O GUARDIÃO DA PONTE

Era tarde, estava no meio do céu a lua cheia que deixava prateada a noite, o homem cavalgava por estradas desconhecidas cercada por uma mata densa, seu destino era incerto desde que fugiu da fazenda onde trabalhava em regime escravo, seu cavalo parecia cansado e ele, magro, olhos fundos já sentia o corpo anestesiado pelas moléstias do tempo, não tinha nenhum dinheiro e havia perdido, na fuga, o medalhão de ouro que fora de seu pai. Pode ouvir de longe um rio em curso, pelo menos teria água, ele pensou.

Ao chegar à pequena ponte de madeira velha o cavalo hesitou. Afastando de ré o animal quase o derrubou de seu lombo, o homem segurou as rédeas com força e avançou contra a ponte, novamente o cavalo se recusou a atravessá-la empinando e, dessa vez, derrubando o cavaleiro que bateu com a cabeça contra uma pedra. O homem se levantou meio tonto, sentiu o sangue morno escorrer por seus cabelos, praguejou e se pôs a examinar a ponte cuidadosamente, um vento frio bateu em sua nuca fazendo os pelos do seu corpo se levantarem. Ele tremeu. Do outro lado da ponte a beira da estrada estava uma cruz quase totalmente coberta pelo capim.

Mesmo puxado pelas rédeas o cavalo se recusava a atravessar a maldita ponte, com força o homem tentava vencer o animal em fúria, que de debatia buscando uma forma de se libertar, ao meio da ponte um vento forte e gelado começou açoitá-los, algo grande como uma pedra de aproximadamente trinta quilos pareceu cair sobre o rio, o cavalo se soltou e correu em desespero no sentido oposto ao caminho que seguiam.

O homem se debruçou na beira da ponte para ver a causa do barulho, o rio seguia calmo prateado em sua superfície banhada pela luz da lua. O cavalo, a galopes e enlouquecido, dificilmente seria alcançado, então ele desceu até o rio para lavar o rosto e afastar o torpor, as margens a água parecia calma demais, a superfície escura estava quase parada, mas um ruído chamou sua atenção, um gemido longo e agonizante fez seu corpo estremecer e seu coração disparar, mas antes que começasse a correr, barulhos que pareciam pedras gigantes despencando das árvores o cercaram por todos os lados, as batidas de seu coração se tornaram tão altas quanto o baque surdo do peso desconhecido contra o chão.

Com as pernas travadas, e com o medo gelando a espinha, começou a rezar, aquilo com certeza era coisa de outro mundo, se lembrou da cruz que viu a beira da estrada e um vento frio o atingiu novamente, nesse momento conseguiu forças nas pernas trêmulas e subiu até a ponte na esperança de fugir dali, mas encontrou... flutuando a dois metros do chão, um crânio branco e brilhante... os olhos do homem se arregalaram, as pernas parecem que o abandonaram e ele caiu sobre os joelhos, foi quando um cadáver quase que totalmente decomposto, com roupas em trapos atravessou a ponte se arrastando em direção da cruz, deixando um rastro de sangue podre por onde passava... o homem perdeu os sentidos desfalecendo no meio na estrada escura.

Em um sonho turbulento o homem conversou com um senhor de barba e cabelos brancos que se dizia o guardião da ponte, e que embaixo daquela cruz havia um tesouro enterrado...

Ao acordar o homem, olhou para os lados em busca dos fantasmas que o assombraram, mas se viu sozinho no escuro silencioso da madrugada, andou até a cruz encoberta pela vegetação, e começou a cavar com as próprias mãos, não demorou muito até encontrar uma corrente de elos finos, vermelha como a terra, puxou o objeto até se deparar com circulo maciço, ao passar os dedos em sua superfície sentiu o relevo que exibia um senhor de barba longa, o medalhão do seu velho pai... o homem confuso se afastou da cruz e então entendeu, passou a mão na cabeça e encontrou um buraco feito pela pedra na estrada... ele se lembrou... estava morto há anos...

Eliane Verica
Enviado por Eliane Verica em 23/07/2012
Reeditado em 15/06/2013
Código do texto: T3792586
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