O HOTEL MAL ASSOMBRADO
Estava eu andando naquele hotel desativado...
Hotel Gloria, situado na Rua da Gloria no bairro da Liberdade São Paulo. Era um velho edifício de 15 andares, que na década de 80 um incêndio matou mais de 70 pessoas, ficou fechado por mais de 20 anos, não conseguia alvará da prefeitura para funcionar, só depois de uma grande reforma das estruturas que foram abaladas pelo incêndio e refazer toda a parte elétrica e hidráulica, alem de providenciar saídas de emergências alternativas e instalação de sprinters em todas as salas e corredores e depois disso uma equipe do corpo de bombeiro junto com engenheiros da prefeitura representando a defesa civil iam fazer uma vistoria geral para verificar se estaria tudo em ordem, só depois disso é que a prefeitura liberaria o alvará de funcionamento.
As partes de engenharia civil e elétrica já estavam finalizadas, reforços nas colunas e paredes, troca de portas e janelas, instalação dos alarmes de incêndio, extintores em todas as dependências, elevadores e escadas para saídas de emergência, sprinters nos tetos, quadros com equipamentos contra incêndio, exaustores nos corredores, piso frio, paredes pintadas com tinta especial, câmeras de vídeo nos corredores e entrada, sala de segurança com equipamentos e informatizados, estava tudo perfeitamente do jeito que foram pedidos pela defesa civil e pelo corpo de bombeiros, que fizeram duas visitas com equipes diferentes, finalmente depois da aprovação da defesa civil e dos bombeiros, a prefeitura soltou o alvará de funcionamento.
Agora era a parte da mobília, uma equipe ficou duas semanas instalando os moveis dos apartamentos, enquanto outra equipe fazia a instalação dos aparelhos de ar condicionado, o senhor Farid, um dos sócios era um Libanês muito exigente, já o senhor khalid era mais tranquilo, mas não menos exigente, ele tomava conta da parte financeira, enquanto Farid da parte operacional. Finalmente o hotel ficou pronto, e a noite quando todos iam embora para casa, eu e meus amigos da segurança ficávamos tomando conta, na verdade a gente mais dormia do que tomava conta, isso enquanto as obras e o resto não estavam prontos, mas depois foi impossível alguém dormir.
Durante as reformas ouvíamos um barulho aqui outro ali, mas imaginamos que seria normal, por conta dos materiais e ferramentas espalhadas, mas agora era diferente, um dia depois de tudo ficar pronto para a inauguração coisas estranhas começaram a acontecer, de dia ficava apenas um segurança na recepção e outro fazendo ronda pelos andares, nos corredores e elevadores, á noite também éramos dois, eu e o chupeta, não sei o porquê desse apelido, ele jamais quis falar sobre isso, seu nome era Alexandre, na primeira noite ele ficou na recepção e eu andando de andar em andar, sabia que não tinha nada, mas tinha que fazer isso, as câmeras ficavam ligadas, agora não era mais possível tirar uma soneca, Chupeta ficou na recepção onde havia uma tevê, ficava vendo filmes enquanto eu fazia a rotina, já no primeiro lance no elevador ele deu um tranco, fiquei com medo de aquele trem cair, mas eu pensei, o bagulho é novinho, não corro este perigo e estava subindo até o 15’ andar quando a luz do elevador se apagou. – caramba fiquei com medo de aquela porcaria cair, eu vou é descer pelas escadas nem que eu chegue lá embaixo de manhã, falei eu.
