Revelações em Pudenziana - Trecho

(Esse é um trecho do Livro que estou fazendo em parceria com uma amiga; Esse pedaço é escrito por mim. Vou divulgar aqui no Recanto para receber criticas, elogios... Estou querendo saber se estou conseguindo escrever no rumo certo e em que preciso melhorar)

Revelações em Pudenziana

Um dia antes do caso em Santa Maria em Trastevere, um acontecimento muito misterioso teve como palco outra basílica de Roma: Santa Pudenziana.

Vários passos sutis ecoavam pelo corredor à direita da basílica Santa Pudenziana de Roma. Pelos antigos corredores dos banhos romanos caminhavam quatro figuras escuras. Os altos arcos com colunas transformavam os cuidadosos andares do grupo em aranhões que violavam o silêncio impecável daquela noite. Sob a semiluz de algumas janelas, os sujeitos seguiram para uma grandiosa entrada no fim do corredor: a nave principal. O primeiro de eles a cruzar a porta sentiu-se arrepiado por debaixo das grossas vestes negras que cobriam dos pés à cabeça, deixando à mostra somente os olhos, assustados.

- Nossa... – deixou escapar, petrificado.

- Por que você não anda, Lucci? – sussurrou o segundo, querendo continuar. O terceiro empurrou os rapazes apalermados com violência, fazendo Lucci despencar desavisado sobre o solo da nave principal de Pudenziana enquanto o segundo se reequilibrava. “Shhhhh” fez o quarto, repreendendo os demais.

- Será que vocês não conseguem fazer silêncio? – sibilou uma voz de mulher – Rafael, não empurre o Lucci, ele pode cair e embaralhar o resto de inteligência que ele tem! – O segundo ladrão deu uma risadinha – E calado, Jey!

Agatha tomou a frente, apressada, enquanto Lucci se levantava resmungando. Agora entendeu por que Lucciano havia ficado paralizado.

Tudo estava escurecido, ainda assim eram visíveis os mosaicos da abóboda. Aquela escuridão, o silêncio, os desenhos estranhos e o frio arrebatador fizeram Agatha paralizar-se.

- Está com medinho, Agatha? – Riu-se alto Jey, atrás dela, segurando a cintura da moça. Ela deu-lhe um soco no estômago e antes que ele gritasse, tapou sua boca.

- Eu já disse pra ficar calado Jey! – sibilou. Os três homens ficaram em silêncio absoluto. “Quem bom que entenderam!”.

O grupo atravessou entre os longos bancos da assembleia, obedientes. Agatha ia à frente. Empunhava uma lanterninha de luz azul, apontando-a para várias direções. Quando chegou ao portãozinho que separa a assembleia do presbitério, virou-se para o grupo. Ela se agachou. Todos a imitaram.

- O.K – começou a moça – O frade está bem amarradinho, não é Jey?

- Amarrei tão bem que ele não consegue nem piscar.

- Ótimo. Nós vamos nos separar para achar a tal coisa. – Ela deu walk talkies velhos na mão de cada, ficando com um para si. – Isso aqui é para nós sabermos quando um achou. E isso aqui... – tirou, com dificuldade, de uma sacola papéis muito amassados depois os desembrulhou, entregando a todos -... É o mapa dessa “capelinha” – O lugar era enorme.

- Quer dizer que vamos ter que andar sozinhos? – tremeu Lucci – Quer dizer... Seria melhor fazermos duplas, não?

Rafael bufou, colocando a mão na cabeça.

- Posso bater nele? – Disse, olhando para Agatha.

- Não, deixa que eu faço isso – A moça deu uma forte tapa no pescoço de Lucci. “Ai! Que droga!” – Enfim... Eu vou ficar aqui na nave principal. Jey, você procura nas laterais. O Rafael fica com os andares superiores. Lucci, você vai procurar no subterrâneo.

- O que? Ah não, Agatha! – protestou Lucci. Rafael fez uma menção de um soco, mas Agatha segurou-o. Ela começou a falar:

- Lucci... Nós não invadimos uma igreja para nada! Tem muito dinheiro envolvido nisso. Só temos que pegar essa coisa escondida nessa igreja. Você quer ser rico, não quer?

- Mas... – insistiu Lucci – O Jey poderia ir ao subsolo e eu iria nos andares superiores, não teria problema algum... Não é?

- Não! Lucci fica calado ou então vou deixar o Rafael te dar uma surra e te amarrar junto com aquele frade idiota!

Lucciano ficou em silêncio. Rafael cruzou os braços, fazendo pose de machão. Jey então disse:

- Vamos logo com isso. Agatha, são duas horas e vinte minutos da madrugada, daqui a pouco já está amanhecendo.

