O espelho de mão (Parte Terceira)
Na sala, papai e mamãe já me esperavam. Estavam sentados a mesa. Executaria minha sentença. Em breve, diria adeus ao convívio social. Sento-me. E foi nesse momento que papai inicia:
-- Suzanne, você sabe o que acontece quando.... —nesse momento tive que interromper. Tinha que me defender, pois eu não deveria ter acreditado naquela balela do espelho:
-- Pai, mãe é sério. Nos outros bimestres prometo meter a cara nos livros... —foi nesse momento que os dois me olharam com a cara de espanto como se quisessem dizer: “O que de nessa menina?”. Nesse segundo momento fora mamãe quem fala:
-- Querida, bom saber... mas no momento acho que você não vai precisar muito não...—diz- me jogando o cartão de notas. Fiquei pasmada. As minhas notas estavam todas lá. Só que bem melhores. Na verdade, só tinha uma nota em todas as matérias: 10!Hehehe.
Faço uma cara de que não viu nada demais e pergunto com um ar arrogante, para quem estava com o pescoço no cadafalso:
--Bom. Era só isso?
--Não, queremos te dar um presente. Uma passagem, no final do ano para Cancun... Você pode escolher mais uma pessoa pra acompanhá-la. Nós decidimos que você já responsável e merece. —disse-me papai entregando o flyer que mostrava as praias de águas cristalinas e de areias branquérrimas. Levanto toda eufórica e distribuo beijos estalados nas maçãs de cada um. Ao que dizia: Obrigada!
Pego meu boletim e o passe pra Cancun. Corro pro meu quarto.
***
Não conseguia acreditar no que via em minhas mãos. Primeiro um boletim que dias antes devia alarmar, em tinta vermelha, o risco que corria de me tornar repetente. E segundo a passagem (como brinde) para Cancun um lugar paradisíaco!
Busco pelo espelho debaixo da minha cama. Estava numa caixa branca, redonda de papel. E começo a beijar o meu reflexo.
--Obrigada!—cicio.
Aquilo merecia uma comemoração. Marco com o Fabrizio para irmos à lanchonete que inaugurara perto dali. Ele iria me buscar as sete. Não havia tomado ainda o café da manhã. Meu estomago já roncava feito um motor de trator velho. Desço pra sala como uma canibal esfomeada.
***
Se Suzanne houvesse ficado mais alguns instantes observando o espelho de mão, talvez, teria assistido a bizarra cena que se passara nele: um cachorro pardacento de porte médio ladrava sem parar. Ladrava para um inimigo invisível. Pro nada.
E de repente este nada se manifesta.
Investia contra o cachorro. A cada investida sua, ouvia-se o ganir lancinante de dor do cão e as marcas profundas das garras do invisível. O cachorro bem tentou fugir, porém algo o prendia ao chão. Era como se alguém houvesse chumbado suas quatro patas ao solo. E o nada continuou as suas investidas ao passo que o cão prosseguia com os seus dolorosos ganidos. Até que passado dados momentos, não se ouve mais nada.
***
O encontro com Fabrizio fora cancelado. Não tinha ânimos para comemorar ou ouvir Fabrizio falar sobre futebol. Estava muito abalada. Bobby estava morto. O pobre do meu cachorro fora encontrado esquartejado, afogado na possa de seu próprio sangue. Aquela cena a todo o momento voltava a minha cabeça como um horrível flashback de filme de terror. Contudo, não conseguia, entender, como Bobby teve uma morte tão cruel re insensível como essa!
A polícia aventurou que ele pode ter sido vítima de um psicopata ou de uma gangue de cachorros. Tá. A primeira opção é muito mais provável. Bobby deve saído de sua casinha. Neide (apesar de alegar várias vezes de não ter feito) devia ter deixado aberto o portão e ele aproveitou para sair. E foi aí, que a polícia encontrou seu corpo num terreno descampado, existente perto do condomínio. Beto era o que estava mais arrasado. Pois eles eram parceiros inseparáveis.
Ficamos durante duas semanas de luto.
