Amálgama Fantasma - Cap 18

Pessoal, percebi hoje que como não sou assinante premium sou um desprivilegiado e não consigo fazer nenhuma edição especial no texto hauhauha, por isso os parágrafos em itálico acabei colocando com um asterisco na frente, perdoem-me...

XVIII

* Era um mundo escuro e letárgico. Eu era como um móvel numa sala, meu propósito era existir para que outros interagissem comigo. Eu não era nada além de um objeto agora. Um objeto que via e ouvia, que sentia mas que não interagia. Eu não era nada e aquilo estava sendo eu. Aquilo que odeia. Aquilo que queria a morte.

* Aquilo era eu.

* Meu corpo ficou parado diante da porta por um tempo incalculável enquanto eu permanecia imersa num mar de trevas que por um milagre apenas não me afogava. Eu via pelos meus olhos, ouvia pelos ouvidos e podia cheirar o cheiro firme da antiga madeira a minha frente, a única coisa que não podia era sentir, minha pele estava anestesiada e poderia sofrer múltiplas amputações que não teria sequer torcido o rosto numa expressão de dor.

* O dia se foi e com ele a noite entrou e aos poucos fui me dando conta de meu estado. Eu sabia que precisava sair dali mas a escuridão era tão confortável que meus músculos não obedeciam as minhas ordens de se mover. Meus olhos – não os reais mas os da minha mente – pesavam e por diversas vezes os fechei apenas para sentir a inconsciência abraçar-me, estopim para que eu os abrisse novamente e deixasse a agitação tentar levar sem sucesso aquele cansaço embora. Eu não podia ser vencida pela inconsciência ali, eu precisava lutar para reaver meu corpo ou as pessoas correriam perigo!

* Fiz mais uma tentativa de voltar ao controle, um movimento brusco em meu corpo etéreo que senti mover meu corpo real também. A coisa que me controlava desviou meu olhar para o membro mexido e sorriu pelos meus lábios, logo soltando uma frase.

- Fique onde está.

* Eu quis responder. Quis mandar aquela coisa se calar e devolver meu corpo mas não consegui abrir a boca. A letargia voltou a envolver-me e novamente minhas forças estavam todas concentradas em não deixar que minha consciência desaparecesse, dando por fim o controle total para aquela entidade.

Duas batidas na porta a frente violaram a disputa naquele porão.

- Talita, você está aí? Já terminamos o ritual. Vamos abrir a porta está bem?

- Claro! – A coisa respondeu – Mas ande logo!

* A voz de Enzo foi inconfundível, aumentando meu desespero e me forçando a tentar um novo movimento. Todavia não houve reação no meu corpo real dessa vez independente de quanto mexesse meu corpo etéreo. A cada instante a entidade se adaptava melhor a mim me deixando mais distante. Senti um súbito temor, já havia presenciado uma possessão perpétua antes, uma entidade com poder suficiente para expulsar uma consciência e assumir o lugar dela para sempre. Não queria terminar os meus dias como uma das coisas as quais sempre caçara.

Quando foi aberta, a porta rangeu de uma forma que teria feito alguém mais sensível se encolher. A coisa que era Talita deu um passo para trás encarando as três figuras que também a encaravam.

- E aí como passou? – Enzo perguntou olhando o corpo de cima abaixo

– Você não ficou de pé aí a tarde toda, não é?

- Eu achei bastante coisa para fazer.

- Sério? Que ótimo. Então sua noite foi menos frustrante do que a nossa.

Enzo olhou de esguelha para Giovana que vinha com a expressão mais fechada do que nunca.

- O que aconteceu? – O corpo de Talita perguntou.

Giovana bufou com tanta força que teria derrubado a casa de tijolos dos três porquinhos.

- Foi um fracasso – Padre Sávio respondeu após perceber que a médium jamais admitiria a derrota em voz alta – Não conseguimos contato nem com uma mosca.

