Brava

Eram tempos sombrios, ninguém na aldeia ousava desobedecer as ordens impostar pelo Coronel. As estradas estavam fechadas, foras derrubadas arvores gigantescas para o bloqueio da passagem. Todas as casas estavam trancadas, e precisamente seguras. Todas menos uma, uma velha senhora descansava em seu leito, com a porta e as janelas abertas. Balançando-se na cadeira ela lia seu enorme livro de histórias, histórias infantis é claro.

A velha não estava contente, era fácil encontrar em sua expressão um ar de desapontamento. Seus olhos se moviam como uma serpente próxima ao bote. Ela olhava para a porta como se soubesse que algo de estranho iria acontecer.

Era aquela casa, uma das mais pobres da aldeia. Seria essa velha, uma indigente que recebia dinheiro do coronel. Seu nome era Brava, não, ela não era brava. Sua mãe era psicoticamente louca e pôs o nome da filha assim , até aquela época, tratavam os loucos como iguais.

Brava permanecia lendo seu livro, mesmo quando sons estranhos impediam sua atenção de se concentrar na história. Não era uma voz ou sequer um barulho, era uma musica. Uma musica tocada a harpa que fazia com que todos os nervos da pele se estabilizassem em tranquilidade.

Apesar da musica ser calma, era assustadora. Seus altos e baixos constituíam uma canção de Horror perfeita. Essa musica não possuía origem, ela vinha do céu ou da terra e vagava pelos campos e arvores a Kilômetros dali. Brava estava hipnotizada pela musica e não sabia como fazer aquilo parar, seu coração estava começando a se prender a canção.

¬ ¬Por que ninguém ouvia? Brava não se arrependia de estar ouvindo aquela musica, estava arrependida de saber o que iria acontecer depois, estava arrependida por ser tola e pensar que um livro de histórias infantis iria bloquear a passagem deles.

— Saiam daqui! — Ela implorava aos berros. Se erguendo da cadeira com um só impulso seu corpo flutuou contra a porta e se chocou com o rosto de alguém que ela não queria ver. Os olhos negros encontravam-se vazios. A pele clara permitia a lua vacilar, sua boca vermelha não coincidia com o normal e ainda seus cabelos loiros eram longos e imprescindíveis.

Como todos na aldeia sabiam, Ela não era humana. A mulher estava vestida a rigor, como se estivesse saindo de uma festa. Suas mãos estavam sujas de terra, em seus braços era visível marcas de espancamento. Não havia apenas uma ali, Brava sabia que eles agiam em bando. Uma criança estava ao seu lado, tão bela quanto a mulher. Os olhos negros sem vida, eram dignos de pena e seu sorriso melancólico possibilitava a qualquer um cair em eterna depressão.

Brava sabia que aqueles seriam seus últimos minutos de vida, talvez últimos segundos.

A mulher olhou para a criança que agiu sem exitar, pulando sobre a velha e mordiscando sua face. Brava não gritou, por que se gritasse seria muito pior, ela apenas deixou-se levar pela criança e as duas dançaram uma ultima passada para morte.

A criança não poupou nem seus olhos que foram delicadamente retirados e devorados como se fossem balas deliciosas. O rosto deformado de Brava não permitia-a mais viver. Os bárbaros atacavam outra vez a cidade , querendo vingança...

Brava não era uma vitima, deixara-se levar pela sua vitima. A criança fora morta pelas suas próprias mãos. Talvez ela se lembre de algum trecho do livro, aliás, um livro que mentia dolorosamente.

Tainan sOliveira
Enviado por Tainan sOliveira em 19/07/2012
Código do texto: T3786602
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