A casa Maldita

Lidia e Alexandre

O pátio do estacionamento da loja de departamentos estava cheio de carros, porém só havia duas pessoas, Alexandre e Lidia, que já estavam discutindo por duas longas horas, sobre o mesmo assunto, um casal quando quer discutir ninguém consegue parar, nem mesmo o tempo. Alexandre trabalha como diretor administrativo de hospital, fisicamente está fora do peso, tem passado por muitos problemas de saúde,hipertenção, esses problemas tem interferido no seu desempenho sexual, no trabalho e está com dificuldade até para dormir. Lidia é professora primaria, descobriu que era estéril no mês passado, a verdade, que dói em Lidia, é que ela já sabia. Alexandre era o segundo marido de Lidia, e já tinha um filho, Lidia estava arrasada, pois o marido achava perfeitamente normal se viver sem ter filhos, não queria adotar uma criança, esse egoísmo de Alexandre que estava levando aquela briga durar por duas horas, tinha tantas crianças abandonadas no mundo, agente precisava adotar uma, seria um ato cristão, além disso consolaria o coração de Lidia.Alexandre, pensava diferente, se a criança tinha sido abandonada, porque ele iria se intrometer entre o destino e a criança, a vontade de Deus foi que não tivessem filhos, não queria adotar, andava lendo livros de genética e psicologia evolucionista, não queria uma pessoa de genética diferente da sua, Lidia poderia amar Igor como um filho.

-Lidia, pela ultima vez, vamos embora, isso já esta ficando ridículo – ele olhou para o relógio – tem duas horas que estamos falando sobre o mesmo assunto, não vou adotar, já tenho um filho, você se quiser pode adotar ele.

-Isso é uma prova de amor – Ela gesticulava o tempo todo,e, quando estava com raiva gritava – Prova de amor para mim,para a vida, para Deus – fez um gesto de pegar o celular.

-O que está fazendo?

-Vou ligar para Heloisa, quero que você converse com a nossa melhor amiga, diga para ela que você não me ama que quer acabar tudo comigo.

Alexandre já sabia que a historia acabaria assim, em chantagem com ligação para irmã de Alexandre, que gostava mais de Lidia do que dele, se achava uma super mãe, queria que Alexandre ouvisse a mulher, afinal Heloisa tinha dois filhos, isso dava experiência de sobra para se intrometer.Feito essa ligação, Heloisa só desligaria o telefone se a bateria acabasse, ou se a gente desligasse, Heloisa ficaria ligando varias vezes dizendo que Alexandre era insensível.

-Ok – ele disse vencido – passamos as nossas férias no sítio do Tio Bruno, quando voltarmos prometo que vou ate a assistente social, vamos procurar uma criança para adotar – Alexandre nem sabia se estava mentindo ou se já havia capitulado mesmo,ele nem sabia mais.Queria parar a discussão por ali, não queria mais aquela discussão,sua cabeça esta doendo.Lidia pulou no pescoço dele e começou a beijar , apertar os lábios contra os dele, não é que não gostava mais dela e que Alexandre não senta mais vontade de beijar a mulher.Não era mais uma relação de amor entre duas pessoas onde a alegria estava presente, havia uma obsessão, amargura, rancor e disputa. Lidia era muito bonita, porém tinha se tornado uma mulher amarga obcecada pela maternidade,.O que ela não percebia é que Alexandre já sentia uma enorme dificuldade em ser o pai de Igor, estava agradecendo a Deus Lidia ser estéril, agora queria ir para casa dormir.

-Podemos olhar só mais um pouquinho as lojas?

A paranoia de Lidia em ver roupas de bebê estava beirando a necessidade de tratamento com remédio.

-Preciso trabalhar, se você quiser ficar com o carro eu vou de taxi.

Lidia abaixou os olhos e disse – Não, não vou com você, sei que você detesta lojas de bebê, só quero uma promessa, depois das férias que você inventou no meio do mato, você vai comigo na assistente social comigo, vamos procurar o nosso bebê?

