A Casa do Morro Uivante - II

- Adoro a sua pessoa, minha querida, estou preocupada em residir naquela casa amaldiçoada,ali até o vento sopra a voz dos mortos, não estou querendo assustá-la, pode ser até que seja fantasia, ou crendice popular, mas, desde, que ocorreu o primeiro assassinato naquela casa, a beleza de outrora, se findou. Ali era um paraíso, pode-se ver a bela paisagem das montanhas, a floresta e o rio ao longe. Porém, dizem que ali é a morada do mal, das coisas do mundo dos mortos.

Adelle engoliu em seco. A sua máquina manual de costura findou o ofício naquele momento, era visível a sua preocupação.

- Eu vou na igreja, vou pedir ao capelão que abençõe o local. Um homem de Deus poderá encaminhar as almas.

- Faça como quiser, meu bem. O convite continua de pé, sou uma mulher solitária, tenho um quartinho nos fundos de minha casa, poderá vir morar aqui se quiser, poderá pagar com serviços.

Fez o convite a sua patroa. Uma senhora de fino trato, elegante, tinha o rosto angulosos, grandes olhos azuis. A senhora White era conhecida pela austeridade. Mantinha uma alfaiataria particular - era quem vestia a gente da região. Tinha habilidade para a costura de roupas para bebês, crianças de todas as idades e para adultos- incluindo, senhoras, moçoiolas e para homens. Até mesmo roupas grossas para operários das madeireiras tinha o domínio. Adelle chegara no lugarejo com o fim, de último recurso a vender o seu corpo num bordel - ja não suportava mais passar necessidade. Perdia peso, andava anêmica - pensava até ir contra a própria vida - so não tinha posto fim ao seu plano macabro, devido a presença amorosa do seu irmão - que era muito otimista, e acreditava que as dificuldades da vida existiam para que se poss sair vencedore. " Tudo vai dar certo, ainda vamos arrumar um emprego, os dois, e vamos poder comprar a nossa casa." - Dizia, sempre para ela, quando moravam na conhecida casa do abrigo - um local para forasteiros que trabalhavam na lavoura e nas madeireiras da região. O local era sujo, habitado por ratos-humanos, inclusive-, Adelle sofria muito ali, pois, era mulher, uma dama, não se rendia ás dores da vida. Guardava a sua virgindade e sonhava em encontrar o seu príncipe encantado. Nunca o irmão a deixava sozinha, quando ali estavam. Os homens eram rudes e a olhavam com olhares de malícia. Devoravam as suas formas com indiscrição.

Certo dia, ao sair daquele lixo para tomar um ar puro, deu de cara com a senhora White, que logo simpatizou com a mesma.

- Escute mocinha, está morando nesse antro de prostitutas baratas, dividindo espaço com beberrões e gente da pior laia?

Adelle, surpresa, nada respondeu, pôs os olhos no chão, de vergonha.

- Mocinha, erga as suas vistas- deve se olhar para o rosto de uma dama, quando esta lhe fala, responda.

- Desculpe-me senhora, somos órfãos, de pai e mãe. Vivemos aqui eu e o meu irmão. Não temos alternativas. Estamos com as nossas reservas no fim, talvez, tenhamos que partir, não encontramos vagas entre os lenhadores. Eu poderia cozinhar, e Luccio cortar madeira.

- Eu sou a costureira da região, tenho mais de uma dúzia de moças e senhoras consturando para mim, sabe teiar?

- Não senhora, sou alguém de cozinha. Sei fazer peixes, carne salgada e pirão com verduras, minha senhora mãe me ensinou, desde garotinha.

- Arrume as suas coisas, quero que venha morar comigo, vou te ensinar a arte de fazer vestimentas.

Adelle estava empregada, mas, recusou ir morar com a senhora White e abandonar o querido irmão à própria sorte naquele sobrado de madeira, de muitos andares, habitado pela escória do local - um cuidava do outro. Como era verão, juntaram algum dinheiro- e, assim foi durante mais algumas estações, até que puderam ter em mãos um montante que daria para comprar uma casa simples na região. Depois, pretendiam comprar uma carroça e um bom cavalo para que pudessem se locomover pela região com mais conforto. Quem sabe, criar algumas galinhas, porcos, patos, e poder ter uma plantação de milho, quem sabe, de uvas e viver do próprio sustento.

Correu a necessidade da compra da casa, de boca em boca, até que conheceram o mal-feitor conhecido da região Johnny Bells.

- Peço segredo, ninguém poderá saber, mas, posso arrumar uma casa baratinha para o casal.

- Não somos marido e mulher...

- Amantes?

- Não, somos irmãos órfãos, somos so nós dois na vida.

-Hum, então terão mais ainda a minha colabração e compaixão. Vivemos la naquele muquifo, sei que ali não é local para uma jovem donzela tão doce e meiga como a senhorita. Eu vou arrumar uma casa para que possam comprar, aliás ela ja existe.

