Rod’água
E, o dia vinha assim feito rod’água empurrando as horas, bebendo os segundos... engolindo a vida. A porteira no seu vai e vem, derruba as flores de São João enroscadas nos seus braços. Seu Firmino carrega o saco de arroz com palha em direção ao barulho do batuque, do outro lado do carreador. O monjolo derruba seu braço num bater constante...
Uma maldição cobre este pedaço do sítio... todos que passam por este caminho fazem o sinal da cruz... “Tarde, Firmino... ocê vai pros lado do monjolo e da rod’água... eita..., cabra macho...”
O homem continua na sua caminhada... as batidas ficam mais forte. Pá,pá,pá... pá,pá,pá... pá,pá,pá... “Como a batida do coração! Nem quero ficá matutando... Cruzes!”
Veio na lembrança de Firmino, a jovem Luiza e a sua paixão pelo vaqueiro Miguel... os ciúmes do moço ultrapassava as fronteiras da consciência. Os pais de Luiza imploravam para ela esquecer o rapaz... mas, coração apaixonado ... fica louco!
Miguel viu Luiza conversando com o seu primo... e, como... ele tinha ciúmes até mesmo da sombra da namorada ficou sem saber; o que falavam...
Aquela imagem não sai da sua cabeça. A lua vibra nos céus. Dupla lua?! Lua Azul. Miguel não consegue ver tanta beleza. Os ciúmes e o ódio nublam seus olhos martirizam sua alma. O monjolo bate na sua cabeça... pá,pá,pá... rumina na sua alma doentia.
Firmino passa pela rod’àgua e chega ao monjolo confere se o pilão está limpo! Tudo funcionando, coloca uma quantidade de arroz para ser batido. Enquanto espera não se dá conta e adormece. Acorda com um grito de dor. Pesadelo! Olha no pilão... assusta!. O saco de arroz está batido, pronto! Como?! Quem trabalhou no seu lugar?
Chega perto do pilão, o braço cai... gemidos e gritos. Do pilão escorre um líquido denso e mal cheiroso. O braço do pilão... pá,pá,pá... bate o que restou de um coração.... pá,pá,pá...