- Isso mesmo – concordou a moça - essa basílica é enorme e só temos uma dica de onde está essa coisa: – puxou um papelzinho do bolso e o leu em voz alta:

“Um livro branco enterrou três, Abaixo dele o livro negro dorme”.

- O que não ajuda em quase nada – disse Jey. Todos concordaram.

- Eu acho... – Rafael disse num tom de intelectual – Que esse tesouro está perto de um livro... Que está perto de outro livro.

- Isso é óbvio, não é, Rafael? – Caçoou Jey – Basta saber ler!

- Então fala o que você acha gênio! – Vociferou Rafael. Ágatha fez: “Shhh”

- Primeiramente – disse ela -a gente tem que procurar qualquer coisa que lembre livro, a cor branca... Qualquer coisa. De preferência coisas antigas Se acharem algo suspeito que lembre alguma palavra do enigma, chamem no walk talkie... O.K. Agora vamos logo.

Agatha levantou-se. Em seguida todos já estavam de pé. Rafael subiu as escadas à esquerda. Lucci foi para a mesma direção, porém com destino a uma descida nada animadora. Estava visivelmente amedrontado. Só restavam Agatha e Jey no meio da nave principal da igreja. Ela olhou para os cantos... Tirou a máscara preta, revelando seus longos cabelos loiros, rosto fino bronzeado. Seus lábios carnudos sorrindo. Ela era linda. Jey retirou também sua mascara. Era um rapaz bonito de curtos cabelos negros, pele parda com a barba a fazer. Inesperadamente eles se beijaram numa selvageria longa. Ele mordeu a orelha de Agatha e ela pisou no seu pé com força. “Au! Haha”. Então ela o puxou pelo cabelo, beijando-o entre risos.

- Ah, nós vamos ficar ricos... Jey, seu idiota, você tem noção disso? Bilhonários!

- Eu sei disso, só nós... – Eles se beijaram loucamente. Jean colocou as mãos nas costas de Agatha... Depois baixou para a cintura... Depois baixou mais ainda... Então Agatha deu uma bofetada em seu rosto, rindo.

- Estúpido, aqui não! – sibilou a moça. Dando um empurrão em Jey. Ele riu e aquietou-se, pensativo. Depois olhou para os cantos e sussurrou:

- Hey, Agatha... E se eles acharem o tal artefato?

- Eles nunca irão achar, por que estão procurando no lugar errado. Eu já decifrei o enigma... – ela deu uma piscadela. Jey ficou boquiaberto – pegamos, vendemos e sumimos!

- Então! Onde está? – quis saber Jey, empolgado.

- Idiota, eu disse que decifrei o enigma, não que eu achei a coisa! Por isso que vamos procurar... Só pode estar em um de dois lugares: ou aqui, ou nos banhos.

- E o que a gente vai procurar, exatamente?

- Uma bíblia muito, mas muito velha. Caindo aos pedaços. Vou ficar procurando aqui e você vai para os banhos, O.K?

- Seu pedido é uma ordem... – Jey se aproximou e a beijou novamente. Ela segurou no peito do rapaz, como se alisasse, porém deu um empurrão forte, fazendo quase cair.

- Vai logo – sibilou Agatha, rindo. Jey sorriu e correu para os corredores dos banhos Romanos, mandando um beijinho para a moça.

Completamente só, Agatha repetiu para si mesma: “Um livro branco enterrou três, Abaixo dele o livro negro dorme”. Começou a vasculhar pelas paredes que delimitavam aquele salão da basílica. Tateou pelas paredes de trás das colunas, à procura de algum fundo falso, algo do tipo. Depois de cobrir toda a lateral da nave principal, começou a vasculhar pelo presbitério de Santa Pudenziana.

Tateou pelos quadros atrás do altar, procurando alguma porta secreta. Caçou por debaixo de um tapete, talvez houvesse algum chão falso. Abriu a gaveta da mesa do altar. Havia areia cobrindo todo o espaço. Ela passou a mão, encontrando uma grande quantidade de... Nada. Agatha fechou a gaveta, um tanto desanimada. “Um livro branco enterrou três, Abaixo dele o livro negro dorme...Um livro branco enterrou três, Abaixo dele o livro negro dorme... Um livro branco enterrou três, Abaixo dele o livro negro dorme” repetiu isso dezenas de vezes, até que... Percebeu. Era óbvio. Voltou para a gaveta do altar, remexendo na areia santa de cemitério. Só podia estar lá.

E conseguiu encontrar uma discretíssima maçaneta, se abrindo em um fundo falso da gaveta. Havia uma bíblia velha e empoeirada enfiada na parte debaixo da gaveta. “Será que é esse?”. Agatha retirou cuidadosamente a bíblia.