-Vou. – Mentiu de novo.

Heloisa e Carlos

-Heloisa, onde está a minha meia?

-No raio que o parta – disse tirando os óculos – esta pensando que eu sou sua empregada, não procura a sua meia para ver se você vai achar.

-Você tem que falar assim comigo?

-Você é cheio de vontade, não me irrita que eu estou na TPM. Quando estou normal eu já quero te matar Carlos, imagina na TPM?

-Heloisa, eu não fiz nada.

Carlo, um marido pacato trabalhava de segurança em uma empresa há mais ou menos seis meses, diga-se de passagem, esse foi o emprego que mais durou, não tinha aptidão para nada, quando Heloisa conheceu Carlos ele era promotor de vendas de uma marca de chocolates, porém um homem atlético, ele lutava lutas marciais em geral e MMA, gostava de arrumar confusão em bar e demonstrava um ciúme de Heloisa fora do comum, mas do trabalho sempre fugia, dizia que tinha uma hérnia de disco, por isso não conseguia trabalhar. O Casamento de Carlos com Heloisa, atual provedora da casa, era uma combinação perfeita, pois Heloisa era juíza do trabalho casou com Carlos contra a vontade do pai.O Dr Valdir achava o Carlos um merda, que nunca ia dar em nada arrumou um emprego para ele no tribunal,que o mesmo perdeu por sair com uma das atendentes do balcão, perseguiu ,depois disso, o genro Carlos o quanto pode, até que o velho desembargador morreu de enfarto ano passado.Heloisa mulher rica e dona de um patrimônio invejável, do outro lado,o bonitão atlético e charmoso Carlos, com medo da briga se aproximou.

-Vamos tirar férias amanhã – Carlos abraçou a mulher – relaxa Heloisa.

A saída

Chovia forte pela manhã quando o casal se encontrou, o siena do Alexandre foi o carro escolhido para o passeio, era mais confortável,existia um pacto entre eles para evitar que Carlos dirigisse.Heloisa considerava Carlos um perigo no transito.

-Alguém esta levando chocolate – disse Heloisa – aviso, estou na TPM, chocolate me acalma.

-Carlos, disse Alexandre, você acha uma boa ideia agente sair nesse tempo, quando for cinco horas da manhã de amanhã a serra estará com uma neblina tão densa que a gente não vai ver um palmo a frente do nariz.

-Se eu não sair nessas férias, acho que endoido. Heloisa está na fase que não toma os remédios dela e desconta tudo em mim.

Alexandre pensou, mas não disse:”eu também acho que estou para perder o juízo.”

Saíram pela manhã, a chuva voltou, subiro a serra devagar, com o problema de visão de Alexandre e o medo de Carlos dirigir, o siena não saia de quarenta quilômetros por hora, Heloisa perguntou a Lidia.

-Esse seu marido tomou algum remédio para dormir?

-É que o Alexandre não enxerga muito bem, sem os óculos, não enxerga muito – disse Lidia.

-Tá, mas ele está usando óculos agora.

-Lidia preferiu não entrar em polemica, estava ansiosa para que a viajem terminasse logo e voltassem para a capital, afinal Alexandre havia concordado em adotar uma criança, pelo menos era nisso que ela pensava o tempo todo.

-A chuva está muito forte, não poderemos dirigir a noite e já está escurecendo.

Alexandre tinha falado de forma provocativa, ele sabia que Heloisa se recusaria a ficar no carro até o dia amanhecer.

Dez horas da noite, não dava para rodar mais, a chuva estava muito forte e lá fora um breu, o farol já não conseguia iluminar muito, haviam algumas arvores caídas pela tempestade, e Alexandre, mesmo sabendo que haveria polemica, disse.

-Hora de parar, chuva esta muito forte, temos que encostar, agente espera um pouquinho e coloca a conversa em dia.

