O MENINO DO SÓTÃO
Ferdinando morava em uma bela casa numa encosta a beira do lago, vista mais linda não há.
Apesar de ter tudo que queria, ele sentia-se muito solitário, pois era filho único, nascera com pouca saúde, e desenganado pelos Médicos que lhe deram um ano de vida. Não se sabe se foi pelo amor dos pais ou pelos cuidados e tratamentos nos melhores especialistas, ou um milagre divino, só sei que ele já vai fazer dez anos.
Ferdinando costumava brincar de sua janela atirando pedras ao lago, e vendo os círculos que se formavam, aquilo para ele era uma terapia, passava horas nesta atividade.
Certa vez, enquanto praticava sua atividade favorita, o silêncio foi interrompido por vozes, parecia como se alguém o chamasse:
_ Menino, menino, menino...
Ferdinando, assustado interrompeu a brincadeira e seguiu a voz, pensou ter sido sua mãe ou mesmo a empregada. Seguiu até o quarto de sua mãe, vendo a dormindo.
E continuou seguindo a voz, foi até a cozinha e Maria estava em seus afazeres. Ele indagou:
_ Maria, tu me chamaste?
_ Não Ferdinando, você quer alguma coisa?
_ Não Maria, obrigado.
Depois de constatado que Maria e sua mãe não o chamou, ele encaminhou-se para seu quarto, quando novamente ele escuta:
_ Menino, menino, menino...
Intrigado com aquela situação, decidiu procurar de onde vinha aquela voz. Seguiu por toda a casa, e a voz continuava chamando-o, e ele seguindo a voz.
De repente, ele para em frente a escada do sótão e percebe que a voz vem de lá. Para um instante, hesitando se sobe ou não, pois começara a sentir um frio na espinha. E se for um fantasma? Pensou ele. Ou um monstro? Após algum tempo ele se encheu de coragem e disse:
_ Só saberei quem é se subir.
Tomou a decisão, e subiu degrau por degrau, até chegar ao último, parou respirou fundo e resolveu entrar. O que para ele não foi surpresa, deparou-se com um menino que aparentava uns dez anos.
Começou a sentir medo, suas pernas tremiam, seus pelos arrepiaram-se e Ferdinando congelou de pânico. Não conseguia sair do lugar, o menino foi chegando-se a ele, que aumentava o pânico, quis gritar, mas sua voz não saia. tentou correr, mais lhe faltavam pernas, ali paralisado ficou. O menino então puxou assunto:
_ Oi, sou o Raimundo e moro aqui e você veio morar aqui?
Ferdinando foi voltando ao normal aos poucos, recobrando as forças e respondeu:
_ Sim, meus pais compraram esta casa, e de agora em diante moraremos aqui. Ferdinando quis saber mais sobre o menino:
_ Mas você não tem família, pai, mãe, irmãos?
_ Agora não mais, tive há muito tempo atrás, desde que caí no lago, minha família partiu e nunca mais os vi. Desde então vivo solitário neste quarto do sótão. Você é a primeira pessoa que vejo aqui nesta casa a muito tempo, e me sinto sozinho, agora terei um amigo para brincar..
Passado o susto Ferdinando até gostou de encontrar um amigo para brincar. O menino pediu a Ferdinando que não contasse a ninguém sobre ele, senão iriam tentar expulsá-lo do seu quarto, e ele não tinha para onde ir. Ferdinando concordou em guardar segredo e combinou de retornar no dia seguinte.
Brincaram muito naquele, dia, até que a mãe de Ferdinando o chamou.
Ele desceu, foi se lavar para o jantar.
Sua mãe quis saber aonde ele estava, mas ele guardou o segredo.
Ferdinando, jantou, escovou os dentes e foi para a cama mais cedo, pensando na aventura que vivera aquele dia.
Dormiu pensando em acordar cedo para ir brincar com seu novo amigo.
No dia seguinte levantou-se cedo, fez sua higiene, tomou seu desjejum e subiu ao sótão, encontrando seu novo amigo.
Naquela manhã o menino sugeriu que fossem brincar lá fora:
_ Vamos brincar de pescaria hoje?
_ Mas como vamos pescar, não tenho vara.
_ Não se preocupe, pois eu já tenho tudo, vamos pegar aquela canoa que fica ancorada do outro lado da lagoa, levamos a rede e nos divertiremos muito.
_ Preciso avisar a minha mãe.
_ Não, se avisar ela não deixará, igual a minha fazia.
_ Mas, ela ficará preocupada.
_ Que nada, voltaremos logo.
E assim Ferdinando partiu com o menino em uma aventura, e diga-se de passagem, muito perigosa, para ele.
Chegaram ao outro lado do lago e lá estava a canoa, levaram tudo para a canoa e partiram.
A canoa se afastava cada vez mais da margem, Raimundo jogou a rede e ficaram esperando ela encher de peixes.
O sol já repousava em suas cabeças anunciando o meio dia. Ferdinando quis voltar, mas o menino não quis partir.
Enquanto esperava, Ferdinando tentou por diversas vezes voltar, mas o menino negava-se,
Ferdinando já muito preocupado com seu desaparecimento, só pensava na mãe.
De repente o menino começa a puxar a rede, estava leve, praticamente vazia, em um dado momento o menino enrosca a rede no pé de Ferdinando e o atira ao lago, ele não sabia nadar e se debate desesperadamente, mas o menino se nega a ajudá-lo, e pouco a pouco Ferdinando é puxado pela rede para o fundo do lago.
Os pais começaram as buscas juntamente com o Delegado e mais um contingente de pessoas.
Após muitas buscas, resolveram vasculhar o lago, chamaram mergulhadores e para tristeza de todos, Ferdinando foi encontrado.
Após seu sepultamento seus pais decidiram vender a casa e se mudarem, Pois ali tinha lembranças tristes que eles queriam esquecer. Colocaram a casa a venda em uma Imobiliária, várias pessoas vieram ver, e uma delas gostou muito e comprou-a.
Os pais de Ferdinando se mudaram.
No dia da mudança, os novos moradores chegaram, logo em seguida o caminhão da mudança.
A nova família era composta dos pais, um filho de dez anos e a empregada.
Os novos moradores estavam adorando a nova casa, após as arrumações, o menino escolheu o quarto que um dia pertenceu a Ferdinando.
Naquela primeira noite o menino ouviu vozes chamando-o e seguiu na sua direção até o sótão.
Conheceu seus novos amigos, Raimundo e Ferdinando, ambos contaram a mesma estória ao menino.
Brincaram muito e depois ficou combinado uma pescaria para os três, logo que o sol nascesse.
O Menino desceu e foi dormir sonhando com a bela pescaria que faria no dia seguinte no lago.