A Lenda de Armia
No século XVIII, a cidade de Lisboa foi acometida de uma grande epidemia de febre amarela.
A estranha doença, de origem americana teria sido trazida por viajantes, cujos barcos estariam infestados dos mosquitos transmissores.
Diversas autoridades locais buscavam de todos os meios que a época permitia erradicar o mal.
No pequeno vilarejo de Santo Antônio de Lisboa morava uma velha curandeira, chamada Armia. Muitos chamavam-na de bruxa, mas como possuía mais simpatizantes do que inimigos, a velha conseguia viver, ora das ervas que preparava, ora da ajuda dos doentes, supostamente por ela curados.
Em dado momento, um grande mercador francês a procurou para curar sua esposa, dona Maria, que estava com a tal febre americana.
Após fazer seu "exame clínico", olhando língua, olhos, narinas e outras partes, a velha preparou um elixir, dando para a pobre moribunda.
Uma semana depois, dona Maria estava completamente curada. Muitos moradores se maravilharam, e Armia era procurada por todos que estavam com febre amarela, em busca da cura. Na ocasião, apenas um homem morreu e os demais, após tomar o elixir mágico sararam.
Um médico na época ficou interessado em descobrir o que a velha usava de ingredientes para tal beberagem.
Mandou homens à casa da pobre senhora, os quais sob intensa tortura, convenceram-na a fornecer tal receita milagrosa. Após ser brutalmente espancada e já meio morta, Armia foi jogada no Rio Tejo, vindo a morrer minutos depois afogada. Seu corpo jamais foi encontrado.
Após preparar tal remédio, o médico começou a divulgar sua "descoberta", conduzindo doentes a seu consultório para beberem tal poção, e com isso ganharia muito dinheiro.
Entretanto, todos os doentes que por ele passaram acabaram morrendo. Sem moral, o médico ficou pobre e esquecido, até também contrair febre amarela e morrer em um dos becos da capital portuguesa.
Conta a lenda que mesmo sendo torturada, a velha propositalmente passou uma receita falsa, à base de uma semente altamente venenosa. Ainda não satisfeito com a vingança macabra, o espírito de Armia viajou para a América, e com seus poderes mágicos, contaminou o mosquito transmissor da tal febre com a mesma semente venenosa. O mosquito sofreu mutações, desenvolvendo uma nova doença, hoje conhecida como dengue.
O espírito da velha, finalmente satisfeito com sua vingança, retornou a Portugal e passou a assombrar no Castelo de Bragança. Ainda hoje, turistas relatam ouvir o borbulhar dos caldeirões da velha Armia, preparando seus remédios, ou por que não dizer, seus venenos mágicos.