DEDO DURO XI - A Sobremesa

Retalhar a carne humana não é coisa pra qualquer um - apenas os médicos legistas possuem o sangue frio necessário, pois, a medicina os abre para uma visão mais ampla a respeito da vida humana. " É so um corpo sem vida. Pode ser de gente, pode ser de animal." Acho que os mestres, dando aula de anatomia falam assim para os seus alunos. O legista usa luvas e pega os órgãos retirados do corpo, pesa-os. Depois serão cremados, ou quem sabe, voltam para o corpo. A sutura, no geral é mal feita, feita ás pressas, pois tem muitos cadáveres para ver. Abrir, avaliar o estado de morte, fazer a necrópsia. "Insuportável deve ser o cheiro de morte que reina ali, no ambiente."

" Dez horas, hora do lanche. " - Acho que é assim. As mãos que abrem os mortos, pegam nos alimentos. "É o meu trabalho, so isso." Pensam.

Era uma manhã bela de verão. O sol radiante num céu azul. Bem-te-vis soltavam seus cânticos e colibris visitavam os vasos de água e áçucar que Emengarda havia espalhado pela cozinha.

O corpo estava no freezer. sentiu náuseas ao pensar no cheiro que exalaria ao colocar as partes para receber o tempero. Seria um prato com gosto de polícia. repetinamente foi absorvida pelo ódio e falou alto para si:

- Filho de uma vadia, queria me estuprar, e com certeza me mataria.

Abriu o freezer. O corpo ainda estava intacto, desfigurado, é claro.

- Fui precisa. Furei legal, ficou com cara de pastel.

Baixou a tampa do freezer, de forma automática - como se temesse o impossível. O cadáver sair dali. As pernas voltaram a tremer. O coração em disparada, estava sem fôlego.

- Jamais pensei que mataria alguém em minha vida, e que viveria tais momentos. So queria um emprego, seja que fosse para poder concluir afaculdade. Ganhei uma grana esperta, agora tenho que cozinhar gente morta para canibais.

- Emengarda estamos com fome. vai assar a carne?

Perguntou Dãozinho.

- Saia daqui, pestinha, ou vou te assar vivo.

O menino saiu correndo.

- Emengarda....Emengarda....

Ralhava, da sala o louco do Falcannus.

Ela nada respondeu. Retalhar a carne. Senti aquele cheiro nauseante de sangue humano. Cortar em pequenos e finos pedaços.

- Não, não...meu Deus. Não quero mais.

Observou chorando. As lágrimas escorriam pela bela face. Pensou quais seriam as consequências. Havia matado o delegado. Poderia pegar mais de oito anos de prisão e ser ligada aos demais crimes da família Falcannus.

- Vou ser forte. Vou dar seguimento, até onde der.

Foi á sala e reclamou que não faria o trabalho sujo e pesado de ter contato com o corpo e retirar as partes que assaria do cadáver. Ele concordou, se levantou de forma preguiçosa do sofá. Enquanto amolava a machadinha e a faca grande, observava-a. Devorava os seios, as coxas, as suas pernas grossas, com os olhos. Olhar de tarado.

- Você é uma delicinha Emergarda...

- Não sou para o seu bico. Ja matei esse aí, caso se insinue, poderá ser o próximo.

"Quem matará quem?"

Esta era a pergunta que se fazia o garotinho Dãozinho, enquanto se divertia com o bailado rápido dos colibris pela casa. Aguardava o almoço, ja degustando a sobremesa - pudim de côco.

-Dãozinho, vai engordar. Você é novinho, tem carne tenra. Quem sabe, ele não te trouxe para ser a sobre-mesa dele...

falou Emengarda. O menino soltou batelas de olho e se engasgou.

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 22/08/2012
Reeditado em 13/05/2014
Código do texto: T3843307
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