Um MiNuTo de TeRrOr
Sinto a escuridão me cercar, assombrosa e cruel. O domínio do medo é intenso. Tropeço no som de meus próprios passos e me cerco de insegurança. A tensão é algo paralisante, porém meu coração dispara.
Pouco mais de meia volta desse ponteiro e estarei em casa. Ouço vozes, passos, sinto calafrios e a esquina não chega.
Percebo o vento frio tocar meu rosto enquanto minhas mãos tremem e cruzo os braços, envolta em temores obscuros.
Milhares de estatísticas rondam minha mente, números cruéis antes estampados nos jornais agora são probabilidades. Quero dar a volta, quero correr, mas não posso. Por enquanto só me resta rezar baixo.
Estórias de terror, tragédias, balas perdidas. Só estou regressando da escola, sozinha. Carrego comigo apenas um fichário e um livro de medicina, nada mais que isso.
Todos os dias a mesma coisa, toda vez tudo é tão igual. Luto no intuito de salvar vidas, de salvar a minha vida e a de minha mãe, e desaparecer daqui. E ao meu redor todo dia é luto.
Dez passos do ponteiro, dez segundos despretensiosos. Apenas um deles e todas as luzes podem se apagar.
Enfim, a esquina, a luz da varanda, a porta que me passa segurança.
Entrei, o medo se foi. Mamãe está sentada à mesa. Levanta-se com certa dificuldade, caminha até mim com um lado do corpo respondendo mal aos seus propósitos, um dos pés se arrasta pelo piso grosso de concreto, isso depois daquele maldito infarto.
Ainda bem que eu estava lá, e que bom que sabia o que fazer.
Ela me olha, sorri, tentando esconder a preocupação que eu tão bem conheço, e me pergunta a mesma coisa de sempre.
- Você está bem, querida?
Minha casa é no meio da favela, a Van me deixa há poucos metros de dela, pois moro em frente a uma boca de tráfico.
Sou guerreira, mas mesmo assim tenho muito medo. Me preocupo com ela, e com nosso futuro. A vida não é fácil para ninguém.
O que respondo para ela quando ela me pergunta isso? Respondo como qualquer filho ou filha deveria responder, ou ao menos se sentir.
- Agora que estou com você mamãe, estou segura e bem.
Fim.