O monstro
Um homem corria pelas ruas. Uma multidão enfurecida o perseguia. Gritos e xingamentos eram ouvidos. De repente o sujeito tropeçou e foi alcançado pelos seus perseguidores. Choro e pedidos de socorro saíram da sua boca, antes que uma machadada certeira o atingisse na cabeça. Mesmo sabendo que o homem já estava morto, a multidão ainda continuou o linchamento. O mais agitado de todos era o padre Samir. Seus olhos azuis brilhavam em fúria. Tudo começou quando o corpo da pequena Rebeca foi encontrado. A menina de apenas cinco anos, havia sido abusada e morta. Nunca houvera crime como aquele por ali. Monte alto era uma cidadezinha pacata, onde todos se conheciam. O delegado investigara, fizera buscas nos arredores, mas não conseguiu identificar o culpado. Meses depois outra criança foi encontrada morta, da mesma maneira que a primeira. Monte alto ficou em polvorosa. Novas investigações foram feitas, sem sucesso. Quando a neta do prefeito foi encontrada morta seminua, em uma casa abandonada, a população amedrontada se revoltou. Colocaram fogo no imóvel vazio, e em todos os outros onde não havia moradores. As crianças deixaram de ir à escola e foram proibidas de saírem às ruas sem os pais. Só tinham permissão de irem á igreja aos domingos, para a escolinha bíblica, mas deixadas lá por um responsável. O medo era palpável. Mesmo com tanta precaução duas meninas desapareceram, e dias depois foram encontradas boiando no rio que passava nos fundos da igreja. Tinham parte do corpo retalhado e também foram abusadas sexualmente. Muitas famílias que tinham crianças pequenas foram embora da cidade, as que ficaram redobraram os cuidados e a desconfiança. Um vendedor de verduras que quinzenalmente vinha á Monte alto foi pego como bode expiatório. Uma tarde enquanto esperava uma freguesa lhe entregar o dinheiro, que fora buscar dentro de casa, foi apedrejado pelo padre Samir, que colericamente o acusava de assassino. O povo que andava desesperado para encontrar o causador de tantas desgraças se uniu ao padre e covardemente atacou o verdureiro, ceifando lhe a vida com brutalidade. Não lhe deram a menor chance de defesa. Durante dois anos a paz reinou na cidade. Ninguém mais falava na morte das crianças e nem na do verdureiro. Uma tarde, porém, uma menina saiu gritando de dentro da igreja. Estava parcialmente nua e tinha hematomas no rosto. Essa era a hora em que os homens se reuniam na pracinha e as mulheres se sentavam nas portas das casas para amenizarem o calor. Quando viram a criança surgir machucada e chorando, não perderam tempo. Invadiram a igreja, arrastaram para fora o padre Samir e o espancaram até a morte. Através do vitral, o sacristão assistia a tudo com um sorriso perverso. 23/08/12