O preço
Marinalva sempre foi vaidosa. Possuidora na juventude de uma beleza singular foi ganhadora em diversos concursos. Nunca se casou, pois nunca encontrou ninguém considerado a sua altura. Engravidou aos vinte e cinco anos, mas por medo de perder a boa forma, abortou. Aos cinquenta anos, solitária e envelhecida, Marinalva entrou em uma forte depressão. Caíram-lhe os cabelos e ela engordou mais de vinte quilos. Só falava em morrer, até que sua nova empregada, uma senhora taciturna e de poucas palavras disse que havia um jeito da patroa recuperar a saúde, a beleza e a juventude. Marinalva se alegrou com a notícia e prometeu fazer qualquer coisa para se tornar de novo jovem e bela. Durante sete noites, a empregada esfregou no rosto e em todo o corpo da patroa um unguento fétido, enquanto resmungava uma espécie de oração. Na oitava noite ela mandou que a patroa engolisse um copo de sangue e mastigasse uma raiz amarga. Na nona noite ela prendeu a patroa no banheiro junto com um gato preto, e disse que era preciso matar o animal e em seguida mastigar parte dele, pois só assim, o trabalho estaria quase completo. Ansiosa pelo resultado, Marinalva se preparou para dar cabo do bichano que miava em desespero tentando fugir. O dia já estava amanhecendo quando enfim o animal foi morto e teve as vísceras mastigadas. A porta do banheiro foi aberta, e a empregada deu a ordem macabra. Faltava um último passo. Era preciso sacrificar uma criança e oferece-la ao demônio. Marinalva ficou chocada, mas sua vaidade falou mais alto e ela se propôs a fazer oque foi ordenado. A empregada então saiu e prometeu voltar à noite com a encomenda. Passava um pouco da meia noite, quando ela retornou trazendo enrolado em um manto um bebê e o entregou a patroa, junto com uma faca afiada. Marinalva ao observar aquele ser indefeso quis desistir, mas a empregada disse que já era tarde demais, que não havia como voltar atrás em um trato com o mal, e para incentivar a patroa pegou a criança nos braços e a despiu. Marinalva achou estranho que o menino não chorasse e parecia fita-la com interesse. A empregada falou que não havia tempo a perder, que assim que o bebê fosse sacrificado, a patroa se tornaria imediatamente jovem. Deitando o recém-nascido em cima da mesa, Marinalva desferiu o primeiro golpe. Horrorizada ela percebeu que do ferimento não saia sangue e sim um líquido esverdeado, e que a boquinha do menino tinha dentes enegrecidos. Trêmula de medo, ela se virou para a empregada, mas em seu lugar havia agora uma enorme cabra preta. Tentou gritar por socorro, mas nesse instante o bebê se transformou em um homem alto com grandes chifres, a derrubou e enfiou em sua garganta o restante do gato que ela matara na noite anterior. Sufocada a mulher faleceu, mas antes presenciou a troca de beijos entre o demônio e a cabra. Vânia Lopes 12/08/2012