O Lobisomem de Feira de Santana - parte III

- Sei o que procura.

- Como sabe?

Indagou, com surpresa por estar ali, no cemitério, - aquela mulher bonita, de cabelos curtos, olhar sedutor, penetrante. Vestia-de com um vestido preto, curto. As pernas brancas à mostra. Estava apoiada numa lápide, diante de dois túmulos. Ele largou da pá, afastou-se um pouco do túmulo que tramava violar. Por um instante, lhe passou pela cabeça que poderia estar correndo risco de vida, ou se não, caso chegasse ao conhecimento das autoridades a sua investigação iria se encerrar por ali.

- É o túmulo do padre, sim. O que procura?

- O que faz aqui? Como me descobriu aqui...?

- Ora, moço, moro nos fundos do cemitério. Vi a sua ação diante desse túmulo, não é o primeiro que mexe nesse túmulo, o que deve ter de tão especial dentro desse caixão?

- Um cadáver, o que mais teria num caixão...?

-Sei...

- Olhe, me desculpe, você me surpreendeu violando um túmulo, é que o padre era meu tio, o mais querido. A sua morte foi muito violenta e cercada de mistérios. Isso sempre me intrigou, queria ver a possibilidade de poder descobrir algo...

-Sei...

- Não acredita em mim?

-Sei...

Arrumou-se para ir embora. Largou a pá por ali, mesmo. Colocou a mochila nas costas. Afastou-se dela, dando alguns passos na direção do portão de saída do cemitério.

"Mentiroso" - ela disse, para os seus botões. pairava alguma ameaça no ar, para ambos - " sei que corro riscos" - ele pensava em quanto se dirigia para a saída. Assim como o policial corre riscos com a bandidagem, eu como caçador, também.

Ja estava envolvido pelo breu da noite, por entre os túmulos. Era uma noite sem lua. A visão assustadora do túmulos não o intimidava. Estátuas de anjos e de mulheres vestidas com longos vestidos de pedra sabão. Pareciam fitá-lo. As cruzes de tamanhos variados, as lápides. Mausoléus bem ornados, com decoração de bom gosto, porém, sem tirar a característica macabra,sombria- do mundo dos mortos. As árvores de galhos retorcidos, decoração que parecia programada pela natureza, de acordo com o ambiente.

-Você mentiu para mim.

Soou a voz feminina, interceptando-o numa esquina de túmulos.

- Eu menti...

Disse ele.

-Sim, e eu menti para você.

- Como assim?

- Eu moro no cemitério, mas não naquela casinha la dos fundos. Eu moro naquele mausoléu ali. O de portões enferujados, cercado pelos quatro anjos, com decoração gótica.

Estava na frente dele, numa posição de interceptação, bloqueio.

- Não quero que brinque com coisa séria. Não quero que remexa o que ja estava esquecido pela sociedade atual - o que deseja? Trazer á tona algo que ja estava esquecido. A licantropia ja não faz mais parte dessa sociedade.

Como sabe que pesquiso?

- O Meu nome é Eliane Verica.

- O padre foi assassinado...

- Sei que busca a história dos Pereira, desde a antiga europa até a vinda deles no navio que trouxe a família real portuguesa para o Brasil.

- Pelo amor de Deus, quem você é mulher?

- Eu sou a única mulher da família que o padre abrigou, de forma estratégica nos fundos da casa paroquial. Eu sou uma das Pereira.

E, ali, diante da noite sem lua e sem estrelas, ele assistiu a mudança de aparência de mulher para lobo. Foi perseguido pelas ruas do cemitério. Pulava, com desespero pelas covas, sabia que precisava escapar com vida, e, chegando num dos lados do cemitério, conseguiu pular pelo muro, entrou no carro e arrancou com velocidade na direção do bairro Eucalipto. A fera tentava perseguir o carro.

( Continua)

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 23/09/2012
Reeditado em 23/09/2012
Código do texto: T3896128
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