O LOBISOMEM DO CEARÁ
Era uma noite linda de lua cheia! O céu estava forrado por milhões de estrelas! As fogueiras em frentes as casas já estavam com as labaredas bem mais baixas do que no início da noite, quando foram acesas... O terço já tinha sido rezado, todos comeram e beberam, soltaram balões e fogos de artifício, enquanto as crianças brincavam de rodas, Cabra- Cega, Passa- Anel e soltavam “biribas” também conhecido como traques... Era final de noite de São João... Já passava das 23 horas, e agora as famílias se reuniam em volta das fogueiras. Em toda a extansão da nossa rua ainda de terra, o que se via eram fogueiras e familias em volta. Cada membro ia trazendo a sua cadeira ou banco, para ficar sentado conversando, contando causos, esperando assar as batatas doces que foram colocadas entre as brasas. Os menores já sonolentos eram levados para a cama pelas mães. Enquanto os maiores como meus irmãos e eu, nos encostávamos aos nossos tios e avós, pois sabíamos que após as narrativas das histórias, estaríamos com certeza todos morrendo de medo!
Era sempre assim no nosso bairro em São Paulo onde morávamos. Nas noites de Santo Antonio, São João e São Pedro, havia muita festa, rezas, cantorias, brincadeiras, comilanças e no final... Históriass de assombração, contadas em volta da fogueira.
Uma densa neblina começou a se formar lá no final da nossa rua onde havia um rebaixado e uma encruzilhada.Uma capelinha particular fora construída ali por uns Poloneses que moravam na casa...algumas velas estavam acesas na igrejinha, mas quase se apagando...De onde estávamos, quase não se via nada devido o nevoeiro que foi ficando cada vez mais denso!
De repente ouviu-se ao longe no silêncio da noite, o uivo de um cão... Nosso tio Pedro comentou baixando um pouco o tom da voz, quase sussurando: Parece o uivo de um lobisomem! Ao ouvir esse comentário nos encostamos um pouco mais nos nossos avós... E então foi quando a tia Das Dores começou a falar: Lá nos sertões do Ceará, tinha um lobisomem que rondava por lá nas noites de lua cheia... Ouvíamos ele “fuçar” perto das portas das casas, pelo quintal, mas ninguém saía, que ninguém era besta! Algum cachorro mais bravo o enfrentava botava ele pra correr, mas sabíamos quem ele era e, não o maltratávamos, mas tinha gente ruim que jogava água quente nele, e o coitado saía “ganindo” feito um cachorro louco, e no dia seguinte aparecia por lá com a cara toda queimada!
Após dizer isso “choveu” perguntas para que minha tia explicasse , quem era o lobisomem e porquê ele virava? Foi então que a tia Das dores contou como tudo começou:
Havia um casal que morava nos arredores de uma pequena cidade no interior do Ceará, e este casal tinha um filho de uns treze anos mais ou menos. Dizia-se que esse menino era muito levado! Gostava de contar mentiras, fazia maldades com os animais e não respeitava seus pais, que eram humildes lavradores. Era um casal muito simples, comiam do que plantavam e colhiam e também criavam animais, como galinhas e porcos.
Certa vez, a mãe do menino, matou uma galinha e começou a prepará-la para o almoço. O marido estava no roçado e esperava que o filho lhe levasse a comida depois que ficasse pronta. Mas o maldoso “moleque” enquanto sua mãe preparava a comida, começou a “maquinar maldade”... Pegou os sapatos do seu pai e andou com eles em volta da casa deixando as marcas do calçado por todo o terreiro atrás da casa. Quando sua mãe terminou de preparar o almoço arrumou e amarrou tudo com um pano de prato limpo e chamou o filho para que levasse para o pai na roça. O menino pegou a vasilha e saiu pela estrada. Quando já havia se afastado de casa e longe dos olhos da mãe, sentou-se num tronco de árvore e abriu o almoço destinado ao pai e comeu toda a carne da galinha que a mãe havia colocado, e para caprichar na maldade, enfiou os ossos no restante da comida e seguiu para levar ao pai que o esperava morto de fome! Quando o homem abriu o prato e viu aquilo, perguntou: Mas o que isso? E o menino simplesmente respondeu com a maior calma do mundo: Foi a mãe que comeu com um homem que tava lá com ela...O marido furioso desmentiu o filho dizendo que aquilo não poderia ser verdade?E o menino calmamente respondeu: Se o senhor não acredita, vai lá atrás da casa e dê uma olhada nos rastros dele, enquanto ela tava arrumando o almoço?