- Alguma coisa afastou a entidade – Giovana falou arranhada e por pouco não partiu para moder o padre. – Se ela estivesse nessa casa eu teria feito a invocação com certeza!

* - É claro que você não conseguiu fazer a invocação sua estúpida! A entidade está me possuindo!

* Por um momento achei que tinha reavido minha voz mas foi um alarme falso, o som ecoou apenas no espaço em que eu estava, lugar onde minha voz jamais alcançaria Enzo e os demais.

- Enfim, teremos que pensar no que fazer amanhã. – Enzo disse engolindo mais um bombom – Vamos Talita, saia daí, ainda podemos ter uma boa noite de sono.

* Meu corpo tremeu e comecei a me mover. Fiz força tentando conter minhas pernas mas foi em vão... A coisa me levou até o limiar da porta parando para observar a todos.

*Foi a vez do meu corpo etéreo tremer. Eu sabia o que a entidade que agora era eu queria...

* A porta daquele porão só podia ser aberta por fora!

* - Vocês têm que sair daí! Saíam de perto de mim! Ela vai trancar vocês aí dentro!

* Mas minha voz existia apenas no mundo em que eu estava, a escuridão era densa demais para permitir que ela saísse. Observei atônita os olhares das três figuras que me encaravam e começavam a perceber que alguma coisa não estava certa.

- Você está bem jovem? – Padre Sávio perguntou esticando o pescoço – Parece pálida...

- Ela não deve ter tido a melhor tarde aí dentro – Giovana sorriu ácida embora a frustração ainda marcasse sua face.

- Talita... Você está bem?

A pergunta de Enzo ficou no ar até a coisa responder.

- Eu sei porque o ritual de hoje falhou.

O trio se entreolhou com expressões curiosas.

- Do que você está falando?

A coisa ergueu o braço apontando para o porão.

- Lá dentro. Eu encontrei pouco depois de vocês me trancarem, não avisei antes porque sabia que vocês não abririam independente do que eu dissesse. Venham, eu mostro para vocês.

- E o que seria minha jovem? – Padre Sávio questionou – Não tem nada além de bugigangas aí.

- Está escondido embaixo de um alçapão, por isso vocês não puderam encontrar.

Padre Sávio ergueu uma sobrancelha e desceu seguido por uma curiosa médium, Enzo também passou descendo os primeiros degraus.

* - Idiotas! Parem! Não conseguem perceber que não sou eu?!

Mas um deles percebeu.

Enzo parou no terceiro degrau, a essa altura Giovana e padre Sávio já estavam no fim da escada.

- Talita, para fazer qualquer coisa vou ter que pegar alguns medidores que deixei no Fusca.

- Eu posso pegá-los para você Enzo.

- Estão no porta-malas, as chaves estão no meu quarto onde eu sempre guardo, sabe onde é?

- Sei sim.

Enzo virou, encarando a coisa com uma sobrancelha levantada. A essa altura Giovana e padre Sávio começavam a procurar pelo chão alguma passagem que não tivessem visto antes.

- Onde está garota? – Giovana perguntou após uma olhada rápida e infrutífera – Não tem nada aqui!

A coisa não deu atenção. Enzo também não, ficando a encarar a criatura na soleira da porta.

* Mas eu sabia que ele a havia pegado.

- Só uma última informação cara entidade... Eu e Talita temos um Gurgel.

Enzo sacou uma faca e avançou na direção da coisa. Porém a coisa estava preparada e empurrou a porta rápido o bastante para trancar a todos lá dentro. Enzo ainda tentou atingí-la lançando a faca como em um circo mas o corpo de Talita foi mais rápido, desviando e encarceirando o único trio que poderia vencê-la dentro de um porão imune a feitiços.

A coisa que controlava Talita havia vencido.

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Peço desculpas de novo pelo pequeno problema de edição, continua domingo 02/09

Gantz
Enviado por Gantz em 31/08/2012
Código do texto: T3858067
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