A NOIVA III- Invocações Diabólicas

-Sabe que precisamos dos seus serviços,apesar da presença do Abade e dos seus auxiliares.

Disse a Soror, com voz embargada e demonstrando uma excitação que estava além do imaginário para uma serva da igreja. Olhava a bela jovem dos pés á cabeça - fixou o olhar em seus pomos empinados.

-Além da meia-noite as coisas acontecem. Estão sozinhas, ou mais irmãs aguardam uma noite de prazer sem medidas?

Indagava a linda jovem, com voz repleta de ironia e deboche.

- Todas que precisam dos seus serviços aguardam. As que a amaldiçoam estão com os joelhos no chão, orando e desejando que seja descoberta e posta na fogueira..

Não creio que tenha a noção real do que representa para esta casa.

Disse, de forma amarga. Voz quase inaudível. Segurava-a pelos ombros.

A chuva desenfreada desenvolvia a sua sinfonia noturna. Uma noite fria e escura. O quarto era pequeno, com poucos móveis, além da cama. Um criado-mudo, um pequeno guarda-roupa, mais uma mesinha defronte a uma pequena estante repleta de livros. Tinha um pequeno banheiro com uma santina para excrementos humanos.

-Trouxeram os instrumentos necessários?

Indagava a jovem às freiras.

De uma cesta, exibiram uma vela preta, uma vermelha.

Disse a enclausurada, em voz alta:

- Eu vou invocá-los. Fiquem em silêncio.

Acendeu as velas, com desmedida paciência. E disse, sussurrando:

"Eu, Marie Adelaide invoco e dou autorização a espíritos sexuais que assumam uma aparência cativante do gosto dos meus sonhos e proporcionem momentos de prazer intenso nesta noite para todas que assim o desejarem. Assim seja para todas as irmãs deste convento, que ardem em desejos proíbidos e que adorariam experimentar as delícias do sexo, sem medidadas, sem controle, sem pudores."

Em seguida, balbuciava palavras desconexas, inaudíveis em uma linguagem desconhecida, talvez fosse Aramaico, ou Hebraico. Enquanto acendia mais velas, uma próxima da outra, de modo que as suas chamas misturassem-se e banhassem-se ao derreterem. Um incenso de canela foi aceso e inundava o ambiente com o seu cheiro inconfundível. Ela continuava a sussurrar palavras inaudíveis

A chuva desencandeava-se, de forma torrencial.

- Aceitam cederem as suas energias para que os INCUBUS e SUCCUBUS tomem proveito dos seus corpos, de suas energias e se materializem nesta casa por uma noite ardente?

- Aceitamos.

Disse a Soror - uma delas tremia de medo, insegura.

- Pare de orar sua idiota, imbecil. caso soubesse que temia e tremeria feito uma vara verde, não a aceitaria entre nós.

-Está atrapalhando a minha invocação. Precisamos de ardência entre as pernas, senhoras.

Ralhou a jovem para a freira.

A jovem freira sentou-se no chão, aos prantos. Parecia estar em desepero, como se temesse a presença do Capeta, em pessoa entre elas. O coração em descabelada carreira, a respiração ofegante.

-Não poderei continuar com esta mulher por aqui...

Disse a jovem, sentando-se na cama. As mãos postas no colo, os olhos semi-cerrrados.

A Sororo a pegou pelas mãos. Erguea-a, e deu alguns gritos, assustando-a.

-Disse que queria, disse que ardia em desejos por toda noite, e que precisava experimentar as delícias do sexo.

-Eu quero, mas não com o Demônio, quero um homem de verdade, um homem como outro qualquer...

falava a jovem freira, aos prantos, em total desequilíbrio.

As duas freiras sacudiram-na, esbofeteando-a, com rigor. Jogaram-na no chão. Arrastaram-na pelos corredores e a jogaram num canto escuro do corredor, longe do quarto da Noiva.

- Não poderemos invocá-los,não há energias para tal. Esta imbecil orou, Não há energias propícias para tal.

As duas freiras fizeram carrancas em suas faces.

-Sinto muito...

A Soror mordeu os lábios e num lance rápido, de forma veloz deu uma bofetada no rosto da jovem , lançando-a na sua cama.

-Permaneça por aqui, até o Abade partir, dê sorte por ele não tê-la descoberto. sabe o que lhe aconteceria. E, se a invocação não aconteceu por que deboche de mim, ai de você.

Então, as duas levantaram a terceira freira do chão, puxando-a pelos cabelos, de forma violenta. Esta se desmanchava em lágrimas. Era levada pelos braços aos trancos, de forma furiosa. Beliscões eram dados nos braços. E tapas nas costas, seguidos de murros que explodiam pelos corredores silenciosos.

-Ficará no quarto escuro, de castigo.

- Não, irmã, por favor, não faça isso comigo.

Seguiram pelos corredores escuros a passos lentos. Morcegos bailavam pelas suas cabeças. A chuva la fora não dava trégua. A jovem Noiva fazia invocações, em sussurros, incessantes. A sua voz foi se tornando inaudível a cada passo dado pelas freiras, distanciando-se dali.

(Continua)

Leônidas Grego
Enviado por Leônidas Grego em 14/07/2012
Reeditado em 26/08/2012
Código do texto: T3778253
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