Folheou, com sutileza, para não rasgar nada. Entretanto, não passava de uma bíblia sagrada comum, com os evangelhos clássicos. Então a colocou em cima da toalha branca do altar. Com um olhar rápido notou que ainda havia algo na gaveta.

Agatha ficou imediatamente maravilhada com o livro, que estava fechado, com um selo de papel com uma figura geométrica estranha desenhada, impedindo que o livro fosse aberto sem rasgar o selo. “Não mexa em nada, apenas traga para mim”, disse o comprador há uns dias atrás, quando se conheceram. Era um homem jovem, ruivo, estranhíssimo. Não importava. Ele oferecera à Agatha uma maravilhosa quantia caso ela trouxesse para ele certo artefato escondido numa igreja. Ele somente deu para ela o papel com o enigma e a recomendação de não violar o conteúdo do artefato que encontraria. Iria encontrá-lo quando amanhecesse e aí ela e Jey fugiriam com todo o dinheiro para um lugar bem longe da Itália, talvez o Brasil.

Porém, assim que Agatha viu o livro preto selado, sentiu-se muito, mas muito tentada em abri-lo. Era como se vozes dissessem: “Basta abrir... Olhar uma vez”. Fitou aquele estranho selo... “Basta abrir... Só uma vez...”. Quando deu por si, folheava o caderno grosso de capa negra. Foi notando do que se tratava. Era uma espécie de diário que pertenceu a três irmãs: Apri, Samara e Gorgora Bonona. Letras borradas e bonitas na contracapa. “Que estranho”. O tal caderno era repleto de símbolos estranhos, desenhos bizarros e inscrições de línguas desconhecidas por Agatha. Mas era tudo tão misterioso e bonito... Agatha estava tão concentrada, não conseguia para de olhar. No cabeçalho de uma página estava escrito: “Dança com o Pai”.

Um ruído alto cortou o silêncio.

Agatha assustou-se tão violentamente que deixou o livro cair para baixo da mesa do altar. “Droga”. Era o Walkie Talkie, zunindo.

Uma voz arranhada pela estática cortou o silêncio quando Agatha liberou a linha. “Aqui é Jean para a minha gostosa. Não encontrei nada por aqui, e você?”. A moça riu: “Agatha para Jey. Encontrei faz cinco minutos. Pode vir...”. O chiado da outra linha foi liberado: “Jey para Agatha. Estou indo aí e dessa vez você não me escapa”.

Agatha riu, abaixou-se para pegar o diário que havia escorregado para baixo da mesa. Esticou-se para tentar alcançar, com o walkie talkie grudado na orelha. “Vem rápido Jey ou então eu vou perder todo o tesão”.

“Nossa, já estou indo. Correndo...” respondeu Jey. Ele ouviu a linha de Agatha se liberar. Esperou ela falar, mas ouviu só a vozsinha fraca de Agatha: “O que é isso”. De repente o walkie talkie reproduziu um chiado muito alto, como se fosse explodir, obrigando Jey a desencostar do ouvido para não ficar surdo. Subitamente, os chiados voltaram a ficar fracos. E aí veio o grito que não ouviu somente pelo Walkie Talkie, mas que ecoou por toda a igreja.

Jean correu pelos corredores dos banhos Romanos. “Droga, droga, droga!”. Tinha uma coisa muito errada acontecendo. Jey gostava muito de Agatha, tinha medo só de pensar de ela estar machucada. Será que ela havia caído do altar ou algo do tipo? Tropeçado na escuridão. “Droga, mas que droga!”. Assustava-se só com a ideia. Agora na sua frente estava porta enorme revelando o escuro salão da basílica, a nave principal. Jey atravessou, correndo para o presbitério.

Ninguém.

Não havia nada derrubado, nada desarrumado. Então notou.

- Tudo bem, Agatha. Você conseguiu me assustar, O.K? –A voz risonha de Jey ecoou solitária pela alta estrutura. Os bancos estavam vazios. Jey sentiu um frio de congelar a alma, em seguida... Era como se não estivesse sozinho. Olhou para a porta da qual viera, pensando seriamente em sair dali o mais rápido possível.

- Tarde demais... – uma voz sussurrou no seu ouvido.

Rafael e Lucci também tinham ouvido o grito vindo da nave principal da igreja. Lucci, com uma lanterninha fraca, subiu as escadas do subterrâneo, tremendo de medo. Rafael desceu as escadas do segundo andar, seguindo os gritos. Ambos então se esbarraram em um encontrão violento. Rafael, corpulento, mal se moveu, enquanto Lucci quicou para trás, se espatifando como um pudim no chão. “Levanta logo daí, seu idiota”.

