As Assombrações da Noite -2ª parte - Final

No dia seguinte, como de costume o pai chegou da roça e após saborear aquele delicioso jantarzinho feito na lenha, que ainda exalava o cheiro da fumaça, passaram todos a sala de visita, se reuniram em torno da lareira, e então começou a sessão de estórias. O pai começou contando a continuação da estória do dia anterior, pois quando o seu avô tomou conhecimento da mulher fantasma que assombrava o quintal, falou:

- Esta noite quem vai esperar por ela sou eu. E assim fez, já passavam das vinte e três horas, numa noite fria e chuvosa, seu avó sentou-se a porta da cozinha, perto do rabo do fogão de lenha, para se aquecer, de vez em quando ele tomava um cafezinho para espantar o sono, e lá ficava ele matutando com seus pensamentos, quem poderia ser aquela mulher. A noite já avançava, quando o seu avó despertava de um cochilo, foi então que avistou uma mulher vestida em trajes de noiva, com seu vestido rasgado e surrado pelo tempo. A mulher aproximou-se dele como a querer puxar prosa, como na noite anterior fez o mesmo ritual, entregou um coração sangrento em suas mãos, ao que ele indagou:

- Quem é você? - O que você quer? - O que posso fazer por você? - Por que vagas errantes?

Naquele momento a mulher rompeu o silêncio de tantas décadas e falou que o dono daquela fazenda foi seu noivo, e ela havia sido abandonada por ele no altar, e que depois disso ele se apaixonou por outra moça e ia casar-se com ela, então mandou que seus capangas a matasse e arrancasse seu coração, para ter certeza que ela não mais voltaria a incomodá-lo. Diante disso a moça ficou presa naquela fazenda e que a única maneira de libertá-la era encontrar alguém que colocasse seu coração de volta no lugar dele. Caso contrario ela vagaria errante de eternidade a eternidade.

O seu avó ficou sensibilizado com o sofrimento daquela moça e se prontificou a realizar o seu pedido. Não era uma tarefa fácil, mas ele faria.

Então seu avó pegou aquele coração sangrento e gelado e diga-se de passagem já cheirava mal. Ele deitou a moça sobre o solo, e viu a imensa cratera em seu peito, enquanto seu coração sangrento batia em sua mão, tum, tum, tum... como que a dizer:

- Estou vivo. E assim ele fez, foi abaixando-se devagar e encaixando o coração ao corpo da moça. Imediatamente uma luz brilhante tratou de cicatrizar as feridas, e a moça muito agradecida despediu-se de seu avó, e foi subindo em uma luz que a levou aos céus. Desde então nunca mais se teve notícias da moça vagante em sua fazenda.

O pai terminou de contar a estória e as crianças adormeceram, e todos dormiram em frente a lareira, que os aquecia como um cobertor.