Dedo Duro - IX - Tiros No Escuro

A figura esgueirava-se entre a cerca na direção da casa da chácara. Apoiava-se nos mourões - parecia ter dificuldades em andar na água, ou buscava maior apoio para não fazer barulho na água.

- Estou acordada, mocinho. Vai ter uma péssima surpresa.

Esforçando-se para não ficar em desequilíbrio, Emengarda pegou da arma. Segurava-a com as duas mãos.

-Não estou sozinha, não estou desprotegida. Uma arma de fogo é o melhor amigo, a melhor companhia para uma mulher indefesa.

Tentava se tranquilizar, falando assim, em bom tom para si.

- Não vou esperar que ele apareça de surpresa. Irei ao seu encontro.

Desceu , de forma vagarosa a escadaria de madeira, tantando não fazer barulho. Pela vidraça da porta de entrada, viu a figura em meio ao breu da noite vir na direção da casa. Parecia disposta, ter uma obstinação doentia. O aguaceiro formara um rio em volta da casa - a natureza com os seus reclames. O homem invade tudo, toma posse, e depois reclama.

- Filho de uma égua. Tomou parte do dinheiro que havia me dado, passando-me esta propriedade. Esta porcaria nada vale. Fica entre o rio e o mar. Todas as vezes que chover vai ser isso...

Após a prisão dos Falcannus, Emebgarda se calou para a polícia a respeito de Douglaz, então o mesmo se saiu como vítima na questão do canibalismo e dos assassinatos que ganharam a imprensa mundial. Disse ele na época:

- Cale-se e terá a sua premiação. Não quero ir preso. Ajude-me a recuperar a minha fortuna.

Como Douglaz, havia ajudado- a a salvar a sua pele, resolveu poupá-lo dos rigores da Lei - apresentando-o em seus depoimentos, como vítima da crueldade e da ambição do senhor e senhora Falcannus. Não sabia do destino do garoto Dãozinho - a pestinha que adorava carne humana fritada.

A porta da frente estava sendo forçada. O coração da mulher disparou. pensamentos pipocavam em sua cabeça.

-E, se a arma falhasse?

Estaria em mal lenções. O medo a atormentava, ao sentir a presença do invasor. Percebia o sabro da morte no ar. Suas pernas ja não estavam firmes. Sentou num canto da sala, no escuro. As lágrimas brotavam em seus olhos e escorriam pela sua bonita face. Arrastou-se pelo chão e foi até á cozinha,de forma nervosa, como uma cobra buscando proteção.

A cadeira e o pequeno sofá ja estavam cedendo á pressão do arrombador. A porta ja dava sinais de ceder.

Emengarda a muito custo não gritava de pavor. O grito estava contido. Estava se sentindo acuada, uma presa fácil, a não ser pela presença simbólica da arma em suas mãos trêmulas.

A porta cedeu, de forma violenta. Ele entrou. Estava muito escuro, havia uma luz tênue da lareira, que ja estava em brasas vermelhas. Ele a procurou pelos cantos da sala e quando se diria para a cozinha. Emengarda soltou um grito de pavor que o assustou.

Os estampidos se seguiram, de forma sequenciada, com rítmo. O seu medo foi tamanho a ponto de, ao invés de fugir, foi na direção do agressor, com fúria. Soltando rajadas de tiros. Viu quando ele foi alvejado e foi ao solo. Louca de medo se dirigiu correndo para fora. Fugia com dificuldades, devido ao peso das águas nas canelas. Caia e se levantava, gritando de pavor. Quando olhou para trás, para sua surpresa, ele estava ali - como se ela tivesse errado todos os tiros. Agarrou-a pela cintura e a jogou no chão alagado. Pegou

pelos cabelos dela e a arrastou para o interior da casa.

relampejava. A chuva voltara, com intensidade. Emengarda derramava-se em lágrimas. gritava alto, com desespero. Sabia o que a esperava.

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 13/08/2012
Reeditado em 13/05/2014
Código do texto: T3827849
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