Anseie para entrar, reze para sair.
A festa estava no auge quando Eduardo chegou. Por todos os lados havia gente se sacudindo no embalo de uma música desconhecida. Garçons circulavam incansavelmente distribuindo bebidas e petiscos. O rapaz pensava na sorte de ter conseguido um convite, enquanto bebericava uma bebida adocicada. Já tinha ouvido falar das festas que eram dadas no antigo sobrado e do quanto era difícil participar. Relembrou então da surpresa que foi encontrar entre as correspondências o tão sonhado passaporte. No convite ficava claro que somente ele poderia comparecer e que deveria vestir-se com roupas típicas do século dezoito e que era proibido o uso de celulares. Eduardo achou engraçada essa proibição em pleno século vinte e um. A primeira vista era uma festa como tantas outras. Pessoas flertando, rindo ,bebendo e dançando, mas o rapaz começou a estranhar que a música não mudasse que só tivesse um tipo de bebida, que ninguém conversasse. Sem falar que a comida servida, era uma espécie de bolinho de carne meio crua e de sabor estranho. O moço começou a se sentir inquieto e pensou em ir embora, mas nesse momento se aproximou uma garota loira muito bonita e o convidou para dançar lhe puxando para o meio do salão. Encabulado pela beleza da moça, Eduardo aceitou. A jovem tinha a pele gelada e um olhar esquisito, mas sorria para ele de maneira angelical. Dançaram durante algum tempo e quando ele começou a se cansar, ela o conduziu para um dos aposentos. A penumbra impedia que Eduardo avaliasse os objetos que o cercava. A garota até então não havia dito uma única palavra, e o moço estava ansioso por conhecê-la. Perguntou a ela como se chamava, mas como se não entendesse a pergunta à moça apenas sorriu e colou seus lábios nos dele. Todo o corpo do rapaz se arrepiou ao sentir aquela boca fria lhe tocando. Afastou-se enojado, mas nesse momento a jovem acendeu a luz e Eduardo notou apavorado que estavam dentro de uma câmara fria, e que pendurados em ganchos nas paredes, havia corpos de todos os sexos. Alguns bastante esquartejados. Com ânsia de vomito, o rapaz empurrou a mulher, abriu a porta e voltou à sala anterior. Em seu encalço estava à garota loira com uma enorme faca de açougueiro. Eduardo gritou pedindo socorro, mas as pessoas continuaram dançando indiferentes. Tentou alcançar a saída, mas uma facada certeira o atingiu nas costas. Quando recobrou a consciência o rapaz notou que estava preso por correntes e que em sua frente à linda loira com a boca suja de sangue, mastigava algo deliciada, e ao olhar com mais atenção descobriu que oque ela comia era uma de suas orelhas. Quis gritar, mas percebeu que metade de sua língua já havia sido devorada pela moça, assim como o seu pé direito. 30/09/2012