O Cemitério Assombrado IX

As meninas foram postas em fila indiana, pelas coordenadoras de área, como sempre, era hora de se recolherem para os seus aposentos. Uma doce menina, tímida e calada. Era comum falar com pesar pelo desamor por ela pelos seus pais - tinha saudades dos seus gatinhos e dos cães, de raça pequena que tinha em sua residência. Certo dia, falou para uma das coordenadoras:

- Eu volto la e mato eles, vocês vão ver...

Foi repreendida. Calou-se, de olhar no chão. Voltou para o seu canto, vivia so, distante das demais - não se dava uma chance para se tornar mais sociável. Tão linda, tão triste.

Agora, tinha quatorze anos. A solidão havia transformado a sua personalidade - era fria e cruel. Era a líder nas organizações de mil e uma estripulias, por ali tramadas. Alinne havia informado á coordenação geral que era ela quem costurava a bainha das saias das alunas - para expor mais as coxas para os funcionários das fazendas que traziam o leite, as hortaliças e as frutas.

Uma hora de castigo, de joelhos, no milho, nada de refeições. Birrenta, a punição aumentava: repousar na grade. Era um quartinho escuro, de menos de um metro quadrado, ali ficaria. As pernas encolhidas, o ar viciado, dificil respirar, ou dormir ali. Quando a gradeira era cruel, a cada uma hora lhe dava um banho de água fria jogando um balde em suas costas. Não havia como a água escorrer, ficava empoçada, tornando a sua estadia mais desconfortável.

As suas colegas oravam a noite toda para que pudesse suportar o sofrimento. A gradeira ouvia a noite toda ela dizer, murmurando:

- Eu odeio todos vocês, mas eles é que vão me pagar. Eu vou matá-los, de forma cruel, vocês vão ver. E a Alinne,huumm..

Quanto mais era torturada, mas se esquecia de sua infância, quando vivia na casa confortável, em meio às criadas, mucamas carinhosas que a amavam como filha. Criados que a tratavam como se fosse uma princesinha. Apenas uma pessoa, para ela existia, um resquício de bons sentimentos, que ousavam e que recusavam a abandonar o seu coração.

- Você resistiu, é a mais dura de todas, as outras quando saem do castigo ficam semanas doentes, febris. Michelli ficou com bronquite.

Disse Lizzia, uma das suas amigas, filha de ricos navegantes - estava ali, porque a sua mãe preferia às festas, as altas rodas sociais á cuidar da filha.

- Eu sou dura de roer, o meu prazer maior será matar, e esse dia se aproxima, vou fugir daqui. Você vai ver...Vou matar todos daqui, também...

Em fila indiana, as meninas eram recolhidas. O regime ali, era rígido. Não adiantava reclamar com os pais, mesmo que notassem ferimentos nos filhos e abatimento. Os pais, sem exceção, eram coniventes com a direção, com a violência, com os absurdos que ali aconteciam.

As mais ricas, de mãe de coração mole, pagavam mais caro e estas possuíam um quarto individual. As demais ocupavam quartos coletivos, ou em dupla. Algumas ja despertando os primeiros desejos provocados pelos hormônios que se desenvolviam em seus organismos - ja falavam da beleza dos homens, que ali, frequentavam para a realização dos afazeres que exigiam um braço forte. As mais libidinosas se entregavam aos devaneios da cama assaltada na calada da noite, em amores de sapho juvenil.

Às sexta-feiras, ali acontecia uma estranha reunião. Muitos homens compareciam. Os pais, também, porém, era mantido o segredo. Os pais não tinham contato com as filhas - o mesmo não acontecia com os filhos - estes recebiam tratamento diferenciado, até mesmo o rigor com a disciplina era bem diferenciado, e até podiam sair, vez em quando para passeios externos, duradouros.

Longe dali, a polícia inglesa investigava o crime do casal que fora dilacerado.

- O que está por trás desse crime bárbaro?

Indagava-se. A lua cheia despontava na madrugada, Londres era uma cidade perigosa para se viver, e algumas cidades no interior viviam aterrorizadas com crimes estranhos: cadáveres dilacerados de forma horrenda, como se tivesse sidos atacados por uma fera feroz-forte e sangrenta.

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 08/10/2012
Reeditado em 08/10/2012
Código do texto: T3922950
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