Quando os dois entraram pela esquerda da nave principal, sentiram o clima tenso. Estava tudo muito silencioso, era macabro. Lucciano fitou toda a extensão da igreja, tremendo de medo. Fez uma careta estranha.

- Para mim já deu! Vou dar o fora daqui! – Lucci fez menção de correr para a saída principal da igreja, quando algo caiu do teto, aos pés dos dois.

Lucci deu um grito estridente. Era o corpo de Jey. Ensopado, branquíssimo, com a boca aberta e os olhos vidrados, com uma expressão medonha de medo. A barriga estava muito inchada, quase a ponto de estourar como um balão.

- Mas que merda está acontecendo aqui...? – disse Rafael assustado, se afastando do corpo. Lucci paralisou-se, em estado de choque. Quando ele finalmente entendeu o que estava acontecendo, olhou para todos os lados, a procura da saída mais próxima. “Tenho que dar o fora daqui já!” e disparou em direção à porta principal da basílica Santa Pudenziana. Só precisava abrir a porta e fugir sem olhar para trás. Correu tão desesperadamente que tropeçou, rebolando no caminho entre os bancos longos da assembleia. Atordoado, levantou-se. Estava fazendo muito silêncio.

- Rafael?

Ele não estava mais lá. O coração de Lucci batia tão forte que parecia querer ser cuspido pela boca. Fez menção de se levantar, mas parou quando ouviu um ruído a sua frente.

Lucciano virou-se. Deu de frente com Rafael. Os olhos desfocados do seu amigo. Havia muita água saindo de dentro de sua boca... Roxa Morto. Lucci pulou no mesmo instante para longe dele, sentado, arrastando-se para longe do outro corpo. E então suas costas encostaram-se a alguma coisa. Ele entrou num desespero silencioso. Virou-se lentamente.

Não parecia ser a mesma pessoa. Ele quis perguntar o que estava acontecendo, mas a única coisa que veio de sua boca foi uma golada de água. De repente sentiu muita falta de ar. Lucci colocou a mão no pescoço, arranhando a garganta, numa tentativa inútil de respirar. Golfava nervosamente a procura de ar, mas só engolia mais água. Entalado, soluçava, chorando miseravelmente. Sentiu os pulmões queimando, era como se estivessem em chamas. Ele começou a mover os braços e as pernas, como se brincasse de nadar. Pouco a pouco seus olhos começaram a ficar fora de foque, vazios. Então sua expressão de desespero congelou-se. Lucciano estava tão pálido... O baque surdo do corpo rompeu pela madrugada, às três da manhã.

Agatha desceu de um táxi na praça Santa Maria em Trastevere.

- Ei! Você não pagou pela...

O olhar dela foi tão tenebroso que o motorista esqueceu tudo e arrancou com o carro.

Agora ela mancava pela passagem Della Paglia com uma camisola grande demais para seu corpo. Segurava alguma coisa encostada no peito, visivelmente afetada. Quando entrou na basílica de Santa Maria em Trastevere, chamou muita atenção. Alguns fiéis que oravam, olharam para a loira com enormes olheiras de choro. Ela atravessou as cadeiras da Igreja.

- Meu Deus, o que aconteceu com você, minha filha? – Disse a irmã Marie Gonatti, uma das administradoras da basílica Santa Maria em Trastevere. Ela orientou a moça a sentar-se em uma das cadeiras.

- Eu... Eu... – soluçou. A freira afagou bondosamente nos cabelos loiros de Agatha, transmitindo confiança.

- Pode falar, querida, eu estou aqui.

- Eu... Eu não sei... Quando acordei, estavam todos... – Agatha chorou em silêncio. A irmã Gonatti olhou ligeiramente assustada para a moça.

- Pode falar. Eu vou lhe ajudar.

- Todos morreram! – gritou Agatha, num súbito acesso de ódio. A freira afastou-se com o susto.

- Foi tudo culpa minha!

- Você quer dizer... Você matou alguém?

Agatha ficou calada, tremendo. A freira notou que a moça segurava fortemente alguma coisa.

- O que é isso? Pode me mostrar?

A expressão da loira mudou imediatamente. O olhar frio fez a freira arrepiar-se. Ela afrouxou o braço e deixou a freira pegar o velho livro de capa de couro preta. Havia várias imagens no livro, mas a freira parou justamente na parte onde estava um desenho, sobrescrito “dança com o pai”.

- Esse livro é seu? – quis saber a irmã Marie Gonatti.

- Agora é seu.

Victor Yomika
Enviado por Victor Yomika em 30/09/2012
Reeditado em 30/09/2012
Código do texto: T3908359
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