Finalmente cheguei no 15’, estava ofegante. Ofegante do que? Pensei , caramba to ficando velho e medroso, nem vou contar pro Chupeta se não ele vai ficar zuando, dei uma olhada no corredor, estava tudo tranquilo, empurrei as portas para conferir se estavam todas trancadas, depois de conferir uma por uma era hora de pegar o elevador novamente e descer para o 14’, tinha que fazer isso em todos os andares até chegar ao térreo, olhei fixo para o elevador e decidi ir pelas escadas, antes apaguei a luz do corredor ficando só a da escada acesa, quando desci uns quatro degraus escutei uma porta bater, - caramba não é possível, tenho certeza que olhei porta por porta. Voltei, fui acender a lâmpada, mas já estava acesa, eu estava ficando louco, juro que tinha apagado, bem, fui lá novamente verificar porta por porta e não é que ultima estava aberta? Mas juro, que tinha verificado aquilo estava ficando com medo, enfim, peguei as chaves olhei o numero do quarto, era o quarto 300, tranquei sai e apaguei a luz do corredor, desci as escadas, novamente a porta bateu, não é possível, devo estar ouvindo coisas, resolvi não voltar e continuei a descer até o 14’ andar.
Chupeta me chamou pelo radio.
- e aí mano tá tranquilo aí em cima ou tá dormindo no banheiro?
- dormindo nada, mas ta tudo tranquilo, to no 14’ até de manha eu to ai embaixo.
- aí, não é querendo te assustar não, mas no 13’ foi onde morreu a mãe e os filhos, se precisar de alguma coisa me chama há-há-há.
Mal sabia ele que eu já estava em apuros, comecei a verificar se as portas estavam fechadas, testei na ida e na volta para não ter dúvida, apaguei a luz novamente e estava me dirigindo para as escadas quando a porta do elevador se abriu sozinha, aquilo fez meu coração bater tão rapidamente que perdi a respiração, desci as escadas num pinote só, nem percebi que já estava no 13’, olhei para o elevador em frente para ver em que andar ele estava parado, para a minha surpresa ele continuava no 15”, mas como se ele estava com a porta aberta no 14’?, não tentei encontrar explicações, nem lembrava mais do que o Chupeta havia falado sobre o que aconteceu naquele andar, encostei na parede e respirei fundo, mais uma vez passei observando se estavam todas trancadas, voltei fazendo a mesma coisa, depois de ter certeza que estavam todas trancadas resolvi ir até a janela do coredor que dava vista para a rua, acendi um cigarro e olhava para a rua deserta, as ruas escuras e sem vidas, iluminadas apenas pelas lâmpadas dos postes, a garoa fina que podiam ser vista pelo reflexo das luminárias, de dia era um transito infernal, mas naquela hora o silencio era total, nenhum barulho, nenhum movimento, um grito ecoou no corredor! o susto foi tão grande que deixei o cigarro cair, fiquei paralisado, mesmo fazendo o Maximo de esforço, minhas pernas não respondiam, a porta de um dos quartos abria e fechava freneticamente, foi mais nítido, era um grito de crianças, não sei de onde arrumei coragem e saí correndo escadas abaixo, desci até o 9’ andar, minhas pernas travaram, tentava chamar o Chupeta pelo radio,mas ele não respondia, maldito, quando precisei dele ele não respondia, cansado e sem fôlego apelei pro elevador, apertei o botão mas ele não descia, não acreditava que aquilo estava acontecendo, finalmente o desgraçado desceu, entrei e apertei o botão do térreo, ele parou e a porta se abriu desci rapidamente, foi quando dei por mim que não estava no térreo, olhei para o visor, estava no 7’ andar, Caramba não se lembrava de ter apertado pra descer naquele andar, a porta do elevador se fechou, apertei o botão novamente, mas ele desceu até o térreo, tinha que esperar ele descer e voltar novamente, eu apertei o botão para ele subir, mas ele continuou parado, eu não queria ficar ali sozinho, resolvi descer as escadas novamente.
Senti alguma coisa passando por trás de mim, olhei para trás vi um vulto de uma mulher correndo com um vestido vermelho, parecia uma camisola, ela sumiu degrau acima, era tanto pânico que nem sabia mais o que fazer, tentava me comunicar pelo radio com Chupeta, mas só dava estática, soltei o nó da gravata, o suor manchava minha camisa branca, meus cabelos com gel estava mais arrepiado ainda, o elevador chegou, corri até ele e entrei. dessa vez fui apertando a tecla do térreo sem parar, as portas se abriram saí correndo para ficar perto do Chupeta e me sentir mais seguro, mas quando dei por mim, não estava no térreo, estava no 15’ andar novamente, que porra é essa, o que estava acontecendo! A lâmpada do corredor estava acesa novamente, mas aquela altura nem havia percebido, a porta do 300 abria e fechava sem parar, a luz de dentro dele acendia e apagava continuamente, agora era a voz de um homem pedindo socorro, quem estava pedindo socorro era eu e o F D P do Chupeta não me ajudava.