***
-- Su, você ficou sabendo?—essa daí é a minha melhor amiga desde o jardim de infância. Sandy. Ela era uma negra muito linda. Era dona de olhos verdes claros e amendoados de gatos e possuía lábios grossos e beijáveis. Respondo e pergunto curiosa:
-- Não. O quê?—ela me encara com ar de perplexidade que ao mesmo tempo revelava uma felicidade secreta de ser a primeira a me reportar a notícia.
-- Dããr! O baile de formatura está chegando e com ele o rei e a rainha do baile! Dããr!-- ela sempre usava o “Dããr” no começo ou no final das frases.
-- E...?—pergunto.
-- Dããr!E que você vai participar. Pra esfregar na cara da Sandra. —a Sandra a que ela se refere é a minha arque inimiga. Mais sem chances. Não podia concorrer com ela. Sandra era popular e sem sombra de duvidas a maioria dos meninos, que gostam de um bom par de silicones, iriam votar nela. Digo:
-- Sem chances!
-- Por quê?—ela me pergunta.
--Impossível eu perderia feio!
Nesse momento Sandy emudece. Como se lhe tivesse caído à ficha de que ninguém vence Sandra Sanders, a garota mais popular da escola.
Quando íamos à direção da sala de química eis que me aparece Sandra. Deveras, ela era muito bonita, mas não era aquela beleza natural que nasce com as pessoas. Era uma beleza meio artificial, moldada a bisturi.
-- Olá, Suzanne tudo bom contigo?Soube que você se inscreveu pra rainha do baile...
Fiquei sem palavras. Elas estavam mortas dentro da minha garganta. Olho pra Sandy. E ela me olha de novo. NÃO!Isso era impossível! Ela colocou o meu nome, sem minha autorização!
-- Não deve haver algum... -- Sandra não deixa completar a frase.
-- Tenho só aviso: VOCÊ VAI PERDER FEIO!—disse pondo. O que fez com que as suas começassem a rir feito um bando de corvos. Ela me empurra pro lado e sai desfilando com a corte de gralhas em retaguarda.
Fico olhando pra Sandy em busca de respostas, no entanto não as encontro. O sinal pra aula toca.
***
Mal chego a casa e já subo pro meu quarto. Não acreditava naquilo!Sandy me inscrevera sem meu consentimento e o pior não saberia quem seria meu rei?Fabrizio não dava para ser, pois ele não estudava naquela escola. Apesar de que ele, obviamente seria o meu par. Começo a rir.
Seria impossível eu me tornar rainha do baile... Pensava isso quando estala-se algo em minha cabeça. E se eu usasse o espelho de mão novamente?
Dou um sorriso sacana. Só tinha que desejar e pronto!E adeus, Sandra Sanders a futura rainha do baile.
Já estava com espelho em mãos. E desejo sem pensar:
-- Espelho desejo ser a rainha do baile. Desejo que todas as pessoas da escola votem em mim.
Como da outra vez, as pedrinhas do bastão do espelho reluziram vivamente. E o chifre do sátiro elevou-se, subitamente, furando-me. Pronto agora só tinha que esperar...
O tempo passou rapidamente. Tão rápido que eu fora com Sandy escolher meu vestido. Faltava uma semana.
-- Como você tem tanta certeza, assim, que você irá ganhar?—me pergunta. Olho aqueles olhos verdes e digo:
-- Eu vou ganhar você vai ver... —talvez, por ter dito aquilo com veemência e sinceridade, Sandy deixa de tocar no assunto. Eu escolhi um vestido rosa com alguns pedriscos. Ele tinha um corte em vê no busto.
Sandy escolhera um longo preto que lhe ficava bem justo ao corpo. Saí da loja com a certeza de que usaria aquele vestido.
***
Era véspera do baile. Eu e Suzanne corremos ao mural para ver quem seria a rainha e o rei do baile. Tcha- nã. Adivinhe quem ganhou?
-- UHUUUUUUUUUUUU!!!!—gritei quando Sandra se aproximava com as gralhas. Comecei a rir. Sandy me acompanhou. E digo pra ela:
--Não falei? Cem por cento de aprovação.
--Que estranho... Então todos da escola votaram em você?—respondo com um sorriso. —O seu par do baile será o Brad!!
Petrifiquei. Brad é simplesmente o cara mais gato da escola! Dou mais um grito, que faz espantar Sandra e as gralhas.