APRISIONADA AOS MUROS DA PRISÃO
O cheirinho do café exalava pela casa, minha esposa já havia preparado o café da manhã, aquele seria mais um dia de labuta, acordei cedo, tomei um gole de café as pressas e dirigi-me ao trabalho. Trabalhava como Agente Penitenciário no Presidio Bangu I. E diga se de passagem era um trabalho estressante.
Naquela manhã tudo transcorria aparentemente norrmal. As presidiárias tomavam seu café da manhã e após seguiriam para o banho de sol no pátio, seguindo depois para suas celas.
Na hora do almoço todas estavam no refeitório, quando uma detenta que se julgava a manda chuva da prisão jogou o bandejão da outra no chão, causando um tumulto. Era uma pancadaria geral. Soaram a sirene de emergência, e outros agentes vieram ao auxílio. Elas foram levadas para as celas.
Passado o tumulto, foi feita a revista diária nas celas. Enquanto revistava encontrei uma faca dentro do colchão de uma delas.
Tomei as providências cabíveis, levando a para a solitária. A detenta gritava tão alto que da rua ouvia os seus gritos.
Terminado o meu turno segui como de costume para minha casa. Mas ainda pensando naquela detenta que levei para a solitária, o fato me chamou a atenção, pois ela parecia desequilibrada.
A noite em casa ninguém conseguiu dormir direito, eu só pensava naquela prisioneira. Por volta de meia noite eu estava deitado quando ouvi gritos da minha filha, corri até o seu quarto, e a encontrei aos gritos, chorando, com febre de 40º e dizendo:
_ Ela quer me pegar, ela quer me pegar!
Imediatamente veio a minha mente a imagem da prisioneira.
De manhã segui para o trabalho, só que neste dia sentia algo diferente em meu coração. Estava ansioso para chegar ao Presidio. Ao chegar ao trabalho tomei conhecimento que aquela prisioneira, enforcou-se com o seu cadarço na solitária.
Fiquei chocado, pois eu a coloquei lá e me sentia culpado. Não me senti bem e fui atendido na enfermaria.
Nos dias seguintes a imagem daquela prisioneira não me saia da cabeça. Certo dia estava fazendo a revista nas celas, quando cheguei a cela daquela prisioneira, quando... me assustei ao vê-la em sua cela, ela estava numa atitude de correr de parede a parede, como se tentasse sair dali, gritava:
_ Eu quero sair daqui! Eu quero sair daqui!!!!
Estas palavras ecoavam em minha mente. O que mais me preocupava é que somente eu via e ouvia aquela prisioneira.
Nos dias que se seguiram, quase em todas as revistas lá estava ela, causando-me alucinação. Será que eu estava enlouquecendo?
Que lugar era aquele? Quem eram aqueles médicos e enfermeiras?