Livro de Cabeceira
Os noticiários informavam à respeito de um perigoso criminoso, que rondava por aquelas bandas. Mas sabe quando ouvimos ou assistimos a uma notícia e parece não ter nada a ver com a gente? Pois é, assim que sempre me senti ao ver esses noticiários policiais. Pra falar a verdade, nunca gostei de telejornais.
Subi até o quarto e meu marido Caio já havia pego no sono. O coitadinho estava tão cansado que certamente seria mais uma daquelas madrugadas cercadas de muito....sono, apenas sono.
Coisas pessoais à parte, realizei meu ritual noturno. Tomei meu copo de leite, escovei meus dentes e folheei algumas páginas do meu livro de cabeceira. Sono veio, apaguei o abajur e adormeci.
Uma forte chuva começou a cair. Nossa cama quentinha, o quarto aconchegante e os respingos no telhado. Só não foi melhor porque não rolaria nada.
No meio da noite ouvi o ruído de algumas goteiras, vindos do corredor. A porta estava fechada, mas dava para ouvir, pois o velho assoalho de madeira era perfeito para ecoar.
Mais uma goteira! Defeitos na velha casa, herdada dos pais de Caio.
Pensei em me levantar e colocar no local uma bacia, para que aquele piso de madeiras nobres não se estragasse com a água, mas estranhamente eu sentia muito medo. Não me levantei. O barulho estava tão irritante que não me deixava dormir. Mexi com Caio chamando-o, mas dormia como uma pedra. Mexi no abajur e este não acendeu. O velho rádio relógio também estava apagado. Acabou a energia, pensei.
Meu sono oscilava entre cochilos e despertares constantes. Era hora de agir. Tomei coragem e me levantei. Cuidadosamente caminhei usando apenas a luz do celular. Abri a porta. Os ruídos se tornaram ainda mais intensos.
De repente, avistei a cena mais terrível de toda a minha vida, e comecei a gritar. Caio estava pendurado no batente da porta do banheiro, preso por um pedaço de fio atravessado em seu pescoço, pelo qual pingavam as gotas de sangue.
Com as mãos trêmulas e muitas lágrimas caminhei de costas em direção ao quarto. A luz se acendeu. No espelho do quarto havia inscrições em sangue, que diziam: “Posso ser tão quente quanto seu marido”.
Ao me virar lentamente em direção à cama, o lençol levantou-se lentamente, e dele saiu uma criatura terrível, com olhos vermelhos. Nesse momento gritei e meu marido levantou assustado.
Mais um daqueles malditos pesadelos! Caio se levantou e buscou um copo com água e açúcar. Fui me acalmando devagar até sentir sono e voltar a dormir. Antes, tive o cuidado de guardar meu livro de cabeceira bem longe da cabeceira. Seu título? “Posso ser tão quente quanto seu marido”, escrito por um autor, morto asfixiado enquanto dormia.