O marido saiu furioso pela estrada rumo a casa e chegando, antes de perguntar qualquer coisa à mulher, foi olhar os rastros e confirmou o que ouvira da boca do filho... Os rastros do amante da mulher estavam lá... Enlouquecido de ciúmes e sentindo-se traído, armou-se de uma faca e entrou em casa indo direto para a mulher e a esfaqueou! Caída no chão e ainda lúcida teve certeza de que o filho era o responsável por aquela tragédia! De pé na soleira da porta o menino assistia tudo sem dizer uma palavra em defesa da mãe, que antes de morrer disse: Se você é o culpado dessa desgraça toda, haverá de “penar por sete anos da sua vida virando lobisomem em toda noite de lua cheia”! E após dizer isso a mulher morreu...
A partir desse dia começou-se a ouvir uivos de um cão em noites de lua cheia... Parecia um lamento! O pai descobriu o que o filho tinha feito, mas era tarde...a maldição da mãe já havia se consumado, não havia nada a fazer...
Certo dia o menino que já estava um rapaz, passou em minha casa, parou enfrente ao portão e pediu: Dona Das Dores, não jogue água quente em mim não, quando eu passar por aqui “virado no cão”... É que eu tenho que pagar uma maldade muito grande que eu fiz com a minha mãe... e saíu cabisbaixo...
Eu tinha muita pena dele e lhe garantia que eu jamais jogaria água quente nele... Mas, haviam outras pessoas que o detestavam pelo que fez.
Passados exatos sete anos, o menino parou de transformar-se em lobisomem... Tinha acabado a maldição! Não demorou muito ele morreu.
Quando minha tia acabou de contar essa história meus irmãos e eu, nós estávamos tão encostados em minha avó que ela precisou nos afastar um pouco dizendo: Vocês querem escutar os “causos” e depois ficam morrendo de medo! Vamos pra casa dormir!
E depois dessa noite e dessa história, outras noites vieram, e outras histórias e mais outras noites e outras....
Sonia Maria Piologo
Era uma noite linda de lua cheia! O céu estava forrado por milhões de estrelas! As fogueiras em frentes as casas já estavam com as labaredas bem mais baixas do que no início da noite, quando foram acesas... O terço já tinha sido rezado, todos comeram e beberam, soltaram balões e fogos de artifício, enquanto as crianças brincavam de rodas, Cabra- Cega, Passa- Anel e soltavam “biribas” também conhecido como traques... Era final de noite de São João... Já passava das 23 horas, e agora as famílias se reuniam em volta das fogueiras. Em toda a extansão da nossa rua ainda de terra, o que se via eram fogueiras e familias em volta. Cada membro ia trazendo a sua cadeira ou banco, para ficar sentado conversando, contando causos, esperando assar as batatas doces que foram colocadas entre as brasas. Os menores já sonolentos eram levados para a cama pelas mães. Enquanto os maiores como meus irmãos e eu, nos encostávamos aos nossos tios e avós, pois sabíamos que após as narrativas das histórias, estaríamos com certeza todos morrendo de medo!
Era sempre assim no nosso bairro em São Paulo onde morávamos. Nas noites de Santo Antonio, São João e São Pedro, havia muita festa, rezas, cantorias, brincadeiras, comilanças e no final... Históriass de assombração, contadas em volta da fogueira.
Uma densa neblina começou a se formar lá no final da nossa rua onde havia um rebaixado e uma encruzilhada.Uma capelinha particular fora construída ali por uns Poloneses que moravam na casa...algumas velas estavam acesas na igrejinha, mas quase se apagando...De onde estávamos, quase não se via nada devido o nevoeiro que foi ficando cada vez mais denso!
De repente ouviu-se ao longe no silêncio da noite, o uivo de um cão... Nosso tio Pedro comentou baixando um pouco o tom da voz, quase sussurando: Parece o uivo de um lobisomem! Ao ouvir esse comentário nos encostamos um pouco mais nos nossos avós... E então foi quando a tia Das Dores começou a falar: Lá nos sertões do Ceará, tinha um lobisomem que rondava por lá nas noites de lua cheia... Ouvíamos ele “fuçar” perto das portas das casas, pelo quintal, mas ninguém saía, que ninguém era besta! Algum cachorro mais bravo o enfrentava botava ele pra correr, mas sabíamos quem ele era e, não o maltratávamos, mas tinha gente ruim que jogava água quente nele, e o coitado saía “ganindo” feito um cachorro louco, e no dia seguinte aparecia por lá com a cara toda queimada!