Quinze minutos de silencio total, o barulho da chuva batendo no capô do carro.

-Quem inventou isso? – Perguntou Heloisa.

-Você – disse Carlos, seria preferível não dizer nada.

-Deve ser porque as coisa na minha casa não estão indo bem, uma certa pessoa arranjou um filho fora do casamento, agora eu tenho que dá um jeitinho no assunto. –Ela virou a cara – até pedir para mulher sumir dando dinheiro eu pedi.

-Isso foi antes de casar com você Heloisa – reclamou Carlos, mesmo sabendo que esse assunto não teria fim.

-Não importa, safadeza é safadeza, sabia que eu trai você?

-É mesmo, quem foi o doido?

Alexandre estava para intervir, quando Heloisa deu tentou dar um soco em Carlos, que tentou se defender e acertou o rosto de Lidia, fazendo a menina sangrar o nariz.Alexandre deu um grito.

-Não vou adotar criança nenhuma!Proto falei.

-Fedeu – disse Heloisa – Agora a nossa briga vai ser nada perto disso ai.

Lidia, com a mão no nariz que sangrava, olhou para Alexandre com raiva disse.

-Abre a bosta dessa porta.

-Está chovendo. – Alexandre tentou argumentar.

Foi quando alguém bateu com força no vidro do carona.

-Jesus misericórdia – disse Heloisa – É satanás quem está lá fora.

Quem estava do lado de fora com um velho alto,com enorme guarda chuva, alto e magro, não dava para ver o rosto dele direito, bateu novamente no vidro, Carlos e Alexandre estavam petrificados.

Lidia falou – Abre essa merda de janela.

Alexandre abriu.

-Estão perdidos?

O velho tinha uma voz rouca e fina, parece que,provavelmente depois de um câncer de traqueia ou laringe teve que fazer traqueostomia, a voz tinha que sair parte pelo buraco da traqueia.

-Não exatamente, paramos por causa da chuva – disse Alexandre.

-Não vai dá para vocês ficar aqui, uma barragem rebentou logo ali acima, terão que vir comigo até a minha casa, à esquerda, estou em uma motocicleta, são só cem metros, mas o terreno é bem acidentado tem que ter cuidado, logo vai ficar tudo alagado por aqui.

Os amigos, se entreolharam, porem não tiveram escolha foram até a casa do bom samaritano, a chuva continuava forte, ele abriu a garagem, era um galpão, onde antigamente se guardava café para a venda posterior quando o preço estaria melhor, agora era uma garagem improvisada.

A casa ficava a vinte metros de onde deixaram o carro, todos chegaram ensopados até a casa, só estranharam a indelicadeza do homem em não dividir o guarda-chuva, principalmente com as mulheres.

A casa era toda cercada por uma varanda, cheia de samambaias, o piso ainda era cimento, dormindo no chão um cão vira-lata, molhado marrom e com bichos na pata e nas orelhas.. As paredes da casa ainda estavam no tijolo, apenas a parte de trás começava a ser rebocado, telhado de tenhas colonial e janelas de madeira, a porta, uma estrutura antiga feita de madeira bruta, quando entraram na sala, viram que não existia forro, quase não tinha móveis e a instalação elétrica era precária.

-Vivo aqui,quero dizer, me escondo com meus três filhos, minha esposa Maria, meu sobrinho Sergio, espero que façam da minha casa a sua casa, enquanto durar a tempestade.

A casa cheirava a fumaça, possivelmente o fogão a lenha, pensou Alexandre, talvez tenha alguma comida.

-Nos agradecemos, se pudermos pagar pela comida e estadia me sentiria mais confortável, afinal são quatro pessoas.

O velho tinha quase dois metros, chegou perto de Alexandre que tinha um e setenta, esse pareceu baixinho, um pigmeu, que segundo a própria Heloisa, que conhecia o irmão pode perceber, estava tremendo.

