Papai eu te amo

Acordei cansado dele, abri os olhos, me levantei e o vi. Ele estava de frente para mim, seus olhos tristes transbordavam a insatisfação com a vida que ele levava. Éramos duas pessoas totalmente diferentes, mas por muito tempo fomos um só.

A despedida foi a parte mais intragável daquele dia. Queria tocá-lo, senti-lo antes de dizer adeus, mas eu também queria matá-lo para sempre.

Ele estava entregue a situação, e ele sabia que eu não o perdoaria nunca por tudo que havia acontecido em minha vida. A verdade é que penso que somos dois lados de uma mesma moeda.

Nós dois choramos, as lágrimas pareciam padecer juntas, as palavras não existiam, pois diálogo algum resolveria nosso problema ou ao menos amenizaria nossa situação. Ergui meus braços com a certeza de que estava fazendo a coisa certa.

Uma mescla de sensações carregaram meus pensamentos e me vi em meio a lembranças. Vi como ele era egoísta, o quanto ele era solitário, e o quanto ele me afastou de meus amigos, e de minha família.

Pensei em gritar naquele momento, mas minha fúria era calada, porém não era tão amena assim. Em minhas mãos eu carregava o instrumento para anestesiar minha raiva. Olhei uma ultima vez para aquele rosto e então vi ele se quebrar com o golpe da marreta.

O senti partindo de minha vida para sempre, e o vi caído ao chão. Pisei sobre sua carcaça e senti o estalar de seus ossos se quebrando sob meus pés. Eu estava livre dele.

Juntei minhas coisas e saí porta afora, ainda paguei o ultimo aluguel ao sindico, e lhe dei um troco a mais pelos prejuízos, sem explicar o porquê daquilo desci as escadas, aliviado.

Quando cheguei do lado de fora daquele prédio, ainda dei uma ultima olhada para minha antiga janela, imaginei-o preso lá dentro comigo durante todo aquele tempo. Três meses juntos sem sair de casa, gastando meu dinheiro com pizza, coca cola e hambúrgueres. Papai não gostaria de saber que era esse o investimento que estava fazendo com parte de sua gorda herança.

O barulho da cidade, o cheiro da poluição, agora tudo parecia tão fresco e cheio de significados. Eu estava vivo novamente. Lembrei-me de como fui tolo ao entrar naquela terrível depressão após a morte de meu pai. Lembrei-me da pessoa que eu acabara de deixar para trás.

Uma pessoa alienada. Estava dividido, não era eu mesmo há muito tempo. Desde quando falei para meu pai, um dia antes dele morrer, que eu o odiava. Mas eu menti, o amava tanto. Tanto que não sabia como lidar com isso. E só consegui me perdoar daquela escravidão quando a marreta encontrou o meu reflexo apagado no espelho. Vi-me em mil pedaços, partido, mas pronto para recomeçar.

Perdoe-me pai, pois eu te amo e para sempre irei te amar!

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Sejam sempre bem vindos!

E ao meu querido pai, um beijo do fundo de meu coração!

Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 09/08/2012
Reeditado em 10/08/2012
Código do texto: T3821833
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