Após dizer isso “choveu” perguntas para que minha tia explicasse , quem era o lobisomem e porquê ele virava? Foi então que a tia Das dores contou como tudo começou:
Havia um casal que morava nos arredores de uma pequena cidade no interior do Ceará, e este casal tinha um filho de uns treze anos mais ou menos. Dizia-se que esse menino era muito levado! Gostava de contar mentiras, fazia maldades com os animais e não respeitava seus pais, que eram humildes lavradores. Era um casal muito simples, comiam do que plantavam e colhiam e também criavam animais, como galinhas e porcos.
Certa vez, a mãe do menino, matou uma galinha e começou a prepará-la para o almoço. O marido estava no roçado e esperava que o filho lhe levasse a comida depois que ficasse pronta. Mas o maldoso “moleque” enquanto sua mãe preparava a comida, começou a “maquinar maldade”... Pegou os sapatos do seu pai e andou com eles em volta da casa deixando as marcas do calçado por todo o terreiro atrás da casa. Quando sua mãe terminou de preparar o almoço arrumou e amarrou tudo com um pano de prato limpo e chamou o filho para que levasse para o pai na roça. O menino pegou a vasilha e saiu pela estrada. Quando já havia se afastado de casa e longe dos olhos da mãe, sentou-se num tronco de árvore e abriu o almoço destinado ao pai e comeu toda a carne da galinha que a mãe havia colocado, e para caprichar na maldade, enfiou os ossos no restante da comida e seguiu para levar ao pai que o esperava morto de fome! Quando o homem abriu o prato e viu aquilo, perguntou: Mas o que isso? E o menino simplesmente respondeu com a maior calma do mundo: Foi a mãe que comeu com um homem que tava lá com ela...O marido furioso desmentiu o filho dizendo que aquilo não poderia ser verdade?E o menino calmamente respondeu: Se o senhor não acredita, vai lá atrás da casa e dê uma olhada nos rastros dele, enquanto ela tava arrumando o almoço?
O marido saiu furioso pela estrada rumo a casa e chegando, antes de perguntar qualquer coisa à mulher, foi olhar os rastros e confirmou o que ouvira da boca do filho... Os rastros do amante da mulher estavam lá... Enlouquecido de ciúmes e sentindo-se traído, armou-se de uma faca e entrou em casa indo direto para a mulher e a esfaqueou! Caída no chão e ainda lúcida teve certeza de que o filho era o responsável por aquela tragédia! De pé na soleira da porta o menino assistia tudo sem dizer uma palavra em defesa da mãe, que antes de morrer disse: Se você é o culpado dessa desgraça toda, haverá de “penar por sete anos da sua vida virando lobisomem em toda noite de lua cheia”! E após dizer isso a mulher morreu...
A partir desse dia começou-se a ouvir uivos de um cão em noites de lua cheia... Parecia um lamento! O pai descobriu o que o filho tinha feito, mas era tarde...a maldição da mãe já havia se consumado, não havia nada a fazer...
Certo dia o menino que já estava um rapaz, passou em minha casa, parou enfrente ao portão e pediu: Dona Das Dores, não jogue água quente em mim não, quando eu passar por aqui “virado no cão”... É que eu tenho que pagar uma maldade muito grande que eu fiz com a minha mãe... e saíu cabisbaixo...
Eu tinha muita pena dele e lhe garantia que eu jamais jogaria água quente nele... Mas, haviam outras pessoas que o detestavam pelo que fez.
Passados exatos sete anos, o menino parou de transformar-se em lobisomem... Tinha acabado a maldição! Não demorou muito ele morreu.
Quando minha tia acabou de contar essa história meus irmãos e eu, nós estávamos tão encostados em minha avó que ela precisou nos afastar um pouco dizendo: Vocês querem escutar os “causos” e depois ficam morrendo de medo! Vamos pra casa dormir!
E depois dessa noite e dessa história, outras noites vieram, e outras histórias e mais outras noites e outras....
Sonia Maria Piologo