O garoto do túmulo
Katy era uma garota de 19 anos que tinha uma grande paixão por-acredite se quiser- cemitérios.
Ela sempre foi uma garota apaixonada pela literatura de horror, pela morte e tudo que dizia respeito a fenômenos que não tinham explicação.
Bom, pelo menos era isso que as pessoas pensavam, porém não ela.
Para Katy tudo tinha uma explicação e acreditava sim que os mortos ainda podiam ter contato com os vivos.
Sofria comentários por parte das outras pessoas, falavam que uma menina tão nova e tão bonita não devia gostar dessas coisas.
Katy gostava muito de ver fotos de diversos acidentes, onde os corpos ficavam totalmente desfigurados, sendo que não raro não dava nem pra identificar onde estavam as partes do corpo certas.
Gostava muito de histórias de terror, e estranhamente gostava do gosto de sangue, e o gosto de carne crua também agradava ao seu paladar, e muito.
Porém era uma garota normal e bem popular, diga-se de passagem.
Bem vamos então ao ocorrido.
Katy gostava de ir ao cemitério porque a morte a fascinava muito, e também por ser um local sossegado.
Gostava de olhar as fotos nos túmulos de pessoas conhecidas e até mesmo de pessoas que nem sonhara em conhecer, algumas até mortas antes mesmo dela nascer.
Certa vez, estava entediada em casa e sem ter nada o que fazer, resolveu então pegar sua moto e ir até o cemitério, que era o único da cidade e que não ficava distante de sua casa.
Chegando ao local fúnebre, entrou e deparou-se com algumas pessoas que colocavam flores em um túmulo.
Afastou-se, queria muito ficar sozinha e isolada, pelo menos dos seres viventes.
Foi andando olhando vários túmulos e lendo homenagens póstumas, e também pensando no que gostaria que escrevessem em seu túmulo quando morresse.
O cemitério da cidade era bastante grande, já que era o único que existia lá.
Continuou a caminhar absorta em idéias mórbidas sobre sua morte, ou mesmo sobre pessoas que gostaria de ver enterradas ali, essas pessoas eram os desafetos de Katy, e devo dizer que não eram poucas.
Mas de repente deparou-se com um jazigo muito bonito e grande, e a foto...
Ah aquela foto era muito bonita.
O garoto que aparecia nela era incrivelmente belo, com seus cabelos negros emoldurando seu lindo rosto.
Possuía uma linda boca capaz de hipnotizar qualquer mulher, interessou-se pelo túmulo e começou a ler as inscrições.
Ele havia morrido no ano em que ela nasceu e na época ele tinha 18 anos.
Tinha uma linda homenagem póstuma e por um instante ela ficou ali contemplando aquele lindo retrato.
Nem se deu conta do tempo passando, as horas que escorriam e quando deu por si já era o entardecer.
Ela apressou-se em sair, pois a mãe já deveria estar preocupada porque já havia se ausentado há muito tempo.
Chegando em casa começou a sabatina.
Sua mãe queria saber por onde tinha andado a tarde toda, mas ela nem sequer estava ouvindo, só conseguia pensar no menino da foto.
Será que estaria ela apaixonada por um morto, ou pior, por uma foto?
Naquela noite não comeu e nem quis ver o namorado.
Só queria que a noite passasse rápido, pois queria ir novamente ao cemitério levar flores para o túmulo de seu novo “amor”.
Amanheceu o dia e ela acordou cedo, estava em férias da faculdade.
Foi a uma loja especializada e comprou um lindo arranjo de flores, levou-o para o cemitério e depositou no jazigo.
Ficou novamente olhando por um longo tempo até que resolveu ir embora.
Parecia uma loucura, gostava de cemitérios, mas aquilo era loucura.
Chegou em casa e mais uma vez não teve fome.
A mãe já estava preocupada, pois a filha estava muito estranha, e com a chegada do namorado continuou taciturna e calada.
Não queria magoá-lo, mas não sentia mais nada por ele e nessa mesma noite resolveu terminar o namoro de um ano.
Ele foi embora arrasado, mas conformou-se.
Ela continuou suas visitas diárias ao túmulo e sempre ficava horas, agora já havia chegado ao extremo de ficar conversando com o nada pensando ser o garoto da foto.
Sentiu uma vontade incontrolável de unir-se a ele, mesmo que fosse no além.
Estava decidida, ela que possuía tanto interesse pela morte agora estava decidida a juntar-se a ele.
Não conseguia comer, não saia mais de casa e nem queria falar com as amigas.
Chegou o dia da tão esperada união.
Ela queria muito e saiu de casa bem cedo deixando apenas um bilhete para a mãe desculpando-se e despedindo-se.
Quando dona Marta acordou levou um grande susto, pois era muito cedo e sua filha não estava mais no quarto, encontrou então o bilhete.
Ficou desesperada e saiu dirigindo como uma louca pela cidade até o cemitério, pois ela havia escrito no bilhete para a mãe ir em busca de seu corpo no cemitério, e que queria e exigia ser enterrada ao lado tumulo onde a mãe a encontrasse.
Dona Marta chegou ao cemitério e pedindo ajuda ao coveiro saiu procurando desesperadamente pela filha.
Encontrou-a deitada sobre o túmulo do rapaz que era seu objeto de fascínio.
Ela não possuía nenhuma laceração, mas ao lado de seu corpo inerte jazia um frasco com um poderoso e letal veneno.
A mãe em prantos abraçou a filha, não conseguia entender, o porquê de tudo aquilo.
Mas como já não podia fazer nada apenas providenciou o enterro da filha que foi enterrada ao lado daquele túmulo, fazendo assim o seu último desejo.
Dona Marta nunca mais foi a mesma e viveu o resto de seus dias lamentando a morte da filha, sua única companheira.