TRECHO DO MEU LIVRO (Noites sem lua)
“... a madrugada estava sombria como costumava ser nessa época do ano, ventava e já passava de meia noite, as tochas de todos que consegui trazer ardiam em fúria pedindo por vingança; vingança por Martina, minha esposa dedicada que sucumbira diante das artimanhas de um homem desalmado. Ele estava cercado, de um lado o rio Danúbio e do outro estávamos eu e os moradores com nossas tochas e armas; iria terminar naquela noite, o strigoi avançava rosnando e gritando para tentar nos amedrontar e já tinha derrubado muitos de nós durante a caçada, mas assim como eu, as pessoas não tinham mais o que perder, ele tinha levado de nossas vidas as pessoas mais importantes, cada cidadão ali presente tinha perdido um parente querido nas garras do monstro, uma esposa, uma irmã, prima, tia ou filha. Teríamos que carregar essas marcas para sempre.
Os crucifixos e cruzes não faziam nenhum efeito sobre ele sem que um homem santo estivesse o empunhando; podíamos ver o brilho nos olhos do strigoi a cada vez que ele urrava; tremíamos por dentro ao ver seus dentes caninos grandes como as presas de um leão. Alguns choravam lembrando dos que se foram e sabíamos que ele lutaria como cem homens para não morrer, mas ao meu sinal avançamos tentando queimá-lo, decapitá-lo ou empalá-lo; mas ele movia-se como um vendaval derrubando cada um de nós um após o outro e bebendo do sangue dos que tombavam para se recuperar. Eu tentei me aproximar dele, mas a multidão não deixava, estava cercado e cada um queria levar a cabo sua vingança particular; quando finalmente fiquei frente a frente com a “besta” em meio a todo aquele alvoroço brandi minha estaca feita com um galho de árvore retirada dos jardins da igreja Votivkirche e ataquei, mas errei. Não acertei o coração, e ele não tombou, ao contrário, ele retirou a estaca de seu peito e a enterrou em meu abdômen; perdi a fala nesse dia; fui arremessado no rio e não vi o fim da batalha; peço todos os dias pelos que não se salvaram naquela época e agora que já está quase na minha hora, peço-te que não se envolva, não tente vingar-se nem por mim nem por sua mãe. Viva sua vida e com sorte ele não cruzará seu caminho”.
Viena 05 de agosto de 1954.
Parte traduzida de uma carta de Raniere Andreas Rovereto Merano para seu filho.
Aqui é o ponto de partida para uma aventura alucinante ocorrida em minha cidade, Mesquita (RJ); cujo princípio em 1893 na Alemanha teve seus desdobrabentos até o ano 2004 no Rio de janeiro.