Aos olhos do morto
Acorrentado a estes vergalhões
Um sádico inicia sua loucura,
Cortando das pernas os tendões
Em sua câmara de tortura
Não sinto as pernas dormentes
O sangue goteja pelo ferimento
Ele agora arranca os meus dentes
Em uma sessão de sofrimento
Minha respiração é ofegante,
Sinto minha pele sendo cortada,
Um cheiro de horror nauseante
É a perversão da carne retalhada
Agora cortando as cartilagens
Uma dor insuportável prolifera,
Vendo apenas as foscas imagens
Do sol que adentra pela janela
Ao redor vejo meus semelhantes
Todos com os mesmos destinos
Mortos por estas mãos retaliantes
Que agora retiram os intestinos
Em uma balança de precisão,
Observo o maníaco algo pesando
Parece ser um pequeno coração
E com os dedos está contando
Um número de coisas imprecisas
Sob a luz desta câmara de agonia
Enquanto pelas frestas as brisas
Esquentam essa maca tão fria
Agora eu vejo sua roupa branca
Vindo próximo de minha jugular,
Juntando a minha pele e a anca
Com a agulha pronta a costurar
Um médico para mim sorri
Esse não pode ser o meu corpo,
Será que eu mesmo morri
Enxergando pelo olhar do morto?