PAGODE NO CEMITÉRIO

Correria, agitação, o pai ainda de ressaca da cachaça da noite anterior, foi acordado por sua mulher, aos berros:

_ Astrobaldo a bolsa estourou! A bolsa estourou!!!!!!!!!!!

E para levantar aquele homem da cama, foi o maior sufoco.

Chegando ao Hospital, a mãe foi logo levada para o atendimento.

O Senhor Astrobaldo, andando nervoso na recepção, a espera de notícias do nascimento de seu rebento. Digamos que ele andava em zig, zag, efeito da noite anterior. kkkkkkkkkkkkk

E pensava consigo, todo orgulhoso, vai ter o meu nome, se chamará Astrobaldo Pereira Junior. Veja se isto é nome de se dar a uma criança que acabara de chegar ao mundo? Coitado, já nascera carregando o carma do pai. Passado duas horas, o Médico chegou a recepção, anunciando o nascimento do menino:

_ O Senhor é pai de um lindo menino!

O pai não se continha de felicidade, e convidava a todos para irem a sua casa dentro de dois dias para comemorar, ou seria bebemorar?

Dois dias depois Astrobaldo foi ao Hospital buscar sua esposa e filho, o primogênito - assim dizia ele todo orgulhoso.

Ao chegar em casa, as visitas já os aguardavam, seus parentes trataram logo de agitar o pagode.

Agora veja se pode uma coisa dessas, além de receber aquele nome, o menino que mal acabara de nascer, já estava em um pagode. Foi pagode e bebida a noite toda, imagina zero oitocentos, a casa encheu, era gente para todos os lados.

A mãe cansada do parto tinha que aguentar aquilo, sem falar no recém nascido, em meio a todo aquele barulho.

Astrobaldo Junior foi crescendo no meio do Pagode, seu pai sempre armava uma festinha em casa.

Astrobaldo Junior, gostava tanto de pagode, que deixou bem claro que quando morresse queria ser enterrado ao som do pagode, que deveria virar a noite na Capela do Cemitério.

Os anos se passaram, e Astrobaldo já era um belo rapaz, fissurado no pagode, chegou até a gravar algumas músicas.

Certa vez num feriadão Astrobaldo foi viajar com alguns amigos para a Região dos Lagos. No carro era pagode e bebida, até mesmo o motorista estava embriagado. O carro voava em zig, zag na pista. Aonde estava a fiscalização na estrada que não viu isto?

Como era de se esperar, em uma curva o motorista perdeu a direção, capotou com o carro. Foi um pânico geral, a pista parou. Chamaram a Defesa civil, que não tardou a chegar. Os Paramédicos constataram a morte de todos os cinco ocupantes do veículo.

No Hospital uma enfermeira pegou o celular do Astrobaldo e ligou para um contato de telefone, por sorte foi o tio do Astrobaldo, quem recebeu a má notícia.

O tio de Astrobaldo foi até a casa de seu irmão para dar a notícia. Chegando lá, não sabia como começar, e ficou fazendo rodeios, até seu irmão desconfiar que alguma coisa ruim havia acontecido. Pronto, ele deu a notícia, seu irmão e sua cunhada caíram em prantos, eles choraram muito, ficaram desesperados, perder o filho na flor da idade, com tantos pagodes pela frente para desfrutar, estavam inconsolados.

Seu tio cuidou do enterro, pois seu irmão não tinha condições psíquicas. O pai lembrou ao irmão que em vida ele sempre dizia que no dia do seu enterro haveria o maior pagode já visto.

Seu tio cuidou para que o último desejo de Astrobaldo Junior fosse realizado.

Contratou os pagodeiros, os comes e bebes e claro as gatas não podiam faltar. Agora o único problema era a autorização para o tal Evento ocorrer a noite dentro do Cemitério.

O tio foi falar com a Administração do Cemitério a respeito do último desejo de seu sobrinho. O Administrador negou veemente, argumentou que isso não era comum, que iria perturbar o sossego dos vivos e dos mortos.

Depois de muitos argumentos em vão, o tio retirou um maço de dinheiro do bolso e entregou ao administrador, que não contradisse mais nada.

Então o administrador marcou a hora que deveriam chegar e a hora do término, para que outros funcionários não tomassem conhecimento, por sorte naquela noite não havia outro velório.

Tudo acertado para a Festa de despedida de Astrobaldo Junior. Naquela noite eles deveriam chegar ao Cemitério as 22 horas e sepultariam as 5 horas.

Aquele seria o melhor pagode que Astrobaldo Junior participaria.

As 22 horas os corpos chegaram ao cemitério, e os convidados já aguardavam do lado de fora.

Entraram e levaram os corpos para o final do Cemitério, e o cortejo seguindo-os.

Finalmente o pagode tão esperado por Astrobaldo Junior começou. O pagode corria solto, bebida então nem se fala, a mulherada requebrando as cadeiras. havia até quem tivesse coragem de comer.

Parecia uma Festa de arromba.

Meia noite começou a ocorrer coisas estranhas, na Festa parecia que havia mais gente do que o combinado.

Um rapaz aproximou-se de uma linda moça e falou:

_ É, vejo que o pagode está mais animado do que os que costumava ir.

A moça o olhou desconfiada, mas não respondeu nada.

Uma mulher falou para outra:

_ Eu me acabava no pagode, que saudade!

A outra mulher estranhando saiu de perto.

Há quem diga que viu Aastrobaldo Junior e os quatros colegas botando pra quebrar no pagode.

Um outro jovem xavecou uma linda moça, e não sossegou enquanto não a levou consigo, para sua catacumba.

O Pagode foi crescendo sob a luz do luar... e haja pagode. Lá pelas cinco da manhã, conforme o combinado, cessou o pagode e seguiram para as covas. Neste momento estavam todos em cima das lápides alheias, os caixões desceram a sepultura.

E foi cantado o último pagode de saideira. Neste momento as catacumbas começaram a se abrir e todos foram tragados pelas sepulturas. E nunca mais se ouviu falar deles.