-Não me ofenda. – O halito ruim do velho deixou Alexandre tonto. Depois de falar, o velho deu uma gargalhada – O seu quarto é o lá de trás, tem quatro camas lá, quando fazemos nossa oração e recebemos pessoas usam aquele quarto.

Foi então que Heloisa e Lidia notaram as cruzes santas de cabeça para baixo. Alexandre estava com sua cruz no peito, o homem falou com ele.

-Tem que tirar isso do pescoço na minha casa. –Disse o velho - Eu minha mulher e meus três filhos, não somos cristão.

Alexandre tirou o crucifixo, colocou no bolso, Heloisa estava tremendo e começando a chorar, Flávio disse – Cala a sua boca Heloisa.Vamos passar aqui só uma noite, não se preocupe, que estou com berro na cintura, satanista ou não quero ver se ele aquenta chumbo.

O velho voltou da cozinha – Minha mulher fez um café para vocês.

Ouviram passos lá fora, muitos passos, a chuva caia, o velho abriu a porta, a frente da casa duas dezenas de pessoas, uma delas um padre.

-O que foi padre Virgilio? – Disse o homem.

-Viemos aqui fazer justiça contra os adoradores de Satanás, você foi avisado Samuel, muitas vezes, Deus mandou o Dilúvio, agora essa chuva só vai parar quando fizermos justiça, aqui do meu lado dois pastores, essa é uma vingança cristão ecumênica, você vai sair hoje,ou vai morrer.

-Padre Virgilio , pastor Miguel, vocês sabem que não tenho lugar para ir, meu lugar é aqui, estou eu e minha mulher sozinho hoje, meus filhos estão para a cidade grande, não podemos sair de nossas terras, logo estarei morto, porém tenho três filhos e essas terras são deles,se tiver que morrer aqui, vou morrer.

Padre Virgilio olhou para o pastor Miguel, os dois não usavam proteção contra a chuva.Molhavam o corpo com se fosse outro batismo,um batismo do céu.

Alexandre saiu correndo de dentro da casa, empurrado por Heloisa e Lidia que já estavam debaixo da mesa orientadas pela esposa do velho.

-Esperem, somos apenas visitantes.Somos cristão meus amigos, cristão com piedade.

-Não deve sobrar nenhum adorador do demônio, - disse o pastor Miguel, todos devem morrer hoje.

-Olhem o meu crucifixo – disse Alexandre – onde está a benevolência, o amor ao próximo, o perdão?

-Blasfemia – disse uma mulher lá de trás – Satanás enganador, sedutor, palavras que não me enganam mais.

-Poxa gente, nosso carro está ali dentro do galpão-disse Heloisa já chorando aos berros – não temos nada haver com esses adoradores de satanás, se vocês quiseram nós ajudamos a matar ele,s se precisa eu mesmo façor.

- Mentirosa – o Padre Virgilio , pediu para a multidão – Tragam o menino cego, o santo que teve a visão das lagrimas de nossa senhora.

Trouxeram um menino de cinco anos que chegou orando alto.

-São eles, todos eles devem morrer em nome e gloria do Senhor Jesus.

Todos disseram Amém.

Flavio, que sempre andava com um trinta e oito na cintura, sacou da arma e atirou no peito do padre Virgilio, depois atirou no pastor Miguel, um homem com um espingarda acertou o abdômen de Flavio, a arma de Flavio caiu longe, Alexandre tentou correr, mais uma faca foi cravada em suas costas, Lidia e o velho foram atingidos por pedras, Heloisa continuava debaixo de uma mesa, quando viu que a casa estava cheia de fumaça, seria queimada viva, preferiu sair correndo pela porta, um homem que viu Heloisa sair puxou o revolver e atirou nas costas de Heloisa, que caiu morta.

Depois disso, menos de cinco minutos depois, a chuva parou, a casa ardia em chamas.

JJ DE SOUZA
Enviado por JJ DE SOUZA em 28/09/2012
Código do texto: T3906287
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