quase 20 anos se passaram e Realino parece não sofrer mais as consequencias do maldito cigarro. Dia desses me confidenciou que mesmo tendo consciencia de que não pode voltar a fumar, sente o perfume embriagador do cigarro até hoje, mas permanece imóvel, elegante, sem reclamar daqueles que puxam a fumaça "tragando" e estragando os pulmões.
Mas acredito que hoje, refletindo ele proprio sobre a preservação de seu estado de saude, possa cantar chorando aquela música antiga de Vicente Celestino:
"Fumando espero, aquela que mais quero, se ela não vém então me desespero".