Sem saida
A mulher corria desesperada pelo corredor parcialmente iluminado. Em seu encalço estava um sujeito forte e de aparência cruel, trazendo nas mãos um machado afiado. A perseguição dava lhe prazer, e a baba escorria de sua boca aberta em um arremedo de sorriso. De repente a mulher tropeçou em um tapete e antes que conseguisse se por de pé, foi atingida com uma machadada certeira que lhe estraçalhou a cabeça. O homem carregou o corpo para a sala da caldeira e depois de esquarteja-lo jogou quase todas as partes no fogo, exceto as mãos. Essas ele limpou com carinho e colocou em um recipiente contendo formou, ao lado de outras mãos femininas. O sujeito tinha verdadeiro fetiche por mãos de mulheres. Adorava admirá-las através do vidro e de vez enquanto pegava alguma e passava horas em contemplação. A pensão Evereste existia há mais de trinta anos. Pertencia a família Pacheco. O patriarca, um sujeito beirando os setenta anos, tratava muito bem os hospedes, mas tratava de forma grosseira a esposa e o filho. Eram os dois que cuidavam de todo o serviço desde que amanhecia o dia, até a hora de dormir. Trabalhavam de domingo a domingo sem descanso. A esposa faleceu ainda jovem, vitima de maus tratos e de uma pneumonia não tratada. O filho se tornou um rapaz sombrio e de pouca conversa. Odiava o pai e quando teve uma oportunidade, o matou e incinerou o corpo. Tornou se dono absoluto da pensão, e cobrando pouco pela hospedagem, não lhe faltava hospedes. Começou então a alugar quartos para moças com pagamento mensal, e sempre que podia convidava alguma para seus aposentos, que ficava afastado e as assassinava sem nenhuma piedade. Odiava todo e qualquer ser humano de forma doentia. Culpava a todos por sua sina ruim. A moreninha entrou sorridente no quarto. Trajava um vestido preto e trazia uma bolsa a tiracolo. O assassino a avaliava em silencio. Pela primeira vez na vida, estava em dúvida. A garota era tão bonita que por um momento pensou na possibilidade de deixa-la viva. Nunca se apaixonara, mas ao olhar nos olhos da moça sentiu uma emoção desconhecida. Uma vontade de abraça-la e ficar quietinho sentindo o calor do seu corpo, de pegar aquelas mãozinhas rechonchudas e beijar devagarinho. A garota tendo percebido a reação que causava, se aproximou provocante, se sentou no colo do rapaz, e o beijou ternamente. Inebriado por seu primeiro beijo, ele se entregou e não percebeu quando a moreninha tirou de dentro da bolsa um punhal e o apunhalou de forma certeira no coração. Em seguida a moça abandonou a pensão. Estava vingada. Matara o assassino do pai que nem chegara a conhecer. O velho Pacheco. 23/09/2012