Casa de Laura

Amigo, se eu tenho medo de Fantasmas, alma penada? Claro, no fundo, lá no fundo, todo mundo tem. Olha estou escrevendo esse email, já que você insiste em não acreditar em mim. Cara, você acredita que já se passaram anos e eu ainda não me recuperei dessa noite na casa de Laura, quando lembro daquela noite ou vejo uma figura de barba pintada na parede, passa um arrepio nas minhas costa. Sou racional, leio livros de Sartre, Nietzsche, Marx e Foucault, tentando me manter ateu, seguro no mundo do lado de cá da racionalidade Bendita razão, mas na hora que alguém aparece vestido de escravo bem na sua frente, depois você olha de novo e não está lá, me cago todo, não consigo levantar para ir ao banheiro, neste caso todo racionalismo não vale de nada. Falo para mim mesmo não acredito! Cacete, depende da hora e do lugar, fico fingindo não acreditar, para não parecer idiota, se não eu acreditava, bom meu amigo, agora acredito para você posso confessar.

Faço residência em Patologia no hospital universitário, todo dia vejo defunto, isso é normal para mim, o que nunca tinha visto era defunto andando de um lado para outro, eu vi na casa de Laura. Conheci Laura em uma festa da residência, uma mulher obsecada por sexo que me achava bonito, combinávamos na cama, além desse detalhe tão importante, ela era uma companhia agradável, gostava de literatura, jazz e cinema. Laura, era magra, baixa, tinha olhos grandes e cabelos pretos, foi casada com um executivo da indústria do aço por dez anos, teve duas filhas, ele morreu em um acidente de carro deixando Laura livre, segundo ela e passou a perseguir ela do lado de lá, quero dizer como fantasma.

Laura era doida, havia passado por todo tipo de religião, espírita – me garantiu que falou com o marido e que ele estava bem e queria que ela fosse para lá com ele, disse que por enquanto não e que a deixasse em paz. Mudou para religião protestante, e achou que falou com satanás e não com o marido. A religião era rigorosa demais, não podia cerveja, fumar e mine saia. Em uma decisão rápida, ela decretou que a religião protestante proibia demais, passou a ser católica, nesse trajeto logo e eclesiástico, fez um pequeno estágio na magia negra. Contou para mim, em detalhes, um desses rituais que fez para se livrar do marido o industrial, ele perseguia ela como fantasma, desses que se sacrifica animais, fiquei pirado e não consegui dormir.

-Laura, nunca mais me conta essas coisas.

-Ju, funcionou, ele nunca mais apareceu.

Apaixonado por Laura? Não era, isso é certo, mas ela era um furacão sexual, a gente se divertia muito, saímos na noite, íamos ao cinema e passeios no parque botânico.

Uma vez ela me falou:

-Aqui já fiz um.

-Um o quê? – Perguntei com cara de bobo.

-Um trabalho. – Ela disse e depois completou - foi o meu Mago, foi o"trabalho" feito aqui que funcionou, foi bem ali perto das roseiras, ele depois morreu de câncer, o meu Mago, coitado.

- Não me leva para passear nesses lugares.

O apartamento de Laura era decorado com todo tipo de artigo religioso, havia pertencido a uma pessoa que morreu de AIDS, o dono anterior do apartamento, claro, nunca que a Laura ia comprar um apartamento comum, desses que vem sem assombrações, direto da construtora. Quando entrei senti um peso na minha cabeça, parecia sentir um vulto ao lado de Laura, aquilo me deixou logo bolado, até os móveis eram em rústicos.

Disse isso a ela.

-Acho que você é médium, Ju.

-Sou o quê?

Ela me explicou, mas só entendi que médium é aquele que fica sentindo e pressentindo fantasma o tempo todo, só de pensar nisso, agora tenho vontade de correr e entrar na coberta, chamar minha mãe e pedir para ela rezar o Pai Nosso comigo.

-Não é melhor a gente sair. – Perguntei levantando da cama, onze e cinquenta, as luzes fracas do apartamento de Laura davam a impressão que estava para cair à energia, tinha dificuldade de enxergar, quando olhava aquelas imagens na parede, Deus me livre! Elas pareciam piores do que eram pela manhã. Principalmente duas delas, um homem de barba, outro uma mulher, imagens de senhores idosos, imagens por toda a parte.

-Por quê você não tem uma fotografia do Justin Bieber? Pra que essas fotografias velhas. Vem cá, na sua casa não tem nada moderno?

Laura riu. – Ju, como você é engraçado!

-Vamos tomar um café ? – Perguntei a Laura. Depois de levantar, minhas costas doíam, tinha uma sensação de abafamento, meu corpo queria levitar, fui ao banheiro, quando abri a porta, havia alguém lá, fechei e pedi desculpa.

-Tem alguém no banheiro. – Você não disse que estávamos sozinhos?

-Não tem ninguém aqui.

Ela riu. – Você está me assustando, nunca ninguém se comportou no meu apartamento desse jeito.

-Laura, tem alguém no banheiro. – Fui até o banheiro, não havia ninguém lá. – Abri a porta do quarto, fui até o quarto das meninas, elas estavam na casa da avó.

Laura impaciente falou: – Não tem ninguém aqui, além de mim e você.

Sentei na mesa, no centro da mesa da cozinha um vidro grande com biscoitos champanhe, gosto desses biscoitos desde criança, olhei para o vidro de biscoitos que estava cheio até o topo, Laura preparava o café, quando me distrai aquilo aconteceu: O vidro, inesperadamente ficou suspenso um metro no ar, caiu e espatifou em mil pedaços. Não podia falar, acabava de presenciar o primeiro fenômeno paranormal da minha vida, logo com um biscoito champanhe!

Laura olhou assustada – O que você trouxe para cá Ju?

-Trazer? Isso já estava aqui.

-Tem alguém aqui que veio contigo.

-Eu? – disse assustado.

-É você, eles se comunicam com você.

A luz apagou e um quadro foi arrancado violentamente da parede e acertou a janela do outro lado, tivemos que sair correndo de lá, nunca mais quis ver Laura.

Saia daí, meu amigo, pois fantasmas existem.

JJ DE SOUZA
Enviado por JJ DE SOUZA em 03/10/2012
Reeditado em 24/10/2020
Código do texto: T3914706
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