Canibais...
Pelas florestas tão desconhecidas
Pousei o planador com defeito,
Caminhando nas trilhas escurecidas
Nada me parecia ser suspeito.
Caminhando por horas a fio,
Ao longe eu já podia senão avistar
Por entre a correnteza do rio
Um pequeno vilarejo se aproximar
Escalei a escarpa mais adiante,
Com o resto da energia que restava
Chegando ao alto apenas ofegante
A sombra da arvore eu repousava
Dormi ou pelo menos cochilei,
Sentia-me sem forças e esgotado
Lembro-me de quando acordei
Todo o corpo estava acorrentado
Estava eu preso ao calabouço,
Com a umidade e cheiro horrível,
Tinha uma corda junto do pescoço
E ouvi algum som nada inaudível
Aquele buraco era bem estreito
O leve ondular de uma brisa,
Já nas narinas me fazia um efeito
Do fétido odor de carniça
Estou preso e de nada eu sei,
Quando a corda ao buraco pendeu,
Só agora esta verdade saberei
Pois por meio dela o nativo desceu
Parecia um indígena desconhecido
De uma tribo dessas africanas,
Balbuciou algo que em meu ouvido
Soou como palavras insanas
Amarrado a uma tábua fui erguido
E vi pela primeira vez a luz,
Com esse meu corpo todo dolorido
Parecia estar pregado na cruz
Uma roda em meio a mim se abria
Em um coro de tantas vozes,
Pressenti o fim e sequer eu sabia
Que eles seriam meus algozes
Bradavam com seus machados,
Palavras em um dialeto,
Apontando os crânios rachados
Em uma pilha tão perto
E calado observei tantos corpos,
Com suas vísceras extirpadas,
Todos turistas creio, e assim mortos
Suas entranhas todas cortadas
Era uma tribo pequena de aldeões
Como as hienas são carniçais,
Estaturas diminutas como anões
Sendo eles todos canibais
Expressei o horror de tantos medos,
Vi entrar a faca que se assanha,
Rancando com força os meus dedos
E ela cortar a minha entranha
Agora não saberia eu lhe dizer
Se há uma esperança no momento
Tenho certeza que irei morrer
Sendo dos canibais fresco alimento!