Apenas um jogo
Damião era um homem esperto, sempre se vangloriava de dar os palpites certos nas apostas de corrida de cavalo, e nas jogatinas em geral, dês de criança ele tinha talento para isso.
Certo dia em suas andanças, ele parou em um bar caindo os pedaços, era meio tarde da noite, seu calhambeque já estava com o motor bem quente, Damião resolveu parar naquele bar. Ele como sempre, sempre tinha certeza de tudo não dava palpite errado, e ele sabia que o motor ia morrer, e era melhor parar em um bar de quinta, do que no meio de uma estrada deserta. E como ele sempre tinha certeza de tudo, ele sabia que essa era situação que ia acontecer se ele seguisse, enfrente. Ele entrou no bar, não tinha muita gente, só um velho dormindo no balcão, uma garçonete velha mal maquiada, com excesso de baton na boca, um caminhoneiro sentado em uma mesa mais distante, tomando uma cerveja em um copo encardido enquanto espantava as moscas ao seu redor. Mas algo lhe chamou a atenção três homens jogando domino em um canto próximo do banheiro masculino. Ele percebeu que eles apostavam dinheiro. Era um homem alto meio calvo de macacão, um cara de bermudão sem camisa, mas o que mais lhe chamou a atenção foi o que estava encostado na parede, ele usava terno preto fino, estava bem penteado, era pálido parecia um garoto de doze anos, tinha um relógio orient no pulso esquerdo, ele se aproximou e perguntou:
- posso jogar com vocês? – disse com um sorrisinho de raposa, não ouve objeção de nenhum, o garoto de terno fez um gesto para ele se sentar.
- você não e muito novo pra ta num lugar desses essa hora não pivete? – Perguntou Damião enquanto se acomodava. O garoto sorriu e deu de ombros. Eles começaram a jogar Damião estava levando a melhor cada partida ele ganhava, e como escolhe-se as peças certas, como as peças certas fosse até ele sua mão era um imã, os outros jogadores estavam perdendo feio. Ate que já estava dando duas da madrugada, já era a ultima rodada. Damião feliz olhou para o relógio da parede, viu que já marcava duas e dez, deu uma espreguiçada.
- Bem minha gente acho que por hoje só NE? – Quando ele recolhia o dinheiro ele foi interrompido.
- Por que parar agora ainda e sedo!- Disse o garoto sorrindo
- Sedo olha pro relógio moleque já são... – Damião quando olhou pro relógio viu que marcava vinte e três horas em ponto. Ele esfregou os olhos ele tinha certeza que o relógio estava marcando duas da manhã. Ele nunca errava tinha certeza de tudo. O garoto sorriu e tirou do palito um bolo de notas de cinquenta reais, e colocou na mesa.
- vamos continuar? – disse ele sorrindo.
- ta va..vamos . – falou Damião os outros dois jogadores estavam mudados mais quietos como estivessem com medo, Damião começou embaralhou as peças do dominó, e começou a pegar as peças ele como sempre tinha a certeza de pegar as peças certas, quando ele foi olhar para sua surpresa ele não estava com o carroção de seis, mas com o carroção de zero. O menino tirou de suas peças a de seis e jogou ela, dessa vez inusitadamente quem começava o jogo era ele, e o jogo prosseguiu e Damião ficava empacando, sempre que era sua vez. Ele não tinha peça para nenhuma das pontas e o carroção de zero incrivelmente não saia de sua mão.ele perdeu a partida, pela primeira vez na vida e pior pra um menino. O garoto já ia recolhendo o dinheiro, quando Damião disse que queria jogar de novo, ele abriu a sua carteira e tirou um maço de notas e jogou na mesa.
