Uma ajuda do além
Sempre que Adelmo passava por aquela casa, sentia a curiosidade lhe espicaçar. Era um jovem escritor, e por isso mesmo era dado a fantasias. A casa era um velho sobrado construído nos meados do século dezenove. Suas enormes janelas de madeira estavam sempre fechadas. A pintura descascara com o passar dos anos, e o musgo dava ao sobrado uma aparência sinistra. Adelmo se mudara há pouco tempo para a cidadezinha, e não sabia a quem pertencia ou se havia moradores ali. Gostava de parar enfrente ao portão enferrujado, e deixar que a imaginação o guiasse. Já escrevera diversas crônicas sobre a casa. Algumas recheadas de assombração e mistério. Uma em especial falava de uma jovem mulher que fora emparedada viva, pelo companheiro ciumento. Esse assistiu impassível aos gritos e gemidos da companheira, e quando teve certeza de que ela morrera se suicidou com um tiro na boca. As histórias escritas pelo moço eram enviadas para um jornal na cidade vizinha e lidas avidamente pela população. Em pouco tempo o jovem se tornou um famoso escritor e fez fortuna. Por saber que sua maior fonte de inspiração era o sobrado, ele investigou , descobriu quem era o proprietário e o comprou. Mudou-se para a casa em companhia da tia que o criara e de duas empregadas. O sobrado tinha diversos aposentos e a despeito da aparência decrépita do lado externo, estava em boas condições de uso por dentro. Adelmo escolheu para si um quarto grande com um banheiro conjugado, onde uma banheira com torneiras enferrujadas dava ao lugar um quê de filme antigo. A lareira ficava sempre acesa, mas não aquecia o aposento sempre gelado. As empregadas evitavam se demorar por ali, e a velha senhora se arrepiava, todas as vezes que precisava entrar no quarto para falar com o sobrinho. Adelmo nada estranhava e passou a ter muito mais criatividade para escrever. Quase não dormia e nem se alimentava, tomado por uma ânsia de colocar no papel ideias que iam surgindo de repente. Emagreceu muito e uma tosse comprida foi minando suas forças. Depois de algum tempo, o rapaz não tinha energia nem para sair da cama, mas continuou ainda a escrever suas histórias de terror. Na noite em que ele acabou de escrever o conto intitulado “A morta na banheira”, Sentiu uma mão gelada o asfixiando enquanto a vida deixava seu corpo. Com a morte do sobrinho, a tia e as empregadas deixaram a casa. O novo ocupante da casa foi um jornalista medíocre, que até então não se destacara na profissão. Em pouco tempo passou a escrever excelentes matérias sobrenaturais e se tornou um homem conhecido e próspero. Seu último artigo dias antes de morrer, falava de uma bela jovem, assassinada na banheira pelo marido violento. Vânia Lopes 30/07/2012
Para Vanessa Roberta pelo apoio e comentários.