Meia Noite na Fazenda - 2ª parte -Final
A noite fria, o vento soprando as labaredas da fogueira, os homens fazendo vigília na fazenda, passavam as horas contando casos e proseando, lá pelas tantas alguns deles começaram a sentir medo, pois sabiam que estava se aproximando a hora tão esperada. As 23:30 horas, o medo tomou conta de alguns, eles rangiam os dentes, tremiam e os cabelos do corpo se arrepiavam, tiveram vontade de desistir, mas honraram com a palavra.
A noite prometia, da cozinha exalava um cheirinho de café coado na hora, era meu pai que fazia um café para oferecer aos amigos.
Vez ou outra o vento trazia aquele cheirinho de mato, e também o cheiro da dama da noite, que tinha em nosso quintal. O sino da Igreja anunciava as doze badaladas da meia noite, blem, blem, blem... era chegada a hora, todos muito apreensivos, apesar do frio que fazia, eles soavam por todos os poros, espalhando um odor forte de suor de homem da lida, que trabalhou o dia inteiro. Pronto, era agora ou nunca, de repente em meio a neblina que já descia no terreiro e o ar gelado, começaram a surgir seres do outro mundo. Os homens se esconderam e ficaram na espreita a observar, viram que os mortos pareciam muito ocupados no trabalho da fazenda. Verificaram que uns estavam acorrentados, outros tinham um tipo de mordaça de ferro na boca, enquanto outros cortavam a lenha para fazer a comida.Eles andavam como que se arrastando, com grande dificuldade.
De repente um dos homens tremia tanto que esbarrou em um cesto, e o barulho atraiu a atenção dos mortos, que começaram a procurar de onde viera aquele ruído.Vasculharam tudo até encontrar os homens, e foram encontrando uma um. Os homens foram levados para o meio do terreiro, eles tremiam tanto de medo que começaram a urinar. Meu pai pensou o que fariam agora, como lidar com assombração. Eles colocaram os homens no tronco, acorrentaram, amordaçaram, aterrorizando a todos. Foi então que meu pai teve a ideia de conversar com eles, para saber por que eles estavam ali, o que eles queriam.
Meu pai perguntou lhes: _ O que vocês querem aqui? _ Por que estão nos assustando? _ Por que Não foram para o seu descanso? Ao que eles responderam que, Aquela terra era deles, pois trabalharam muito ali, e que seu povo morreu ali em seus algozes, que o Senhor da casa grande matou a todos, alguns no tronco apanhando, outros acorrentados no porão e o restante morreu de fome, pois o sinhozinho colocava uma mordaça de ferro em sua boca.
Meu pai lhes disse que sentia muito pelo que eles sofreram, mas que sua família não poderia ser atormentada por algo que não fizera. Meu pai lhes perguntou o que eles queriam para deixá-los em paz e seguirem o seu caminho. Ao que eles responderam que precisavam que fosse tirado todas correntes deles e que mandassem rezar uma missa por suas almas, pois a do sinhozinho já estava no inferno. Meu pai soltou seus amigos, em seguida todos ajudaram a libertar os escravos, e um a um foi ganhando alforria e desaparecendo. Após o último desaparecer eles trataram de retirar do terreiro tudo o que lembrava a escravidão. E assim os escravos tiveram sua alforria e seguiram seu caminho e nunca mais se ouviu qualquer barulho em nossa fazenda. Todos estavam tão felizes com o desfecho do ocorrido que fizeram uma festa,com direito a música, dança típica, a fogueira assando a batata e exalando o cheirinho do milho assado. Desse dia em diante houve paz para todos na fazenda.