Luccio e Adelle ficaram meio pé atrás com o facínora, que vivia de pequenos delitos, era ja velho conhecido da lei, mas, resolveram arriscar. Afinal, de contas ninguém ali se preocupava com eles, com exceção da senhora White e de Orlando Kriegger, o patrão da fábrica familiar de whisky Glue Blue, que o empregara, mesmo sem ter a necessidade, mas, o jovem era disposto, e montada na sua mula, com duas capangas repletas de whisky seguia para a floresta, e entre os lenhadores comercialiva todas as garrafas com habilidade, retornando com todo o dinheiro sem tirar ou por - era muito honesto e trabalhador.

- A casa não tem dono, era da família dos Fox - abandonaram-na e seguiram para Londres, talvez. Podem perder o dinheiro, caso retornem, devia ter me falado antes de fechar o negócio.

Disse a sua patroa, com preocupação.

- Senhora White os documentos foram apresentados, a senhora Fox deixou o senhor Malguerryth, como tutor da propriedade, o mesmo poderia alugar o imóvel ou vendê-lo.

- Malguerryth é um salafrário, invade a floresta, providencia a documentação com assinaturas falsas e facilita a instalação de madeireiras floresta a dentro. Estão devastando tudo, é um criminoso.

Adelle não disse mais nada - parecia ter a certeza que os Fox não retornariam, e que a casa seria deles até o fim da vida, sem problemas. Cuidava de preparar o tecido, depois faria as peças de roupa de sua produção do dia. nada diria ao seu irmão para não preocupá-lo.

Á noite cozinhavam batata e comiam com carne salgada, cultivavam o hábito de tomar café, herança dos pais agricultores.

- Vamos ter um pique-nique no domingo á beira do rio, muitas moçoilas da região e muitos cavalheiros da capital. É o dia da comemoração de fundação da cidade. Talvez, possamos arrumar um casamento, quem sabe.

Disse Adelle, quebrando o silêncio da janta.

- Ninguém quer conta com a gente, pois, vivemos nesta casa. Nenhuma menina da cidade vai querer morar nesta casa comigo, acha que a família vai querer que more na casa onde o vento sussurra a voz dos mortos?

Adelle silenciou. Comeram em silêncio. Pareciam ter a certeza, que resolveram o problema da moradia, porém, foram absorvido pela maldição da casa do morro uivante. A solidão dos dois era como o mais avassaldor inimigo, implacável, cruel. Adelle sonhava em poder experimentar o primeiro beijo, o toque de mãos masculinas, fortes a apalpar o seu corpo, levando-a ao delírio, aos primeiros gozos. E, desejava assim, com ardor, com o tempero do amor - teria que ser o seu marido, o homem que amaria para todo o sempre.

Luccio não se envolvia com prostiutas, não era de se envolver com bebedeiras, apesar de ser um comerciante de whisky. Era uma pessoa tímida, tranquila e muito racional. Tinha uma certeza, inteligente como era pensou assim: " para casar, terá que ser com pessoas de fora, de outra região que não conhecesse a maldição da casa do morro uivante."

- Quero ampliar as minhas vendas senhor Kriegger, poderia sair pela região com algumas mulas carregadas de bebida. Sei que poderá vender muito mais, existem vários lugarejos na região, muita gente ganhando dinheiro á beira do rio com a madeira. Muitos salões de jogos e bebida surgiram...

- Não va com muita sede ao pote, meu caro Luccio - onde há prosperidade, cresce o número de salteadores, não é muito seguro, poderá perder a vida e eu a minha bebida.

Disposta a quebrar paradigmas, Adelle transpôs o pequeno murinho de madeira. E, ali passeou pelas covas do pequeno cemitério, desde que chegaram não ocorreu nenhum enterro, ninguém havia morrido. Observava as lápides, as criptas rachadas. Tudo em total abandono. O cemitério estava tomado pelo mato, ervas daninhas e capim. Árvores de galhos retorcidos, desfolhadas davam um toque sinistro ao ambiente. Passou a ocupar-se aos domingos em cuidar do local - para surpresa do seu irmão, ja que havia demosntrado total repúdio pelo cemitério, logo no início.

- Não entendo por que cuida do cemitério, nem parentes enterrados ali, temos.

- Quero acabar com com o péssimo aspecto que ali, reinava. Vamos acabar com o estigma de que aqui é um local amaldiçoado, o que passou, passou. Somos pessoas boas, não podemos entrar no clima desta casa, nos deixar levar pela maldição. Á noite tem um culto na igreja do Pastor jackson, vamos nós dois.

- Eu, não... estou cansado.

- Não seja um tolo, la tem mocinhas lindas, talvez possa namorar uma delas.

Foi o bastante para o despertar de Luccio, que logo pensava qual roupa deveria vestir, e qual par de botas. Até mesmo no detalhe do cinto o preocupava, e em banhar-se com água de cheiro que a irmã sabia preparar com habilidade, recolhendo ervas da floresta.

- E o capelão, não disse que o traria para benzer á casa?

- Recusou-se, disse que este local é a morada do capeta, e que nova tragédia poderá acontecer por aqui, caso permaneçamos na casa.

( Continua)

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 05/10/2012
Reeditado em 06/10/2012
Código do texto: T3917333
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.