A essa altura já estava sem gravata, quando tirei deixei cair em algum lugar, a camisa suada e pra fora da calça e segurando o radio, os cabelos antes todo arrumadinho com gel estava parecendo um ninho de pombo, o suor descia pelo rosto e meus olhos cheio de pavor, alguém me chamou pelo radio, graças a Deus podia falar com alguém, era o Chupeta.
- aí, Vê se para de enrolar desce aqui que quero ir ao banheiro.
- caraça véio seu desgraçado do cara... Onde você estava te chamei uma pá de vez.
Pô, eu não sai daqui, to apertado, você ta demorando muito, tava dormindo aposto!
Tomei coragem entrei de volta no elevador, teclei o térreo e o elevador começou a descer, quando ele parou aguardei para ver se estava mesmo no térreo, realmente estava, mas estava escuro, meu coração começou a disparar novamente, o radio tocou.
- e ai mano vai ficar ai parado no elevador?
- cadê você seu viado!
- to aqui mano vendo tevê aqui na recepção.
Sai desconfiado e receoso, quando de repente! As luzes todas se acenderam.
Um bom numero de pessoas estavam lá reunidas ao lado de um bolo de aniversário e começaram a cantar parabéns, naquela correria eu nem havia lembrado do meu próprio aniversário, estava possesso de raiva e saber que me fizeram de bobo, mas quando vi minha esposa e meus filhos tudo passou rapidamente, antes meu coração estava disparado pelo pânico, agora era pele emoção, eu achava que não ia aguentar, eu estava literalmente acabado, suado, sem gravata, os cabelos desarrumados, cansado, camisa molhada de suor e para fora das calças, minha esposa chorando veio me abraçar juntamente com meus filhos e pedindo desculpas por ter participado daquela brincadeira bizarra, depois quis saber como aquilo havia acontecido, então a minha esposa disse que foi tudo orquestrado pelo chefe de segurança, o meu patrão é claro, pior que eu nem podia manda-lo para aquele lugar, então o Chupeta começou a explicar:
Sabíamos que você tinha medo dessas coisas, aí conversei com o chefe que foi conversar com a sua esposa, no começo ela não queria ajudar, mas o chefe prometeu que seria só uma brincadeirinha, que tudo ia ser filmado pra depois vocês darem risadas juntos, chamamos toda a equipe de segurança e sua família, só a gente ia ficar sabendo do que havia acontecido aqui, também veio a esposa do chefe e os filhos do seu Jair e encomendamos um bolo aqui no mercado 24 horas, tudo já estava planejado uma semana antes, o Pedro ficou trancado no apto 300 do 15 andar, mas ficou com uma copia da chave para abrir e fechar, as lâmpadas do elevador e do corredor é controlada daqui pelo sistema do computador, no 13 andar colocamos uma caixinha de som logo acima das câmeras, depois daqui do controle acionamos a porta do elevador para abrir, em um quarto estava os filhos do Jair que ficaram brincando de abrir e fechar a porta, depois quando você entrou no elevador pra descer, programamos ele para parar no 7’andar onde estava a esposa do chefe que concordou em participar da pegadinha, desligamos a luz foi quando você viu ela como se fosse um vulto ai você correu e entrou no elevador de novo, foi quando mandamos você de volta pro 15’ andar, foi quando resolvemos que era hora de parar porque a qualquer hora você ia ter um treco.
Bem,,, tirando o susto que passei, foi engraçado depois que tudo passou, ninguém ficou sabendo da brincadeira, mas uma coisa é verdade, depois que o hotel foi inaugurado, tem hospedes reclamando de barulhos estranhos durante a madrugada.