Seu lugar é no inferno
O som dos tiros ecoou na madrugada. Antero observou seu corpo caído ao chão, enquanto ao redor ouvia os gritos de lamento da esposa e dos filhos. Soube então que estava morto. Tinha decidido que mataria o cunhado, pois esse estava interferindo demais em sua vida. De alguma forma, o outro descobrira o plano antes e o matara. Alguém o havia traído. Olhou para sua mulher que chorava desesperada. Será que foi ela quem alertou o irmão? Um ódio profundo o dominou. Recordou então dos acontecimentos daquela noite. Todos já haviam se recolhido, quando ele descera em busca de água. Através da janela da cozinha vira a sombra indo em direção à garagem. Imaginando que se tratava de um ladrão, Antero pegou a arma e saiu porta a fora, decidido a impedir o roubo do automóvel da família. Assim que chegou mais perto, ele reconheceu o homem e percebeu que a ideia do outro não era roubar, e sim avariar o carro. Por ser o único a dirigir, entendeu que o cunhado mexia no carro para causar um acidente fatal. Sem pensar nas consequências, Antero puxou o gatilho, mas a arma falhou. O barulho chamou a atenção do cunhado, que de um salto o alcançou e após uma rápida luta, conseguiu tomar o revolver e disparou dois tiros no marido da sua irmã, fugindo em seguida. Nenhum remorso o movia, apenas a certeza de que fizera a coisa certa. Fora até ali para procurar o revolver que a irmã jurava estar escondido no carro, mas foi surpreendido. Antero era um homem violento e o cunhado temia que ele acabasse eliminando a esposa e os filhos em um momento de desvario. O sol já se punha quando a família retornou ao lar. Todos estavam entristecidos, mas também aliviados. Há anos sofriam com o comportamento agressivo de Antero. Ana a esposa, trazia por todo o corpo, marcas das agressões sofridas. Os dois filhos, nunca receberam carinho do pai, só xingamento e maus tratos. De agora em diante, começariam vida nova, pensavam todos. Antero, porém, tinha outros planos. Egoistamente ele ruminava grande ódio por sua família, e estava disposto a não abrir mão do que conseguira em vida. Naquela noite enquanto todos dormiam, ele perambulou cego de rancor pela casa e por todo o terreno. Ninguém herdaria seus bens, pois não viveriam o bastante para usufruí-los sentenciou. Na terceira noite após sua morte, Antero fechou todas as portas e janelas, derramou gasolina e colocou fogo na casa. A esposa e seus dois filhos não tiveram nenhuma chance de escapar das chamas que se espalharam rapidamente por todo o ambiente. Antero ensandecido gargalhava horrivelmente, quando viu surgir em meio ao fogo, algumas pessoas vestidas de branco, abraçarem carinhosamente a mulher e as duas crianças e sumirem no ar._ Não! (gritou ele) Deixe-os aqui para sofrerem. Não me tirem esse prazer. Quero me deleitar com suas dores! Malditos, são todos os três malditos. Merecem padecer em grande agonia. Antero ainda vociferava, quando das chamas surgiu uma figura grotesca. Parte humana, parte animal. A criatura o olhou com seu único olho vermelho situado no meio da testa, e em seguida falou em uma voz horripilante: _ Vem, está na hora de você ir para casa. Toda sorte de sofrimento está te aguardando em seu novo lar. Posso garantir que fizestes por merecer! Antero conheceu nesse momento, o verdadeiro medo, e sem ter como escapar ele foi puxado para os braços fétidos do senhor das trevas e arrastado para um lugar denominado inferno. Vânia Lopes 12/08/2012 (para Zeni com carinho.)