- tem certeza, olha o sábio sabe a hora de parar . – falou o garoto ,Damião ficou injuriado era só o que faltava levar sermão de um pivete cheirando a leite. Eles começaram Damião se concentrou novamente. E pegou as peças com calma cada um pegou sete peças para cada um. Damião desvirou e pra sua amarga surpresa quem estava lá não era o carroção de seis mais novamente de zero. E a partida foi praticamente uma reprise da ultima. Mais uma vez uma derrota humilhante, Damião estava irado, ele perdeu todo seu dinheiro pra um moleque ele segurou o menino pelo pulso quando o garoto se levantava. O garoto olhou para ele e disse :
- E melhor me soltar macaquinho, minha paciência se esvai rápido. Sabia? – A voz não era a de um garoto parecia algo profundo e antigo. Damião obedeceu, para sua vergonha aquele menino lhe causou medo que ele nunca havia sentido. Ele quase se mijou. Damião ficou sentado triste, o garoto vendo seu estado perguntou a ele:
- Gostaria de uma ultima aposta? – Damião não sabia mais o que poderia apostar. Quase lendo seu pensamento o garoto sorriu diabolicamente e disse:
- Você deve achar que não tem mais nada para apostar, mas tem sim! Sua vida. – o garoto disse isso em tom quase de felicidade sádica. Damião não pode acreditar naquilo, um menino dizendo algo assim um menino que não agia como menino. Ele ia abrir a boca para falar quem e você? Mas antes que disse-se o sinistro garoto se pronunciou.
- Já se deu o trabalho para olhar para o calendário que esta na parede? – Damião não entendeu nada, o que isso tinha haver, ele se virou e olhou tinha escrito fevereiro de 1979 o calendário era absurdamente velho. Mas e dai Damião se indagava. O que isso importava o garoto sorriu
- sabe você esta me decepcionando Damião eu achei que você fosse um homem esperto , você e não é ? – Damião olhou para as pessoas do bar que dessa vez estavam todas olhando para ele até o velho que estava dormindo estava acordado e todos olhavam com olhos arregalados, sem piscar.
- aceito a aposta . – disse ele timidamente, todos voltaram ao normal, o velho voltou a dormi a garçonete a ficar contando palito. E cada voltou ao estado que estava antes.
- Muito bem vamos começar! Embaralhe as peças! – disse o garoto Damião sabia finalmente quem era aquele garoto, e uma coisa era certa ele não era um garoto. Era a morte. O mais implacável de todos os jogadores. Damião sabia que perderia novamente se fosse nesse jogo mais ai ele se lembrou de uma história que quando criança seu avô lhe contava era a aposta perfeita.
- Quero um jogo novo pode ser ? – Falou Damião a morte não fez objeção sorriu e esperou que ele falasse desse novo jogo.
- e muito simples!– falou Damião pediu três copos grandes de cerveja e uma balinha ele explicou que o garoto teria que colocar a balinha de hortelã na boca antes que ele bebe-se as três canecas de cerveja. Mas queria uma única vantagem , que tivesse uma caneca de vantagem.
- certo , quais as regras ? – perguntou a morte . Damião disse que a única regra era que não podia nem ele tocar na bala e nem a morte nas canecas. A morte concordou ele começou a beber loucamente a primeira caneca quase se engasgando. Quando terminou ele fez algo inusitado ele virou a caneca sobre a bala de hortelã. Damião sorriu e disse :
- Lembra-se da regrinha não pode tocar na caneca. – a morte olhou seriamente para ele com ira nos olhos. E de repente começou a rir
- e mais posso fazer isso ! – estalou os dedos e a caneca quebrou-se e pedaçinhos Damião se urinou nas calças. A morte se levantou e mandou que ele fosse embora.
- Espere e minha vida ? – Perguntou Damião chorando . A morte deu um sorrisinho e falou rindo:
- a de certa forma não foi muito justo com você , e além do mais você e tão burro que eu faço uma aposta mesmo depois dessa lição você ainda vai achar que tem certeza de tudo e que sempre vai se da bem ! – Damião saiu correndo do bar entrou em seu calhambeque e foi embora. Passou muitos anos em certo dia de quarta ele estava em uma parada de ônibus. Quando um garoto de terno preto pálido sentou-se a seu lado. Damião quase se borra.
- você ! – disse ele em pânico .
- calma eai se lembra da nossa aposta! – disse a morte . Damião se levantou e disse apontando o dedo em ira:
- sim e não vou cair não eu nunca mais tive certeza de nada na vida parei de dizer que tenho certeza, porque minha maior certeza e que não há certeza haha! – a morte ajeitou a gravata olhou para ele e disse:
- é como você disse a única CERTEZA é que não a certeza, mas me diz isso já não e uma certeza? .- Damião antes de gritar caiu estatelado no chão com um infarto fulminante.